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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

POESIA | Aos meus e aos que nos querem mortos

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Foto: Marcos Santos/ Jornal da USP
Mayra Lize Nunes Pequeno 
Movimento Olga Benario e MLB – Mogi das Cruzes – SP

Aos meus e aos que nos querem mortos

Ei,  você,
você sujeito absoluto que me vê,
Você latino-americano,
pegue sua foice e seu machado,
pois juntos vamos semear as veias
da nossa panamérica!
Ei, você,
você mulher preta, mulher por se ser,
mulher da terra, mulher puta, mãe, santa,
mulher louca, mulher feia, mulher gorda,
mulher sáfica, promíscua, prenha,
Camponesa, catadora, pobre, desempregada,
filha de Pindorama,
pegue seu punho em rubra luta,
pois juntas iremos parir Quitérias,
Benguelas, Diadorins, Anitas, Heleniras,
Valdetes, Elianas, Marias, Laudelinas, Tinas, Marielles,
Amelinhas, Patrias, Minervas e Marías Teresas.
Ei, você,
você gente jovem,
você que ouve Belchior e que sonha as utopias de todas as gerações que existiram, existem e existirão na eterna ode do Universo das guerrilhas que tecem as alvoradas
de algo ainda sem lugar,
pegue seu coração a tamborilar no couro do tambor da vida,
pois juntos vamos nos banquetear com nossos camaradas.
E ei, você,
você que não me ouve,
você que me cala e me mata,
você que me estupra, que me invade,
você que me prende, que me envergonha,
você que me dá fome e miséria…
você que me tira o oxigênio…
você que me chacina e me concentra em horrorosos genocídios…
você que há muito me coloniza,
que me vende,
que me tira a língua, os trajes, os cabelos, os nomes, as memórias.
Você,
Você tenha medo e sinta subir vertébra por vértebra o calafrio sub-ríptico da sua própria aniquilação…
Pois nós somos cria de balaiadas,
de contestados,
de cangaceiros e cangaceiras,
da fumaça dos farrapos,
dos metalúrgicos do ABC,
dos seringueiros do Acre,
dos guerrilheiros de 64,
das Marias da Penha
e de toda multidão faminta
que com a dor e a lágrima
festejará sobre as cabeças que serão cortadas pela lâmina dos nossos facões.
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