Casa da Morte foi usada pelo Exército para torturar e assassinar

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Heron Barroso | Redação

Por 21 longos anos (1964-1985), as Forças Armadas impuseram uma ditadura militar fascista em nosso país, que perseguiu, censurou, prendeu, sequestrou, torturou e estuprou mais de 30 mil brasileiros, verdadeiros patriotas que lutavam pela liberdade e a democracia no Brasil. Destes, 434 foram mortos sob tortura ou desapareceram, segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, divulgado em 2014. 

Para calar quem era contra a ditadura, os militares montaram uma extensa rede de repressão. Além das estruturas oficiais (Dops, DOI-Codi, Cenimar, etc.), localizadas em todas as cidades onde havia algum quartel do Exército, Marinha ou Aeronáutica, a ditadura também criou centros clandestinos de tortura e execução de presos políticos. O objetivo era impedir o acesso de familiares e advogados aos presos e evitar a identificação dos torturadores, em especial da linha de comando, como acontecia quando a tortura era praticada dentro de quartéis ou delegacias. Dessa forma, era quase impossível conseguir pistas que levassem à identificação dos militantes presos e às circunstâncias em torno das prisões, torturas, mortes e desaparecimentos.

Esses aparelhos clandestinos eram montados em imóveis particulares cedidos por colaboradores da ditadura, entre eles, muitos empresários e fazendeiros. 

Um dos mais conhecidos foi a chamada Casa da Morte, localizada à Rua Arthur Barbosa, nº 120, no bairro de Caxambu, em Petrópolis (RJ). O imóvel funcionou durante os anos 1970 para a tortura e assassinato de presos políticos. Por lá passaram militantes como Honestino Guimarães, Ana Rosa Kucinski, David Capistrano, Marilena Villas Boas, Fernando Santa Cruz e o ex-deputado Rubens Paiva, entre outros.

Coordenado pelo Centro de Informações do Exército (CIE), o lugar só veio a público em 1979, após a corajosa denúncia feita por Inês Etienne Romeu, ex-militante da VAR-Palmares e única pessoa que sobreviveu à Casa da Morte. Inês havia sido presa pela equipe do delegado fascista Sérgio Paranhos Fleury em São Paulo, no dia 5 de maio de 1971. Levada a Petrópolis, foi torturada e estuprada por 96 dias. Só saiu viva após mentir e convencer seus algozes de que havia concordado em colaborar com a repressão.

“Aqui é o inferno”

Segundo o tenente-coronel reformado Paulo Malhães, assassinado em abril de 2014, em circunstâncias ainda hoje não esclarecidas, a Casa da Morte de Petrópolis era chamada pelos militares de “Centro de Conveniência” e utilizada para tentar convencer, por meio de tortura, os presos a traírem seus ideais e virarem informantes da ditadura. “Para virar alguém, tinha que destruir convicções sobre comunismo. Claro que a gente dava sustos e o susto era sempre a morte. A casa de Petrópolis era para isso”, confessou Malhães. “Aqui não é o Exército, nem a Marinha e nem a Aeronáutica, aqui é o inferno”, diziam. 

As torturas e métodos usados pelos militares para obter informações de presos políticos eram cruéis. Os presos tinham seus mamilos arrancados com alicates, eram obrigados a tomar banhos de ácido e, antes de morrerem, tinham seus testículos amassados, arames introduzidos pela uretra, cabos de vassouras enfiados no ânus, dentes e unhas arrancados e olhos furados. As mulheres presas eram estupradas, frequentemente por mais de um militar.

Ditadura militar nunca mais!

As Forças Armadas brasileiras têm uma longa ficha corrida de crimes cometidos para defender os privilégios das classes dominantes de nosso país. Junto com a polícia, o Exército burguês é um instrumento fundamental para reprimir os trabalhadores e impedir uma transformação profunda no Brasil, que acabe com a fome, o desemprego e a exploração de nossas riquezas pelos monopólios capitalistas. 

Por isso, a volta dos militares ao poder, como querem os vândalos fascistas que barbarizaram Brasília no último dia 8 de janeiro, representaria o aumento da repressão, da tortura, da censura e o fim das liberdades democráticas no Brasil.

Nosso país não precisa de uma nova ditadura militar, mas de um governo verdadeiramente popular, que enfrente os interesses dos ricos e poderosos e construa a verdadeira democracia, o socialismo. O povo sabe disso, e nas manifestações contra o golpe fascista grita em alto e bom som: Ditadura militar nunca mais!

Matéria publicada na edição nº 264 do Jornal A Verdade