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domingo, 22 de dezembro de 2024

Ocupação, substantivo feminino

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OCUPAÇÃO. A Casa de Referência Almerinda Gama nasceu no último dia 8 de março, no Rio de Janeiro (Foto: JAV/Rio)

Minha felicidade quase transborda em lágrimas só de pensar que todas ali apenas queriam o bem comum, e que não importassem os impasses que ali viriam, a casa Almerinda Gama vai estar presente, hoje e sempre

Diovana Nogueira Marino
Rio de Janeiro


MULHERES – Era dia 7 de março de 2022 e eu só queria saber de uma coisa: liberdade para as mulheres do mundo.

E por isso, essa data, véspera de um grande dia, se tornou preparação. Ao anoitecer, nós estávamos lá, em nosso lar, organizando uma pequena revolução.

Entre idas e vindas, sobe e desce de escadas, pensamentos e angústias, problemas e dores, o ódio ao sistema opressor estava à frente, alimentando nossa força.

Após uma objetiva centralização, todas com seus devidos deveres nas mãos, tivemos uma boa janta e pequenos minutos de descanso.

Enquanto nosso corpo dormia, nossa mente sonhava com o quebrar das correntes.

Enquanto nossas pálpebras se mantinham fechadas, nossa pupila dilatava ao badalar do dia 8.

Enquanto as luzes se apagavam, o feminismo socialista ascendia.

É chegada a hora, partimos em viagem, para quem nos viu passar, poucos segundos, para quem estava lá, um longo fragmento temporal de adrenalina.

Parou-se, tudo escuro, falas, movimentação, pequenos passos, ferramentas, correntes, ruídos, orientação, e quando eu vi já estava fazendo ocupação.

No centro, o sinônimo do descaso, mas ao meu redor, aos berros silenciosos, elas estavam lá. Minha felicidade quase transborda em lágrimas só de pensar que todas ali apenas queriam o bem comum, e que não importassem os impasses que ali viriam, a casa Almerinda Gama vai estar presente, hoje e sempre.

Todas companheiras, hoje e sempre.

Movimento de Mulheres Olga Benário, hoje e sempre.

E como já sabíamos, a repressão viria, com toda a sua vontade de destruir as nossas vidas, com toda a vontade de nos humilhar. Nos menosprezaram e a porta teimaram a forçar. 

Acharam mesmo que iriam entrar.

Acharam mesmo que o estereótipo fraco da mulher era real.

Acharam mesmo que as afirmações pútridas sobre os corpos de quem se sente mulher eram reais.

Estavam errados e nós preparadas, eles supérfluos e nós materialistas.

Tanto falam de força física, mas bastou juntarmos nossas vozes para que se afastassem de nós os algozes.

Suor derramado, cortes pelo corpo, dores pela cabeça e muito cansaço para construir nosso lar, mas infelizmente, nada disso se compara ao sofrimento e à morte das nossas mulheres no país. Nada se compara à tortura, às balas, às facadas, aos estupros, à podridão do Patriarcado que semeia a miséria para a mulher. 

Nenhuma a menos, independente do que a sociedade te diz, mulher, se você se sente mulher, então você é. 

Mulheres que estão juntas pela ocupação, é uma honra ter vocês ao meu lado.

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