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terça-feira, 19 de março de 2024

MLB ocupa Museu de Arte da Bahia no centro de Salvador

Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) é selecionado para expor no tradicional Salões de Artes Visuais da Bahia no MAB em Salvador/BA

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Obra “Ocupação Carlos Marighella: 1 Ano de Luta” Exposta no Museu de Arte da Bahia (Foto: Fundação Cultural do Estado da Bahia / Reprodução)

Rafael Moreno

União da Juventude Rebelião (UJR)

Literal e metaforicamente, dos dias 08 de outubro até 27 de novembro o Museu de Arte da Bahia (MAB) foi ocupado pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas, Favelas – MLB (e museus!) em Salvador. Com o trabalho “Ocupação Carlos Marighella: 1 ano de luta” os Salões de Artes Visuais da Bahia têm exposto uma ampla composição sobre a ocupação localizada no centro da capital baiana.

E não poderia ser mais conveniente, um trabalho que, além de tratar de uma ocupação urbana, discute questões de especulação imobiliária e acesso à cidade, ser exposto justamente no MAB, tradicional museu do estado localizado numa das áreas mais centrais e elitizadas da cidade. Enredando assim na sua metalinguagem,  as diversas dimensões da importância dos centros das grandes metrópoles serem ocupados por quem deveria ter direito à cidade: o povo!

Assim sendo, o trabalho não só evidencia a contradição da relação centro-periferia nas grandes metrópoles, como também amplia a visão sobre a questão, trazendo à baila tanto discussões de especulação imobiliária quanto de acesso à cidade de forma mais ampla. Evidencia, através de infográficos ilustrados e descrições textuais, a contradição latente entre o capital e o interesse popular quando destaca os prédios arrematados por valores milionários e sua evidente função especulativa e gentrificadora do Centro Histórico da cidade em contraste com um dos mais básicos direitos humanos materializado na Ocupação Carlos Marighella, o direito de morar.

Mapas infográficos sobre gentrificação, moradia e acesso à cidade em Salvador/BA. Autor: Rafael Moreno
Mapas infográficos sobre gentrificação, moradia e acesso à cidade em Salvador/BA. Autor: Rafael Moreno

Também é importante salientar que, em contraste com o ofício muitas vezes tido como essencialmente individual do artista solitário que produz centrado em si, o trabalho foi desenvolvido nomeadamente de forma coletiva, envolvendo desde a concepção até a execução, diversas mentes e braços.

Dessa forma, pôde ser idealizado, realizado, exposto e ainda ter recebido no dia 27, último dia da exposição e dia onde participaram os expositores, a visita ilustre das famílias da ocupação junto com a vice-presidenta nacional da Unidade Popular (UP), Samara Martins, e da presidenta estadual do partido na Bahia, Eslane Paixão. Foi possível não só os sujeitos representados naquela obra poderem ter a oportunidade de se ver no trabalho, como também acessar um lugar de cultura tão restrito e tradicionalmente legado às classes mais abastadas da capital soteropolitana.

Famílias da Ocupação Carlos Marighella, Samara Martins, Eslane Paixão e juventude da UJR no MAB (Foto: Isabella Tanajura / Jornal A Verdade)

Ainda foi possível um momento de fala sobre o trabalho, bem como um momento para o MLB reiterar sua importância como movimento de moradia combativo e socialista. A coordenadora estadual do movimento na Bahia, Bia Faria, destacou a importância da obra e da visita das famílias ao museu, que puderam se enxergar em um espaço que seu espaço geralmente é negado à população preta, pobre e periférica na sociedade capitalista. Além disso, a moradora da Ocupação Carlos Marighella, Elys Costa, destacou o papel do MLB na luta:

“Agradeço esse espaço de nos reconhecer como o Grito do Oprimido, que chega em um movimento na luta por Moradia, mas que precisa de muito mais que uma moradia, precisa ser escutada, que precisa de uma educação que venha abranger não apenas a questão da escolaridade! […] Estamos aqui na luta, como formiguinhas, mas presente para dizer que nós temos nossa identidade, nossa identidade se faz valer por meio da nossa dignidade, e é isso que queremos dignidade.”

Assim, reafirmando a importância do direito de morar, mas sempre reiterando que a luta não se encerra na conquista da casa, nas próprias palavras do movimento, o ato de ocupar é um ato de confronto com a ordem estabelecida, de questionamento à sagrada propriedade privada capitalista e que de forma combativa e potente, tem a arte como aliada e expressão legítima da luta do povo.

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