A Chacina da Baixada, como ficou conhecida mundialmente, completa 17 anos de impunidade nesta quinta-feira (31). Sua história marca mais um episódio de violência do Estado contra a população pobre da periferia do Rio de Janeiro.
Redação Rio
RIO DE JANEIRO – Há exatamente 17 anos, policiais militares assassinaram a tiros 29 pessoas e feriram outras duas nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados, na Baixada Fluminense.
A Chacina da Baixada, como ficou conhecida, teve seu início por volta das seis e meia da tarde do dia 31 de março de 2005, uma quinta-feira. Um grupo de policiais militares se encontrou num bar no centro de Nova Iguaçu. Eles estavam indignados com o aumento da fiscalização de suas condutas, depois que houve uma troca na direção dos batalhões da PM na região em que atuavam.
Para demonstrar sua insatisfação em não poder mais extorquir, chantagear e ameaçar impunemente a população da região, decidiram sair pelas ruas da cidade e atirar a esmo em quem passasse pela frente. O resultado foi a execução de moradores que estavam pelo caminho. Não satisfeitos com a ação em Nova Iguaçu, os policiais foram para a cidade vizinha, Queimados, para continuar matando covardemente o maior número de pessoas possível.
A autônoma Silvane Azevedo perdeu o irmão, Renato, de 29 anos, naquele dia. Até hoje sente a mesma dor. “Para a gente não passa, não é? São 17 anos de dor e muita lembrança”.
A dona de casa Adriana Paz Gomes perdeu o filho Marcelo, de 15 anos. “O sonho dele era me dar uma vida melhor. Ele era um menino muito contente, muito brincalhão. Todo mundo no bairro gostava muito dele”.
Onze militares foram denunciados pelo crime.
Dezessete anos depois da chacina, pode-se dizer que o Estado burguês e sua polícia, no fundamental, não mudaram sua relação violenta com a população pobre da periferia do Rio de Janeiro. Segundo dados da plataforma Fogo Cruzado, a Baixada Fluminense concentrou o maior número de baleados e de tiroteios em toda a região metropolitana em janeiro deste ano. Ao todo, 36% das pessoas baleadas no Grande Rio são da Baixada, e 34% dos tiroteios ocorreram em algum dos municípios desta região.
“Não só observamos um aumento da letalidade policial, mas quando comparamos a população da Baixada Fluminense com a população da capital, em termos quantitativos, proporcionalmente, a Baixada hoje tem praticamente o dobro de numero de mortes provocadas por policiais na região”, explicou o coordenador do Fórum Grita Baixada, Adriano de Araújo.
Impunidade
Apesar da covardia e brutalidade da ação dos policiais envolvidos na Chacina da Baixada, apenas cinco foram condenados pelo crime.
Hoje (31), em Queimados, familiares das vítimas da chacina se reuniram para cobrar justiça e relembrar o acontecimento. Cartazes com inscrições como “17 anos se passaram ainda sem respostas!” e “Até quando iremos esperar?” foram levados pelos parentes, que exigiam maior assistência e respostas do poder público.
Este caso, como inúmeros outros país afora, é reflexo de uma polícia e uma política assassinas, militarizadas, que servem para reprimir o povo a favor dos mais ricos.