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sexta-feira, 29 de março de 2024

A gravidade, os buracos negros e a necessidade de uma alternativa socialista nas eleições de 2022

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FORÇA DO POVO. Para a UP, Bolsonaro só será derrotado com povo na Rua (Foto: JAV/Rio)

As candidaturas da Unidade Popular (UP) cumprem um papel disruptivo na conjuntura atual. Reafirmam pautas históricas da classe trabalhadora, se contrapõem à direita fascista e à socialdemocracia, com sua histórica submissão dos interesses legítimos do povo ao grande capital. Elas ocuparão um espaço na disputa política, influenciando as pautas da sociedade e despertando consciências para o socialismo. 

Raul Bittencourt Pedreira
Rio de Janeiro


OPINIÃO – A gravidade é o fenômeno de atração que comanda a movimentação dos objetos e foi identificada por Issac Newton, em 1687, sendo aprofundada por Albert Einstein quando a abordou no âmbito da Teoria da Relatividade. Ela faz com que os corpos se atraiam mutuamente e quanto maior a sua massa, maior sua atração gravitacional. Assim, nós somos atraídos para o centro da Terra, a Lua se mantém em órbita e os planetas permanecem em órbita em torno do Sol. É a mesma força que move os buracos negros, antigas estrelas colapsadas, que atraem e aniquilam tudo ao seu redor.

O peso (influência) político, social e/ou econômico de algumas pessoas e organizações exerce um papel similar ao da gravidade, atraindo pessoas e ideias para suas causas. Assim, Lula e o PT atraem outros partidos e organizações para sua órbita por terem grande peso político.

Bolsonaro, por sua vez, exerce o mesmo papel. Também ele e Lula se atraem mutuamente fazendo com que o primeiro busque a implementação de políticas sociais e o segundo caminhe para alianças “amplas” com setores da direita. Mais do que isso, a gravidade política de Bolsonaro, com direito ao trocadilho, atrai setores que, originalmente de esquerda, pendem cada vez mais para o centro ou para a direita na busca de um falacioso “meio termo”.

Um exemplo é a possível chapa Lula/Alckmin, clara representação deste fenômeno, que busca por alianças à direita, outrora impensáveis, e que muitos petistas defendem como indispensável para derrotar Bolsonaro, mas que não ameaça o liberalismo econômico, fundamento de seu “governo”.

As articulações de Ciro Gomes seguem a mesma linha, buscando conciliar interesses inconciliáveis e ressuscitar um discurso nacional-desenvolvimentista que sequer encontra eco na burguesia brasileira.

Afinal, não foi essa direita que, em 2016, deu o golpe em Dilma, mesmo após todas as concessões feitas pelo governo petista ao grande capital? Não foi essa direita “democrática” que ajudou na ascensão da extrema-direita e apoiou o fascista Bolsonaro em 2018? Qual será o programa de governo que contemplará simultaneamente a burguesia e o capital financeiro, de um lado, e os trabalhadores e as massas excluídas, do outro?

Ora, a luta de classes não é apenas um argumento teórico, mas um fato cotidiano que traduz a constante contraposição de interesses entre a burguesia e o proletariado. Fato comprovado pelo colapso do governo Dilma, que funcionou como um buraco negro, destroçou a “esquerda” nas eleições, possibilitou vitórias eleitorais à direita e construiu um dos congressos mais atrasados da história, mas ágil em aniquilar direitos do povo.

Até agora, as simples promessas saudosistas de “comer picanha no churrasco” ou “viajar para a Disney” parecem ser capazes de se converterem em ganhos eleitorais e contraporem à catástrofe que é o governo Bolsonaro. Mas e se a promessa de vida melhor para todos não se materializar? As grandes massas da classe trabalhadora permanecerão caladas? As organizações que canalizarão a indignação popular estarão novamente na extrema-direita, como no Brasil de 2016, ou serão socialistas, como na Rússia de 1917? Este buraco negro tragará a todos? 

Entre os lucros do grande capital e as necessidades do povo, o que um governo de aliança com a direita escolherá?

A história nos mostra que, infelizmente, é sempre o povo que paga a conta. Logo, é indispensável que seja apresentada uma alternativa para a sociedade, um contraponto ao capitalismo e à conciliação de classes, mediante um programa socialista, de transformação das estruturas econômicas, revertendo o desmonte dos direitos sociais e do Estado, para “dar gravidade” aos setores mais avançados da classe trabalhadora organizada, que anseiam por uma mudança na realidade de fome e miséria ao qual estão submetidos. Não apresentar uma alternativa é incorrer no erro de acreditar que é possível conciliar interesses de classe antagônicos e inconciliáveis.

UP é uma força que cresce no Brasil (Foto: JAV/Rio)

A atração gravitacional é vencida toda vez que um satélite é posto em órbita da Terra ou uma sonda é enviada a outros corpos celestes, mas tudo isso demanda muita energia para acelerar os foguetes superando a gravidade. Quanto mais alto e longe queremos ir das forças que nos atraem “para baixo”, mais energia precisamos despender; e este ano precisaremos de muita! 

Assim, as candidaturas da Unidade Popular (UP) cumprem um papel disruptivo na conjuntura atual. Reafirmam pautas históricas da classe trabalhadora, se contrapõem à direita fascista e à social-democracia, com sua histórica submissão dos interesses legítimos do povo ao grande capital. Elas ocuparão um espaço na disputa política, influenciando as pautas da sociedade e despertando consciências para o socialismo. 

O que a física nos ensina é que mesmo um corpo com massa menor pode ao longo do tempo influenciar a trajetória de outro maior; e quanto mais massa, maior a influência. Assim, o que é verdade na ciência, também é verdade na política!

Evidentemente, enfrentaremos dificuldades e ataques de setores que tentarão invisibilizar essas candidaturas, por serem alternativas às candidaturas da burguesia. Tal fato demandará de toda a militância combativa grande energia, combatividade e disciplina para divulgar o programa da Unidade Popular, construir as candidaturas na massa e fazer a agitação comunista, construindo-se como alternativa para classe trabalhadora e superando a “atração gravitacional” exercida pela velha política, que falsamente coloca como única opção para o povo a escolha entre o “sim” e o “sim senhor”. 

Como diz a letra da Internacional, “façamos nós por nossas mãos tudo o que a nós nos diz respeito”!

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