Carolina Matos e Jean de Santana
SÃO PAULO – Desde o final de janeiro, não há usuário que não tenha percebido o aumento de problemas das linhas 8 – Diamante e linha 9 – Esmeralda. Não coincidentemente, isso aconteceu quando o consórcio ViaMobilidade 8 e 9, composto pelas empresas CCR e Ruas Invest, assumiu integralmente a operação e a manutenção dessas duas linhas.
Os problemas vistos nos últimos meses são os mais diversos, o que demonstra que a queda na qualidade da prestação de serviços é generalizada. Nas viagens, os tempos de parada demoram muito mais e em vários trechos o trem opera em velocidade reduzida. Essas coisas acontecem sem que os passageiros sejam avisados dos problemas, nem mesmo pelo sistema de som, o que aumenta o estresse na viagem. Lentos no horário de pico, os trens ficam superlotados. Considerando os dias de extremo calor em São Paulo, permanecer muito tempo dentro do trem dessa forma fica insuportável. Os usuários dessas linhas relataram em redes sociais ocorrências graves, como a abertura de portas do lado errado (oposto às plataformas), atropelamentos, avanços de sinal vermelho e paradas fora das plataformas. Em muitos casos de falhas, os passageiros se viram obrigados a descer do trem e caminhar em plena via até a estação mais próxima.
No dia 14 de fevereiro, uma falha na alimentação elétrica fez a ViaMobilidade 8 e 9 fechar as estações da Linha 9 em horário de pico, provocando aglomerações e uma longa espera para conseguir embarcar nos ônibus do sistema Paese (Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência).
Logo no início de março, um princípio de incêndio chegou a interromper a circulação entre Santo Amaro e Granja Julieta, sendo necessário acionar o Paese novamente. Tantos transtornos levaram os passageiros a realizar um protesto na marginal Pinheiros.
Na última quinta-feira, dia 10, um agente de atendimento e manutenção sofreu uma descarga elétrica enquanto reparava um equipamento na subestação de Pinheiros que fornece energia para trens. Bodney Supplice era haitiano, tinha cerca de 36 anos e, apesar dos esforços do SAMU para reanimá-lo, ele faleceu.
Empresas privadas diminuem custos no transporte para garantir superlucros
Essencialmente, problemas tão diversos nas linhas de trem privatizadas têm a mesma origem: a busca da concessionária por lucros fáceis e exorbitantes. A ViaMobilidade 8 e 9 tem submetido seu quadro de funcionários ao acúmulo de função, a treinamento insuficiente, pouca preocupação com segurança do trabalho e com experiência na rotina de trabalho da ferrovia, além de extensas cargas horárias.
O Procon de São Paulo notificou a ViaMobilidade sobre falhas ocorridas em fevereiro, quando as linhas 8 e 9 apresentaram contínuos problemas no sistema de energia elétrica. O Ministério Público de São Paulo instaurou uma investigação para apurar se as falhas nas linhas em questão violaram os direitos do consumidor que utiliza o transporte público.
Mesmo com tais trâmites institucionais, não adianta só cobrarmos as empresas privadas para que melhorem os serviços, porque sempre vão voltar a falhar pelo mesmo ponto, já que o objetivo delas é somente o lucro. Precisamos que o transporte ferroviário volte a ser público e não dependa da lógica empresarial de lucrar, para realmente ter sua autonomia e atender plenamente as demandas do povo.