Minha felicidade quase transborda em lágrimas só de pensar que todas ali apenas queriam o bem comum, e que não importassem os impasses que ali viriam, a casa Almerinda Gama vai estar presente, hoje e sempre
Diovana Nogueira Marino
Rio de Janeiro
MULHERES – Era dia 7 de março de 2022 e eu só queria saber de uma coisa: liberdade para as mulheres do mundo.
E por isso, essa data, véspera de um grande dia, se tornou preparação. Ao anoitecer, nós estávamos lá, em nosso lar, organizando uma pequena revolução.
Entre idas e vindas, sobe e desce de escadas, pensamentos e angústias, problemas e dores, o ódio ao sistema opressor estava à frente, alimentando nossa força.
Após uma objetiva centralização, todas com seus devidos deveres nas mãos, tivemos uma boa janta e pequenos minutos de descanso.
Enquanto nosso corpo dormia, nossa mente sonhava com o quebrar das correntes.
Enquanto nossas pálpebras se mantinham fechadas, nossa pupila dilatava ao badalar do dia 8.
Enquanto as luzes se apagavam, o feminismo socialista ascendia.
É chegada a hora, partimos em viagem, para quem nos viu passar, poucos segundos, para quem estava lá, um longo fragmento temporal de adrenalina.
Parou-se, tudo escuro, falas, movimentação, pequenos passos, ferramentas, correntes, ruídos, orientação, e quando eu vi já estava fazendo ocupação.
No centro, o sinônimo do descaso, mas ao meu redor, aos berros silenciosos, elas estavam lá. Minha felicidade quase transborda em lágrimas só de pensar que todas ali apenas queriam o bem comum, e que não importassem os impasses que ali viriam, a casa Almerinda Gama vai estar presente, hoje e sempre.
Todas companheiras, hoje e sempre.
Movimento de Mulheres Olga Benário, hoje e sempre.
E como já sabíamos, a repressão viria, com toda a sua vontade de destruir as nossas vidas, com toda a vontade de nos humilhar. Nos menosprezaram e a porta teimaram a forçar.
Acharam mesmo que iriam entrar.
Acharam mesmo que o estereótipo fraco da mulher era real.
Acharam mesmo que as afirmações pútridas sobre os corpos de quem se sente mulher eram reais.
Estavam errados e nós preparadas, eles supérfluos e nós materialistas.
Tanto falam de força física, mas bastou juntarmos nossas vozes para que se afastassem de nós os algozes.
Suor derramado, cortes pelo corpo, dores pela cabeça e muito cansaço para construir nosso lar, mas infelizmente, nada disso se compara ao sofrimento e à morte das nossas mulheres no país. Nada se compara à tortura, às balas, às facadas, aos estupros, à podridão do Patriarcado que semeia a miséria para a mulher.
Nenhuma a menos, independente do que a sociedade te diz, mulher, se você se sente mulher, então você é.
Mulheres que estão juntas pela ocupação, é uma honra ter vocês ao meu lado.