UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Estudantes da UNESP fazem paralisação em Franca por moradia e transporte

Outros Artigos

Foto: Reprodução

Na noite da última terça-feira (22), estudantes da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), entraram em paralisação no campus de Franca, interior paulista. A paralisação foi feita em reivindicação de melhorias imediatas na moradia estudantil do campus e do transporte para os alunos.

Redação São Paulo


Direção da UNESP não cumpriu compromissos assumidos com os estudantes

Em junho de 2021, em meio a pandemia da COVID-19, a UNESP de Franca anunciou que a moradia estudantil passaria por uma reforma, tendo em vista que o prédio não possui alvará dos bombeiros e os moradores estavam expostos as inseguranças físicas no espaço.

Após essa informação, a reforma da moradia começou em novembro do mesmo ano, com a direção da UNESP dando a garantia de que estaria completa até fevereiro deste ano, antes do retorno das atividades presenciais e, também, que os alunos que não estavam em Franca teriam a garantia de que seus pertences seriam lacrados e guardados corretamente. O prazo foi sendo adiado, o último prazo dado foi de que entregariam o 3º andar do prédio da moradia no dia 17 de março, mas entregaram apenas no dia 22, sem previsão para os outros andares.

Em entrevista ao jornal A Verdade um morador, que preferiu não se identificar, relatou: “eles” – a direção da UNESP – “disseram que filmariam lacrando as caixas, então não precisaríamos ter preocupação com os pertences. […] A UNESP tinha se responsabilizado pelos nossos pertences, porém ficaram no prédio que está em reforma e, obviamente, ficaram destruídos, cheios de pó e alguns até mesmo sumiram. Os colchões também ficaram expostos a essa situação e a UNESP só se comprometeu de entregar novos a partir de 25 de abril, sendo que os colchões que eram dos moradores foram perdidos. “

Tais promessas não foram cumpridas, o retorno presencial chegou e a reforma não estava pronta, gerando uma superlotação dos blocos, com moradores dormindo no chão. Os próprios alunos não permitiram que nenhum morador ficasse para trás sem uma certeza de lugar para morar, cedendo todo o espaço possível para garantir um teto para os estudantes. “Eu, por exemplo, estava em um quarto para duas pessoas, com duas camas e um colchão no chão debaixo de uma bancada, mas tinha quartos que estavam abrigando quatro pessoas. Pensamos que com a entrega do terceiro andar essa situação seria resolvida, mas não foi. O terceiro andar tem vaga para 18 pessoas, mas só na lista de espera tinham 15 que estavam querendo ir para a moradia. A cada dia aparece gente desesperada dizendo que precisa ir para UNESP e que precisa de um lugar para dormir. Além disso, estavam contando faltas até a gente fazer a paralisação”, completou o estudante.

Privatização e sucateamento do transporte público

Os estudantes também reivindicaram inúmeras questões em relação ao transporte, já que a linha de ônibus que os levava até a universidade foi excluída e os passes que utilizavam não foram recarregados, impossibilitando a chegada na universidade e colocando em risco os estudantes do período noturno, que teriam que ir embora andando até seus bairros. A moradia estudantil fica a cerca de 6km do campus da cidade, para onde os estudantes tem que se locomover diariamente para assistir as aulas.

“O que percebemos como saldo disso é que a UNESP está falhando com a permanência, não está ligando para um campus de fato inclusivo, resultando em evasão de pessoas que passaram no vestibular e tem esses direitos, afinal não é um favor da instituição. Por isso é necessário a paralisação”, conclui o estudante em entrevista.

Em entrevista ao A Verdade, Cândido Souza, estudante secundarista representante do Movimento Jovens pelo Transporte Público e militante da União da Juventude Rebelião (UJR) afirmou: “A empresa privada que governa há 64 anos o sistema de transporte público na cidade vem há muito tempo aprofundando um processo de sucatemento do serviço:  redução a apenas um ponto de recarga de passes e a exclusão de linhas com a falta de assistência aos bairros mais necessitados infelizmente não é novidade. Enquanto isso milhares de jovens estudantes, do ensino fundamental ao universitário sofrem com esse descaso feito não apenas por essa corporação, que detém o monopólio na cidade, mas também pelo aval corrupto e anti-povo de todas as gestões da prefeituras até então”.

Moradia digna já! Permanência estudantil é um direito!

Diante de todas essas questões e o silêncio da direção da UNESP Franca, que só entregava promessas vazias, a moradia trouxe suas reivindicações na assembleia extraordinária do campus, realizada no dia 22 de março. Os debates e denúncias levaram a decisão unificada de paralisação dos estudantes e de que nenhum aluno ficaria para trás, sem o direito de morar dignamente e acessar a sala de aula presencialmente. 

No dia 23 de março, foi realizado um cadeiraço e oficinas de cartazes, não permitindo que as aulas continuassem normalmente e expondo a situação para toda comunidade unespiana. A força estudantil já vem mostrando resultados e demonstrando que a luta organizada não permitirá que esse descaso continue. Os estudantes conquistaram ao longo da semana uma assembleia com o diretor do campus; Vinícius Alvares militante do Movimento Correnteza e estudante da UNESP-Franca relatou:

“Na quarta-feira dessa semana, nós, estudantes da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNESP, conseguimos realizar uma assembleia aberta com o Diretor do Campus de Franca, Murilo Gaspardo, para tratar sobre a deplorável condição que se encontra a moradia estudantil e o serviço de transporte ofertado aos alunos. Algum grande avanço sobre as pautas? Definitivamente, não! Ao longo da reunião, foi possível perceber uma tentativa constante, porém sem sucesso, por parte do corpo administrativo da universidade em terceirizar a culpa”.

Pertences dos estudantes são tratados com descaso em meio a reforma do alojamento estudantil. Foto: Reprodução.

Criticando o Diretor, Vinícius ainda acrescentou: “O Murilo, utilizou de um recurso bastante comum entre a social-democracia: um discurso que foge da temática principal, é “recheado” de falsas conquistas populares ao longo de seu mandato para angariar votos na futura eleição que está para acontecer, além de clamar por empatia e respeito por parte dos alunos. Ademais, tudo isso acontecia ao mesmo tempo em que ele demonstrava pouquíssimo conhecimento acerca da situação e em como resolver o problema. Burocratismo e nenhuma garantia de direitos assegurada aos alunos”.

Embora poucas soluções tenham saído desse encontro, uma conquista foi feita: “Ao menos conseguimos pressionar a direção para que todos os estudantes pudessem, a partir de agora, emitir um comprovante de residência pela UNESP e permitir que tenhamos a carteirinha de 50% de desconto no transporte público”.

No meio de uma pandemia, onde retomar as aulas presenciais constituiu um ato importante de defesa às universidades públicas e à produção científica, encontrar cenários em diversos locais de negligência, despreparo e falta de ação por partes de reitorias e direções burocratizadas a antidemocráticas tem prejudicado os estudantes de forma profunda. O avanço do movimento estudantil, de forma combativa, solidária e organizada, é a única resposta coletiva que se pode dar aos atrasos vistos. 

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes