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quarta-feira, 24 de abril de 2024

A origem e a importância do Braille para a inclusão social

O Braille é fundamental para pessoas com deficiência visual em todo o mundo, possibilitando a formação e produção, principalmente cultural, de milhares de pessoas. Porém, a grande maioria das pessoas com deficiência visual tem pouco ou nenhum domínio do Braille, já que o capitalismo prefere mantê-los na pobreza, as escolas não são equipadas com o material necessário e adquiri-lo individualmente é caro e difícil.

Acauã Pozino
Rio de Janeiro


DIREITOS HUMANOS – No dia 4 de janeiro é comemorado o Dia Internacional do Braille, instituído pela UNESCO em homenagem ao nascimento de Louis Braille, criador do sistema. Infelizmente, como não é do interesse da burguesia, que controla as fábricas e o Estado, difundir essa importante ferramenta de acesso ao conhecimento e à cultura, os meios de produzi-los são até hoje caros e as iniciativas de difusão recebem pouco ou nenhum apoio. Por isso, muita gente sequer sabe exatamente o que é o Braille ou como ele funciona.

História

O Braille é um sistema de escrita criado na França, na primeira metade do século 19. Seu criador, Louis Simon Braille, era membro da pequena burguesia empobrecida francesa. Aos 3 anos, perdeu a visão enquanto brincava com as ferramentas de trabalho de seu pai Simon-René, que trabalhava como seleiro e sapateiro no povoado de Coupvray.

Durante toda sua infância, a família de Louis Braille se esforçou para que ele frequentasse a escola, mas o colégio local logo o rejeitou, sob o pretexto — usado até hoje — de não ter os recursos necessários para educar a criança. Seu pai, então, assumiu seus cuidados e tentou lhe ensinar o ofício, enquanto o padre local o educava na fé cristã. Aos 12 anos, o novo padre do povoado conseguiu que ele fosse admitido no Instituto dos Jovens Cegos de Paris, criado ainda sob o calor da revolução burguesa de 1789.

Nesse instituto, porém, os jovens eram obrigados a ler o alfabeto latino tradicional, impresso em relevo em páginas de papel grosso, e a escrever nesse mesmo alfabeto por meio de copistas. Não havia um método que possibilitasse a verdadeira autodeterminação intelectual das pessoas cegas e com baixa-visão, já que produzir materiais dessa forma era extremamente difícil e demorado.

Nessa mesma época, Charles Barbier, um capitão reformado do exército, foi à escola e apresentou um sistema que criara, originalmente, para comunicação secreta em campo de batalha, apelidado de “escrita noturna”. Braille, encantado com a invenção do militar, notou, contudo, que o sistema era trabalhoso para a leitura e, junto com outros estudantes, se propôs a adaptá-lo e melhorá-lo. Trabalhou nisso por anos, apresentando a primeira proposta em 1829 e a segunda, definitiva, em 1836.

Como funciona o Sistema Braille?

O Braille é composto por pontos impressos no papel manualmente (com um instrumento pontiagudo chamado “punção”) ou por meio de máquinas mecânicas ou eletrônicas. Trabalha com um universo de 6 pontos, dispostos numa cela retangular, com os quais se formam diferentes combinações. Ao todo, são 63 combinações possíveis para o alfabeto latino, abrangendo letras, sinais de pontuação e sinais específicos do sistema, como o de maiúscula e o de número.

Ao contrário do que se pode pensar, o Braille não é uma língua, um idioma, mas um código, que equivale ao alfabeto da língua em que se escreve. Sendo assim, existem diferentes convenções para o alfabeto latino, para o arábico, sirílico, para os kanjis, etc. Por exemplo: combinar os pontos 1, 3, 4 e 6 equivale tanto à letra X, em línguas de escrita latina, quanto à letra خ(kha) no alfabeto árabe. A interpretação dessas diferenças cabe ao leitor.

O Braille é, até hoje, fundamental para pessoas com deficiência visual em todo o mundo, possibilitando a formação e produção, principalmente cultural, de milhares de pessoas. Na URSS, as pessoas cegas e com baixa-visão além de simplesmente poderem escrever, puderam ter acesso ao conhecimento e usá-lo de forma ativa na construção do socialismo. 

Atualmente, o Braille facilita o acesso à literatura em regiões com baixo fornecimento de Internet/tecnologia no geral e está presente em placas, elevadores, museus, etc.

Mas isso só acontece por conta da luta, organizada e combativa, de muitos e muitas que vieram antes de nós. Os exploradores preferem que nós cegos vivamos na ignorância e dificultam por todos os meios o acesso ao Braille, mantendo em baixa a produção do maquinário e das matérias-primas específicas. Um livro que, em tinta, teria 55 páginas, pode custar, para sua impressão em Braille, entre R$250 e R$900. A grande maioria das pessoas com deficiência visual tem pouco ou nenhum domínio do Braille, já que o capitalismo nos mantém na pobreza, as escolas não são — propositalmente — equipadas com o material necessário e adquiri-lo individualmente é caro e/ou burocrático. 

Há quem defenda que o Braille está “obsoleto”, por conta dos meios digitais como PDFs, e-books, etc., mas não é verdade. É óbvio que em relação ao século passado, onde as opções eram o Braille ou a boa vontade alheia, a possibilidade de ler um e-book proporciona um grande avanço em autonomia, e hoje a maioria das pessoas que usariam o Braille recorre a estes meios. Mas, em primeiro lugar, o Braille não dá acesso apenas a livros, mas também panfletos, cardápios, cartazes, placas, botões de aparelhos eletrônicos, etc., e, em segundo lugar, é um meio que não depende do fornecimento nem de Internet nem de energia elétrica, e, consequentemente, não está sujeito a problemas que esses meios têm, como instabilidade ou corte no fornecimento.

Por isso, é tarefa de todos que lutam por um novo mundo, justo, fraterno e socialista, defender o Sistema Braille como um patrimônio intelectual de toda a humanidade, que deve ser conhecido pelo povo, incentivado pelo estado e parte integrante de qualquer ideia que se faça de acessibilidade, impulsionando a produção nacional dos materiais necessários e introduzindo-o na educação e na cultura. Isso deve ocorrer não em detrimento da tecnologia, mas aliando-se a ela, aperfeiçoando sua forma de produção e tornando o Braille cada vez mais naquilo que Louis Braille pretendeu e defendeu que fosse até sua prematura morte: um sistema que permitisse às pessoas com deficiência visual acessar, produzir e trazer avanços para a cultura e a ciência.

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