As trabalhadoras do Restaurante Universitário da Unicamp, em Limeira, fizeram dois dias de paralisação contra as precarizações em seu trabalho, nos dias 16 e 17 de novembro. Desde que a Soluções Serviços Terceirizados ganhou a licitação e assumiu os restaurantes, tanto as condições de trabalho quanto a qualidade do serviço pioraram muito.
Patricia Kawaguchi e João Suzigan | MLC
LIMEIRA (SP) – Entrevistamos duas trabalhadoras (que não serão identificadas para não sofrer perseguição por parte da empresa).
Uma delas tem 50 anos, 3 filhos e trabalhou durante 8 anos no Restaurante Universitário antes da empresa Soluções, quando a gestão era da Funcamp; a outra tem 35 anos, é mãe solo de 4 filhos e começou a trabalhar recentemente com a Soluções.
A primeira entrevistada nos relatou sobre o que falta: “Nós estamos com falta de equipamentos, né? Falta de EPIs, falta de óculos de proteção, né? Falta de manutenção, falta de uma pessoa mesmo pra ficar com a gente, um técnico de segurança, de manutenção, junto com a gente. A gente só está tendo cobrança disso, cobrança daquilo. Então os patrões, eles estão bem longe e quando acontece algo estranho com o funcionário, aí é a hora que ele aparece pra cobrar da gente, puxar a orelha da gente.”
A outra entrevistada afirma que “Também não podemos conversar com os alunos, não pode falar pros alunos que a gente tá sofrendo. Se os alunos perguntarem se está tudo bem, a gente tem que falar que tá tudo bem, não pode falar que não está legal trabalhar aqui, a gente tá sofrendo essa opressão também. Tem que estar sempre tudo ok, mentir mesmo.”
É importante notar que a maioria das reivindicações coletivas está nas leis trabalhistas, que a empresa não cumpre. Por exemplo: fim da dupla função, compra de equipamentos de proteção individuais, manutenção dos equipamentos, instalação de uma CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), pagamento de vale transporte. Então, foi formado então um comitê de greve para definir os passos da luta.
Além dessas reivindicações, são também exigências o fim do assédio moral e das punições indevidas, além de redução da jornada de trabalho, que foi aumentada pela empresa. Destaca-se também o fato de que as trabalhadoras foram convocadas a trabalhar no dia 14 de novembro, ponto facultativo, em que não houve expediente na universidade, ou seja, o restaurante não abriu. No entanto, todas foram chamadas para trabalhar fazendo limpeza pesada, independente da função para a qual foram contratadas.
Outras queixas são em relação a atrasos no pagamento de algumas trabalhadoras e outras que estão recebendo desconto por falta mesmo apresentando atestado, além da redução do vale-alimentação de R$800 para R$180.
Sabemos que as condições precárias de trabalho, a sobrecarga, o acúmulo de funções, a pressão psicológica e o assédio moral trazem graves consequências. Tanto que no dia 26 de setembro, a trabalhadora Cleide Aparecida Lopes, técnica em nutrição, morreu durante o trabalho, vítima de um mal súbito. No dia anterior, Cleide tinha recebido uma advertência da chefia.
A empresa não acolhe nem dá nenhum suporte para a saúde das trabalhadoras e elas são coagidas a trabalhar mesmo passando mal.
De acordo com uma entrevistada: “Não tem profissional de segurança do trabalho, não temos sala de enfermagem. Tipo, alguém passou mal, alguém está com pressão alta, não tem ninguém ali pra medir. E volta a trabalhar. Uma vez eu estava me sentindo muito oprimida por discussões entre funcionários, senti que minha pressão estava subindo. Fui à sala do RH, disse que não estava passando bem, preciso ir pra casa, e a menina disse: não, tem dipirona aqui, um remedinho, você toma e volta a trabalhar.”
Ela complementa: “Como é que nós vamos fazer serviço direito sendo pressionados vinte e quatro horas dentro da empresa? Não tem como. Funcionário vai passar mal mesmo.” Já a outra companheira afirma: “Eu acredito que foi mais pela pressão que a Dona Cleide chegou a morrer dentro da faculdade aqui, do bandejão. É uma vida que tem que ser respeitada. E no dia seguinte eu achei um absurdo porque a gente teve que vir trabalhar, as portas do restaurante tavam abertas pra gente trabalhar. Eu acho isso muito… Falta de respeito, falta de consideração, falta de amor, não tem amor nenhum pelo próximo. Ali era uma pessoa, era uma vida. Tinha filho pequeno também. Ela morreu lutando até o fim. Lutando, lutando dignamente como cada um de nós. Batalhando.”
Ou seja, suas companheiras, que a viram caída sem vida no chão, não foram dispensadas do trabalho e a universidade nem sequer decretou luto por Cleide. É desumano que uma morte que aconteceu dentro da universidade seja tratada com tanto descaso pela reitoria, que se exime da responsabilidade pelo que a Soluções vem fazendo, afirmando que está fiscalizando a empresa.
É preciso que a Unicamp, enquanto universidade pública, assuma um compromisso com a defesa dos direitos trabalhistas e ofereça condições dignas para essas mulheres, reconhecendo-as como parte da comunidade universitária. O que não será possível com a terceirização.
É preciso, pois, avançar na pauta da reincorporação dessas trabalhadoras e desse serviço na administração direta da Unicamp, para que haja a contratação sem concurso das trabalhadoras. Isso é benéfico também para estudantes, pois a criação de vínculos melhora o serviço. A maioria delas fala com carinho sobre sua relação com os estudantes e a satisfação de trabalhar no restaurante. Muitas estão lá há anos, porém com a nova empresa isso se torna insustentável.
O Movimento Luta de Classes apoia a luta das terceirizadas dos restaurantes da Unicamp em Limeira, Campinas e Piracicaba. As trabalhadoras de Limeira mostram que é somente com a luta coletiva que existe possibilidade de mudança. A luta pode ser demorada, mas nos fortalecemos com ela e é só com persistência e organização que alcançaremos a vitória!
Cleide Aparecida Lopes, presente!