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sexta-feira, 26 de abril de 2024

O protagonismo das mulheres na luta por moradia

Muitos são os nomes de mulheres que marcaram a linha de frente na luta por uma sociedade mais justa na nossa história. Pelo direito à moradia, por condições dignas de trabalho, por creche, pelo fim da violência, contra a fome e o alto custo de vida, pelo direito de ter voz, a luta organizada das mulheres vem como uma necessidade.

Natália Pires | MLB


Santo André (SP) – Dentro do sistema capitalista, as mulheres, principalmente aquelas que são pobres, negras e mães, enfrentam diariamente um cenário de dupla exploração e opressão. São submetidas às piores condições de trabalho com longas jornadas, aos salários mais baixos, a jornadas de trabalho não remuneradas, como o cuidado dos filhos e da casa, além da violência que as acomete dentro e fora do ambiente doméstico.

Hoje, no Brasil, 11,6 milhões de lares são chefiados unicamente por mães solo e destas, 59,6% vivem abaixo da linha da pobreza (IBGE). Não é por acaso ou vontade divina que as mulheres se encontram nessas condições.

A opressão, exploração e violência sentidas na pele diariamente são efeito direto das políticas econômicas adotadas pelos governos capitalistas. São maneiras de manter um povo que vive apenas para sobreviver, para que sua força de trabalho e sua miséria garanta a fartura e o lucro no bolso dos patrões, principalmente dos banqueiros, do mercado imobiliário, dos grandes empresários e dos reis do agronegócio.

Já são quase 8 milhões de famílias brasileiras que têm seu direito à moradia digna negado. De acordo com o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), a maior parte dessa população é do sexo feminino, representando 58,62% do total de pessoas nessa condição.

Diante desse cenário, A Verdade buscou entrevistar mulheres organizadas no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) da região do ABC Paulista a fim de saber mais sobre a realidade que enfrentam e o que as levou a participar da luta junto ao movimento.

Tânia Maria de Souza, 48 anos, diarista que reside em Mauá, fala sobre as condições que vivia antes de entrar para o MLB: “Quando meu filho me apresentou o movimento o negócio estava muito feio, porque eu sou chefe de família não divido conta da casa com ninguém, mora eu e mais três de menor. Antes eu morava em Francisco Morato, pagava aluguel e a metade do dinheiro da minha renda ia no aluguel, né? Então sobrava muito pouco pra comprar comida. Onde eu morava era área de risco de deslizamento, quando chovia eu tinha que dormir com o olho aberto e outro fechado,  olhando as crianças, porque  do lado da minha casa  morreu uma família soterrada e no outro bairro um pouquinho mais distante da minha casa também morreu outra família”.

ORGANIZAÇÃO. Tânia entrou para a luta do MLB após viver com dificuldade para pagar aluguel e sustentar os filhos Foto: (Arquivo/ A Verdade).

Já Rita da Silva, 37 anos, baiana que reside em Diadema, mãe solo de duas filhas, empregada doméstica, declarou: “Pra mim nunca foi fácil, né? Eu sou a chefe da casa, nunca foi fácil criar minhas filhas sozinha, manter o aluguel, água, luz e eu sempre lutando pra não deixar faltar nada em casa.  E com as condições que está hoje é um absurdo. Um salário mínimo já não tem mais valor, pra pagar aluguel se tornou mais difícil. Principalmente o gás, no preço que tá eu tô vendo que eu vou ter que improvisar, eu não sei mais o que fazer e a gente não vive só de água, de luz e de aluguel, tem que ter alimento na mesa pra alimentar os nossos filhos”.

Vanessa Ferreira de Miranda, 40 anos, de São Bernardo do Campo, trabalhadora da segurança terceirizada, resume o drama de ser mulher e mãe solo: “A mulher tem que se virar nos trinta pra tudo, além de ser muito discriminada no ambiente de trabalho. Eu mesma nos postos que eu trabalhei eu já sofri racismo, gordofobia. E principalmente se for uma mulher mãe solteira, eu vejo que é tipo ‘você precisa mais, então eu [patrão] posso te sacrificar mais nesse trabalho, porque você nunca vai pedir conta pra não ficar desempregada’. Então acho que os patrões exploram muito mais as mulheres”.

Sobre o que mudou depois de entrar para o MLB, Vanessa completa: “Eu não tinha perspectiva nenhuma de ter uma casa. Chegava a ser ilusório, porque como que eu ia conseguir ter uma casa ganhando um salário mínimo e pagando aluguel?! Já tentei fazer serviço extra pra tentar pagar um curso técnico e poder ter uma profissão melhor, mas sempre faltava dinheiro e aí eu acabava parando no meio do caminho. Mas graças a Deus agora eu eu tenho certeza que eu vou ter a minha casa, graças ao MLB e à nossa luta, né? E tem mais uma coisa que é importante, eu vou voltar a estudar! Deixando de pagar aluguel eu consigo investir em uma faculdade, eu quero fazer Psicologia ou então Veterinária. Tentar uma bolsa de estudo pra mim pagar um valor mais baixo e vamos que vamos!”.

Tais relatos evidenciam que o protagonismo das mulheres na luta pelo direito à moradia digna e pelo direito à cidade, para além de ser uma necessidade, cumpre um papel definitivo no processo de transformação da sociedade e de emancipação das mulheres. A consciência de que é urgente a organização popular para superar esse sistema de opressão e exploração avança através da luta coletiva.

É como finaliza Tânia: “Nós não tem outra saída se nós não se organizar e ir para a luta. O segredo é lutar, é se organizar e ir para cima. E vou deixar uma frase: vitória na guerra!”.          
Que viva dentro de cada uma e cada um o exemplo de Margaria Alves, Eliana Silva, Valdete Guerra, Tereza de Benguela e tantas outras mulheres que não se resignaram e dedicaram suas vidas à luta coletiva pela libertação de quem tudo produz nessa sociedade e portanto é a quem tudo pertence: a classe trabalhadora.

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