Reproduzimos artigo originalmente publicado pelo jornal Evrensel, do Partido do Trabalho da Turquia (EMEP), sobre o golpe militar ocorrido no último dia 24 de janeiro, em Burkina Faso.
Elif Görgü
Istambul, Turquia
INTERNACIONAL – As repercussões do golpe militar da noite de 24 de janeiro continuam em Burkina Faso, país da África Ocidental que está sob ataque de grupos terroristas jihadistas há muito tempo e cujo governo perdeu apoio popular.
Entrevistamos um dos dirigentes do Partido Comunista Revolucionário Voltaico (PCRV) sobre o processo golpista. Por questões de segurança, seu nome não será revelado.
O tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, que integrou as tropas de proteção presidencial durante o governo do ditador Blaise Compaoré, que renunciou em 2014, após protestos contra a tentativa de se tornar presidente pela quinta vez, é o chefe da nova junta militar. Imediatamente após a tomada do poder, Damiba anunciou o fechamento das fronteiras e um toque de recolher das 21h às 5h.
Em que condições o golpe ocorreu?
Segundo o PCRV, o golpe em Burkina Faso ocorreu em condições de desastrosa crise política, econômica, social e de segurança para o proletariado, o povo e a juventude trabalhadora. O governo do Movimento Popular para o Progresso (MPP) se tornou incapaz de responder ao aumento dos ataques promovidos por grupos terroristas. Além disso, enfrentou grande oposição nas Forças Armadas por não garantir as condições mínimas de combate aos soldados que estavam na linha de frente da luta contra as organizações terroristas. Para se ter uma ideia, em novembro passado, 49 militares ficaram sem água por duas semanas durante cerco à cidade de Inata, no sul do país.
“Esta foi a gota d’água que expôs à opinião pública o nível de desintegração do exército neocolonial, levando à grandes reações entre o público e a juventude trabalhadora e manifestações em muitas partes do país”, disse o dirigente comunista.
Quem são os militares que tomaram o poder?
A sublevação das Forças Armadas contra o governo, principalmente na capital Uagadugu e nas cidades do centro e norte do país, na noite de 23 para 24 de janeiro, foi motivada pela crise vivida pela nação africana. O grupo golpista, que manipulou a revolta popular para seus próprios interesses, já fazia um esforço intenso para alcançar seus objetivos dentro do exército. Após longas negociações entre diferentes facções da ala militar da burguesia reacionária, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba realizou o golpe.
Os objetivos do golpe
Este golpe reacionário foi promovido e conta com o apoio do imperialismo francês e seus agentes em Burkina Faso. É uma tentativa de se livrar do então presidente Roch Kabore, cuja permanência no poder levaria inevitavelmente a uma revolta popular e até mesmo a uma crise revolucionária, e assim salvar o sistema neocolonial existente no país.
Um dos principais objetivos do golpe é suprimir o avanço da luta popular e restaurar novamente a “autoridade estatal neocolonial”. Apesar da crise de segurança e das ameaças terroristas, o espírito do levante popular de outubro de 2014 ainda está vivo e perturba muito os imperialistas e seus aliados locais – estejam eles no poder ou não.
“Estamos testemunhando o aumento das lutas dos trabalhadores, que inclui milhões de camponeses, trabalhadores urbanos, dos setores público e privado e até policiais e soldados”, afirma o representante do PCRV.
Em uma declaração pública, os membros da junta militar disseram que respeitariam as potências imperialistas, especialmente o imperialismo francês, e “respeitar os compromissos internacionais de Burkina Faso”, ou seja, cumprir os acordos neocoloniais, acordos que permitem que unidades militares estrangeiras invadam o país, renunciando à soberania e integridade territorial nacional.
Influência imperialista
O imperialismo, especialmente o imperialismo francês, tem uma grande responsabilidade pelo que está acontecendo em Burkina Faso. O golpe é dirigido pelo imperialismo. Estão usando a burguesia reacionária e suas facções militares para garantir seus próprios interesses geoestratégicos e econômicos. Para isso, promovem o caos e atiçam uma guerra civil reacionária.
Segundo o PCRV, “este golpe militar reacionário não pode oferecer nenhuma solução para a pobreza e angústia da classe trabalhadora e da juventude e para os problemas das pessoas que tiveram que fugir de suas casas devido aos ataques terroristas”.
E continua: “A classe trabalhadora e os diferentes setores do povo têm enormes desafios contra esta grave e complexa situação que nosso país está passando e a falência do neocolonialismo. É preciso denunciar o golpe reacionário realizado contra o movimento democrático revolucionário, defender as liberdades democráticas e sindicais, denunciar a ameaça dos grupos terroristas e os crimes cometidos pelas forças de segurança, lutar pela saída imediata das tropas estrangeiras do nosso país e organizar a unidade popular contra o golpe, o terrorismo, o imperialismo e pela revolução em Burkina Faso”.