A FHE (Fundação Habitacional do Exército) e a sua Associação de Poupança e Empréstimo (POUPEX) estão destruindo a área de mata atlântica de Realengo. O objetivo é a construção de um condomínio para os ricos da cidade, desconsiderando as opiniões e desejos da população que mora no bairro.
Diovana Nogueira Marino e Victor Castro
RIO DE JANEIRO (RJ) – No bairro de Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, militares estão promovendo um intenso desmatamento na região. Uma área de mata atlântica presente no solo no terreno da antiga fábrica de cartuchos está sendo ameaçada de morte.
Com a construção do condomínio, se perderia uma das últimas áreas verdes no meio da área urbana, Além disso, seria um impedimento ao acesso dos moradores para uma grande área com bastante potencial de cultura e lazer da Zona Oeste.
Os trabalhadores se organizaram e lutaram pela conquista do terreno, reivindicando 100% de posse. Como a medida não foi atendida, foi organizado um evento por uma iniciativa do grupo Lata Doida e outros coletivos locais com apoio da Casa Fluminense, onde se iniciou a ocupação da lateral pública abandonada da área. Nela foi construído um pequeno parque com gramado e brinquedos para as crianças, onde os moradores poderiam também centralizar suas ações e demonstrar as suas presenças na luta.
Isso incentivou os moradores a continuarem com suas reivindicações. Então o prefeito Eduardo Paes e seu secretário do meio ambiente propuseram dividir o terreno na metade, onde 50% seria da empreiteira para construir o condomínio e os outros 50% seriam um parque para os moradores.
Porém, esse parque que o prefeito sugeriu seria do próprio condomínio, e se este iria permitir que os moradores de fora entrassem com ou sem pagar, pouco importa. Um terreno público é propriedade de todos, e não de uma empresa privada que constrói moradias apenas para a elite habitar.
E mais uma vez percebemos que o interesse de nosso prefeito não está nem um pouco ligado ao interesse da população local. Está apenas associado a voto de favor, regalia e dinheiro, em detrimento da qualidade de vida do brasileiro. A zona oeste é diariamente descartada. É preciso impulsionar a voz desses moradores, de suas pautas e questões.
Moradores se organizam contra projeto de destruição
E o povo vai à luta. No evento Kilombo Verde, Realengo se manifesta, com encontros que unem toda a população local, com música, apresentações culturais, rodas de conversa, piqueniques e feirinhas. Além disso ocorreu um ato no dia 20/12, aniversário de Realengo e dia da Consciência Negra, trazendo força para essa população marginalizada e majoritariamente negra da do bairro.
Nessa data, a população rodeou o parque, com carro de som e marchinhas, o povo parou, filmou, observou, foi um grande episódio de movimentação popular e que continuará em luta.
“Ô general, vem sentir esse calor
E entender que não tem cabimento
Passar por cima do sonho do morador
Para construir o seu bloquinho de cimento “
É lindo ver as crianças correndo e brincando, pessoas confraternizando sobre o verde das copas das árvores. Os moradores da Zona Oeste carecem de áreas de lazer, esporte e cultura. Muitos precisam se deslocar num péssimo transporte público por horas para chegar em outros locais.
A preservação dessa área de Realengo, é mais um suspiro que a Zona Oeste do Rio de Janeiro faz. É necessário fortalecer a população local, pobre e negra. Cuidar do meio ambiente, é cuidar do lazer e da saúde mental da população. Um estudo realizado no Brasil, pela UnB (Universidade de Brasília), constatou que o ambiente natural traz maiores sensações de felicidade e alívio do que o urbano.
Porém, mesmo com tanta importância, mesmo a natureza sendo a base da nossa existência, mesmo com a necessidade de se retirar os seus recursos naturais com moderação, a nossa fauna e flora padecem com a ganância da burguesia. Segundo a ONU, para reverter essa situação caótica: “o mundo precisa implementar mudanças urgentes e dramáticas na sociedade, na economia e na vida diária das pessoas e pede mudanças no que o governo tributa, em como as nações valorizam a produção econômica, em como a energia é gerada, em como a agricultura e a pecuária são geridas, na maneira como as pessoas se locomovem e no que elas comem.” A verdade é que apenas acabando com a propriedade privada e o capitalismo poderemos acabar com o desmatamento.
A arte como forma de denunciar o desmatamento
Evidenciando toda a força do povo e importância do meio ambiente, com pouco recurso e sem apoio externo, o grupo musical Lata Doida e a Gaby Rocha produziram curtas metragens que expressam suas convicções ideológicas. O curta Chapeuzinho Verde na Mata Atlântica foi gravado em 2017, com um roteiro simples, mas muito efetivo em passar sua mensagem: a preservação das áreas verdes.
Nesse curta gravado no Maciço da Pedra Branca, chapeuzinho verde caminhava até a casa de sua avó quando se depara com diversos animais desolados com a degradação de seu habitat, agora juntos, eles devem investigar quem é o responsável por essa destruição. Mesmo com uma conotação fantasiosa e infantil, o filme consegue prender a atenção do público mais vivido com as ótimas músicas, caracterizações e roteiro.
As obras dos moradores são realizadas com muita competência e conteúdo de qualidade, trazendo à tona que há cultura e ótimas obras sendo produzidas nos nossos bairros, nas periferias, comunidades e nos subúrbios. Há conteúdos incríveis espalhados pelo Brasil e é preciso dar valor a esses grandes produtores de conteúdo.
Procurar materiais nacionais e independentes, música, arte, lazer, para que cada vez mais possamos largar nossas influências dos conteúdos criados pelas grandes mídias burguesas. Além disso, é uma excelente forma de denunciar os abusos cometidos pelos ricos.