Desde que a empresa Manoa iniciou suas obras, moradores do bairro de Vila Rica, bairro periférico de Petrópolis (RJ) com cerca de 4 mil famílias, lutam por moradias e melhores condições de vida na região.
Juliana Auler
PETRÓPOLIS (RJ) – Moradores do bairro de Vila Rica, bairro periférico localizado na cidade de Petrópolis, RJ, Pedro do Rio se organizam para lutar por melhores condições de vida e moradia digna. Vila Rica é um bairro próximo de Itaipava, distrito petropolitano conhecido pela alta concentração de casas de veranistas, em geral, cariocas ricos que buscam desfrutar de um “descanso na serra”.
É nesse cenário que se insere o caso do bairro. Em 2016, a construtora Manoa começou uma obra em um terreno na parte alta da região. A obra contava com uma série de irregularidades, desmatando uma grande área verde e causando transtornos para os moradores.
Sem pensar em sua segurança, a obra foi feita de forma que a terra na temporada de chuvas invadiu a casa de uma série de moradores, fazendo com que perdessem móveis e, nos casos mais graves, suas casas. Em 2017, foram feitas vistorias na obra que levaram ao seu embargo. Apesar disso, as obras continuaram de maneira ilegal.
Essa obra criminosa, que prejudica toda a vida no bairro, está ameaçando a segurança dos moradores. Mais casas podem ser afetadas, a área da creche e também o córrego na parte baixa, que pela falta de galeria, já traz uma série de problemas.
Petrópolis é também uma cidade marcada por ser uma cidade que sofre com as fortes chuvas no final do ano, que causam desabamentos, enchentes, com famílias atingidas todos os anos. Além disso, é uma cidade com especulação imobiliária, com seu espaço urbano pensado para membros da elite terem um espaço mais bucólico para morar.
Movimentos sociais promovem lutas e garante vitórias
Foi nesse contexto que a Unidade Popular (UP), o Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas e o Movimento de Mulheres Olga Benário se aproximaram da luta do Vila Rica. Desde final de 2020 são feitas reuniões com objetivo de propor uma solução que de fato contemple as necessidades dos moradores.
Essa luta contou também com o apoio do vereador Yuri Moura, do PSOL-RJ, que propôs uma Audiência Pública para debater uma solução social para o caso. Foi organizado um calendário de mobilização para a audiência, que contava não só com a distribuição de panfletos, mas com uma pesquisa, para que pudéssemos entender as principais demandas do bairro, além da obra, a poluição do córrego, falta de lazer para crianças e jovens, o lixo, entre outros.
No dia 25 de outubro, a audiência pública foi realizada com a presença de 15 famílias. Além dos dos moradores, estiveram presentes o advogado da empresa, representantes das Secretarias Municipais de Obras e Meio Ambiente. Nela, foi possível notar o rechaço da comunidade em relação à empresa. Eles colocaram seu interesse de vender terrenos acima do direito à moradia digna para os moradores e também o descompromisso da prefeitura em garantir que a obra de fato não continuasse.
Como resultado da Audiência, será organizado um grupo de trabalho com representantes dos moradores junto com a Prefeitura, Ministério Público Federal e Estadual.
No último final de semana de novembro foi também realizada uma reunião de avaliação das ações e de eleição de representantes da comunidade para participarem junto à Comissão de Direitos Humanos da Câmara de um grupo que discutirá a situação do bairro e irá propor uma solução. A reunião contou com cerca de 20 moradores. A formação desse grupo junto à comissão foi uma das deliberações da audiência pública.
Na reunião, foi relatada a dificuldade de apoio na luta. O jornal A Verdade recolheu depoimentos dos moradores: “Só vocês da UP e do MLB apoiam nossa luta, a associação dos moradores nem existe”, relatou Rosana, que mora no bairro há mais de 30 anos. “Antes da empresa a gente não tinha esses problemas, a gente não quer que ela melhore o bairro, a gente quer que ela vaze”, completou.
Viviane, uma das atingidas pelos deslizamentos diz que um dos desafios é despertar outros moradores para manterem o zelo pelo bairro, mas que a postura da prefeitura de ignorar os problemas dificulta tudo. Na reunião foi destacado também que a empresa está fazendo uma estratégia de jogar morador contra morador, tentando enfraquecer a luta coletiva.
Este é mais um dos casos em que há uma prefeitura que ignora o direito à moradia digna, se colocando ao lado de uma construtora privada e da especulação imobiliária. Antes da obra, a casa das pessoas não era tomada por lama na época de chuvas no bairro, mostrando que de fato o problema é a obra. A luta dos moradores não é apenas que a empresa saia, mas que quem teve perdas seja ressarcido e que o bairro tenha condições dignas de habitação.