O caso ocorreu na Escola Estadual Francisco Glicério, localizada no centro de Campinas. Após diversos casos de assédio sem nenhuma providência da direção escolar, alunos acabaram se revoltando. Policia militar acionada pela diretora algemou estudante negro, e no dia seguinte os alunos marcharam até a prefeitura para denunciar todo o descaso.
Patricia Kawaguchi
CAMPINAS – No final de maio, a Escola Estadual Francisco Glicério, localizada no centro de Campinas, virou notícia devido a um grave episódio envolvendo assédio e violência policial. Na quinta-feira, 26 de maio, um estudante assediou uma das alunas e, como a direção não tomou nenhuma providência e não se tratava da primeira vez, os estudantes se revoltaram. A direção, então, ficou alarmada e acionou a Guarda Escolar. A PM chegou na escola e começou a agredir os estudantes, chegando a carregar um estudante negro algemado e desmaiado em frente a todos seus colegas o conduzindo para delegacia.
Os estudantes decidiram se manifestar no dia seguinte, com um protesto que saiu da escola e se dirigiu até a prefeitura para chamar atenção para o caso e mostrar que é inaceitável o assédio nas escolas e a violência policial. Na segunda-feira os estudantes novamente fizeram uma manifestação enquanto a direção se reunia com familiares.
A versão da direção nega o assédio e afirma que a polícia foi acionada para proteger o estudante. A diretora da escola tentou enfraquecer a mobilização estudantil e também se recusou a mostrar as imagens das câmeras.
Não se trata do primeiro caso de assédio na escola. Outras estudantes contaram ter sido vítimas do mesmo assediador. Algumas falaram com a direção e outras nem tentaram, pois pelo histórico, acreditavam que nada seria feito. A aluna Giovanna Lyrio conta que uma de suas amigas passou por casos de assédio, com o aluno segurando-a pela cintura e falando palavras de baixo calão. Uma outra amiga, que também sofreu com assédio, ajudava a afastá-lo. Relata Giovanna: “Na escola, nesse sentido, qualquer coisa que você faça aqui, você não vai receber punição de nada. Tem um caso na minha sala de um outro menino que já ficou assistindo (vídeo) pornô dentro de sala, dele ficar olhando e “comendo” as meninas com os olhos dentro de sala e a gente falar e ninguém fazer nada, dele fazer piada com tratamento de câncer de uma professora nossa e a direção não fazer nada.”
Fica muito evidente que os estudantes da escola se sentem desamparados sem o apoio da direção, que deveria acolher os casos, orientar alunos e zelar para que os casos de assédio não se repetissem. Mas não é isso que acontece, muito pelo contrário. Há outros casos também. No final de março, o aluno Breno Monferdini presenciou dois casos de racismo, um por parte de uma docente e outro por parte de um estudante. A professora cometeu injúria racial com uma aluna, seguida por apologia à ditadura militar. O caso foi levado à direção, os alunos fizeram inclusive abaixo-assinado pedindo o afastamento da professora. A diretora apenas engavetou o abaixo-assinado sem tomar nenhuma providência. No outro caso, um aluno falou a um aluno negro que ele deveria voltar para a senzala. Esse caso foi levado para a direção também e novamente nenhuma providência foi tomada.
É necessário que a discussão sobre violência sexual e assédio estejam presentes nas escolas. Omitir essas informações é defender assediadores! Da mesma forma, a escola precisa assumir uma postura antirracista. A indignação dos estudantes da E. E. Francisco Glicério mostra que a juventude não vai mais aceitar que a escola continue indiferente e reproduza as opressões da sociedade. A cada dia a juventude demonstra que rebelar-se contra as opressões é mais do que justo.