Desabrigados pelas chuvas realizam ocupação em Mauá

630
LUTA POPULAR – Famílias que perderam suas casas nas chuvas reivindicam seu direito a moradia realizando ocupação em Mauá (Foto: Marcos Alonso/Casa Marighella).

Organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), as famílias informaram que a Ocupação “Desabrigados pela Chuva – Antônio Conselheiro” foi realizada em um terreno que há mais de dez anos não cumpre função social. Os novos moradores e moradoras desse espaço, que agora será um lar, tem como um dos principais objetivos a necessidade de reconstruir suas moradias, que perderam recentemente por conta dos deslizamentos e chuvas do último período. Essas famílias se somam às mais de 32 mil famílias que vivem no déficit habitacional em Mauá, moram de aluguel, de favor ou em áreas de risco.

Victoria Magalhães – Coordenação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e Redação SP


MAUÁ (SP) – Na manhã do dia 05/03, famílias que perderam suas casas em decorrência das chuvas que têm causado desastres desde o fim de 2021, se organizaram para ocupar um terreno abandonado na rua Rua Ipê, no bairro Jardim Estrela, a fim de garantir o direito à moradia digna.

Organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), as famílias informaram que a Ocupação “Desabrigados pela Chuva – Antônio Conselheiro” foi realizada em um terreno que há mais de dez anos não cumpre função social. Os novos moradores e moradoras desse espaço, que agora será um lar, tem como um dos principais objetivos a necessidade de reconstruir suas moradias, que perderam recentemente por conta dos deslizamentos e chuvas do último período. Essas famílias se somam às mais de 32 mil famílias que vivem no déficit habitacional em Mauá, moram de aluguel, de favor ou em áreas de risco.

Famílias organizadas pelo MLB lutam por moradia digna (Foto: Amanda Alves/Jornal A Verdade)

Com o aprofundamento da crise econômica provocada principalmente pelo Governo Bolsonaro, e intensificada pela pandemia da COVID19, a situação do povo trabalhador, em especial das mulheres trabalhadoras, piorou muito. O desemprego, a fome e o aumento do custo de vida deixam trabalhadoras e trabalhadores cada vez mais na miséria. Esse cenário, somado às enchentes e deslizamentos ocorridos nos últimos meses, deixou essas famílias sem nenhuma outra alternativa, tendo a luta pela moradia como única saída.

Selma Alves, coordenadora da Ocupação, afirma: “Nós fizemos essa ocupação porque não há outra alternativa. Aqui na ocupação as famílias estão reconstruindo suas moradias e mais, construindo uma creche coletiva, uma cozinha coletiva… Depois das chuvas, dezenas de mães de famílias ficaram desabrigadas e nenhuma alternativa habitacional foi dada a elas. Tudo o que as famílias receberam foi a notícia de que teriam que sair de suas casas, deixá-las para trás. Nós não somos responsáveis pelas chuvas e ninguém mora em área de risco por que quer. A verdade é que falta política habitacional e nós não podemos mais viver sem ter um local digno para nos proteger e proteger nossos filhos. Queremos dignidade para o nosso povo! É por isso que nos ocupamos!”.

Através das lonas as famílias organizam a ocupação em luta pelos seus direitos (Foto: Amanda Alves/Jornal A Verdade)

Os meses de verão no Brasil são sempre marcados por fortes chuvas. Acompanhado dessas chuvas, os deslizamentos, enchentes e alagamentos que, todo ano, geram vítimas fatais e desabrigados de norte a sul do país. Hoje, de acordo com o IBGE e CEMADEN, são mais de 8 milhões de pessoas que moram em áreas de risco, encostas de morros, várzeas de rios, etc. No estado de São Paulo, somente em janeiro deste ano foram registradas ao menos 31 mortes em decorrência de deslizamentos e alagamentos, incluindo crianças. As fortes chuvas começaram cedo, deixando, além das dezenas de mortes, centenas de famílias desabrigadas e causando estragos e perdas de pertences principalmente ao povo mais pobre.

Em Mauá, entre dezembro e janeiro, as fortes chuvas atingiram de forma agressiva diversos bairros como o Jardim Primavera, a favela do Kennedy, o Vila Assis e Jardim Itapark, deixando dezenas de famílias desabrigadas e outras tantas vivendo com medo das próximas chuvas que virão.

Diante desta realidade, nenhuma política de habitação ou medida que proteja essas famílias foi encaminhada pela prefeitura ou pelo estado nos últimos anos, deixando o povo sem alternativas e tendo a ocupação urbana como única alternativa para garantia de um teto que abrigue seus filhos e filhas. “Precisamos lutar para reconstruir as nossas casas, se não for aqui, vai ser onde? Não temos mais para onde ir…”, relata Leila Venâncio, que teve parte do seu barraco derrubado na Favela da 22, no fim do ano passado, já que mora bem ao lado de um córrego que passa pela favela.

No mês internacional da mulher trabalhadora, as mulheres assumem a frente da luta por moradia (Foto: Amanda Alves/Jornal A Verdade)

O exemplo de luta de Antônio Conselheiros e o Arraial de Canudos

A Ocupação Antônio Conselheiro homenageia um grande líder social e religioso, que, junto a dez mil trabalhadores, ocupou uma fazenda abandonada na Bahia, que ficou conhecido como Arraial de Canudos. Neste local iniciaram a construção de uma comunidade livre, onde não havia exploração do homem pelo homem, o trabalho era dividido entre todos e as riquezas repartidas conforme a necessidade de cada um.

Esta história serve de exemplo para as famílias da nossa região. Só o ABC Paulista tem aproximadamente 20% da sua população formada por nordestinos. As famílias do Movimento, desde o período da manhã, realizaram um ato denunciando a falta de moradia e nos primeiros horários as famílias organizadas já começaram a receber trabalhadoras e trabalhadores do bairro que também estão na condição de déficit habitacional e a receberem apoio do bairro e de diversos movimentos sociais, parlamentares e entidades da cidade e da Grande São Paulo. Além disso, as famílias iniciaram uma grande campanha de arrecadação de alimentos, materiais de limpeza e estrutura, água potável, entre outros itens necessários para melhorar as condições de vida dos ocupantes.

Além disso, com a chegada da Guarda Municipal iniciou-se um processo de negociação com a Comissão Jurídica da ocupação. A prefeitura já foi contatada e a expectativa é de que se abra ainda hoje uma mesa de negociação. O MLB pede o apoio de toda a comunidade e apoiadores do movimento para apoiar as famílias que realizam a luta por moradia digna na ocupação.

Comissão Jurídica formada por advogados populares defende a legalidade da ocupação e o justo direito das famílias a lutarem por moradia digna (Foto: Amanda Alves/Jornal A Verdade)

Endereço:

Ocupação Desabrigados pelas chuvas – Antônio Conselheiro

Rua Ipê, altura do número 578, Jardim Estrela – Mauá

Para mais informações:

(11) 98454-0407 – Cadu Machado (Jornal A Verdade)

(11) 99555-5911 – Victoria Magalhães (Comunicação – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas)