Chuva em Petrópolis deixa dezenas de mortos e centenas desabrigados

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TRAGÉDIA. Corpo é retirado por bombeiros na barreira que atingiu o Morro da Oficina, em Petrópolis (Foto: Alexandre Kapiche/G1)

Temporal deixou mais de 100 mortos e centenas de famílias desabrigadas. Grande parte da cidade ainda está sem luz nem água. Se os governos investissem em obras de prevenção e moradia digna, tragédias como essa poderiam ser evitadas.

Christian Vincenzi
Petrópolis (RJ)



RIO DE JANEIRO – O forte temporal que atingiu Petrópolis ontem (15) deixou mais de 100 mortos e centenas de famílias desabrigadas. Em seis horas, choveu mais que o esperado para o mês inteiro na cidade. A maioria das vítimas morava próxima ao Morro da Oficina, no bairro Alto da Serra. Grande parte da cidade ainda está sem luz nem água.

A força da correnteza arrastou carros e assustou pedestres e comerciantes. Muita gente ficou ilhada, sem poder transitar pelas ruas e utilizar o transporte para voltar pra casa.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram casas destruídas após o deslizamento de uma encosta, além de ruas e praças completamente inundadas. A Escola Municipal Alto da Serra (EMAS) desabou. Relatos apontam também que desabou o prédio do Ensino Médio do Colégio Ipiranga, sem feridos.

Descaso possibilitou tragédia

Esse é, infelizmente, mais um de tantos episódios de tragédias e mortes na Região Serrana do Rio de Janeiro. Já são muitas décadas de um problema recorrente. Mas, assim como em diversos locais de nosso país, os governos, inseridos na lógica do sistema capitalista, não conseguem dar resposta ao povo, que sofre e morre com estas tragédias.

A maioria dos políticos se interessa em eleger-se e promover-se em meio às tragédias e insatisfação, na realidade representando o interesse dos mais ricos e favorecidos, que não são afetados com este tipo de situação.

A especulação imobiliária, que cobra altos preços nos centros com melhor estrutura, a falta de planejamento e de uma política de moradia popular, fazem com que se desmate as áreas de encosta, potencializando as condições de deslizamento e inundações.

Já abordamos isso em outro momento neste jornal, à época dos deslizamentos e destruição de casas no bairro Vila Rica, em que a prefeitura e a secretaria de obras se mantiveram omissas até se depararem com a mobilização de moradores.

É certo afirmar que em dias que ocorrem tragédias como esta, e em que não temos um número determinado de mortos, desaparecidos e de famílias sem casa, a solidariedade do povo é reforçada. Muitos já se mobilizam criando pontos de apoio e deixando suas casas e lojas à disposição na região central da cidade e se colocando à disposição para receber doações.

Quem é o maior interessado em resolver de vez os problemas habitacionais e de prevenção de deslizamentos na cidade é o próprio povo. Há muito poderiam ter sido analisadas as áreas com risco de deslizamento; poderiam ter sido encontradas soluções sociais justas relativas às habitações, impedindo tragédias. Chuvas torrenciais não são meras causas para um desastre, são processos naturais e acontecem de tempos em tempos, e os grandes avanços tecnológicos mostram que soluções existem para prevenir estes problemas em qualquer parte do mundo. O erro está em vivermos num sistema governado por elites, que não sentem estes efeitos.