UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 24 de novembro de 2024

Comunidades terapêuticas se tornaram as principais operadoras das políticas públicas de saúde mental no país

Outros Artigos

Nos últimos anos, as comunidades terapêuticas tornaram-se as principais executoras das políticas públicas da saúde mental para o tratamento de pessoas que fazem o uso de drogas, recebendo estímulo financeiro dos municípios, estados e da União para a contratação de profissionais e para o funcionamento das instituições.

Amanda de Lucca


Mogi das Cruzes – As comunidades terapêuticas estão presentes no país desde a década de 60, sendo instituições privadas que ofertam internações (em sua maioria involuntária ou compulsória) para pessoas que realizam o uso de drogas. Seu surgimento e, principalmente, o aumento de investimentos dos últimos anos, vem na contramão da Reforma Psiquiátrica que ocorreu no final dos anos 70, realizada graças à luta antimanicomial.

O retrocesso começa em 2011, quando o governo iniciou o programa “Crack, é possível vencer” restabelecendo as internações involuntárias aos indivíduos que fazem o uso abusivo de drogas. Entretanto, no governo fascista de Bolsonaro, ao encerrar a Política Nacional de Redução de Danos, este cenário foi intensificado.

No primeiro ano do governo genocida de Bolsonaro, somente o Ministério da Cidadania – responsável pelo programa de comunidades terapêuticas – transferiu mais de R$ 81 milhões. Em 2021, o valor estimado foi de R$ 134 milhões, resultando em um aumento de 65%, enquanto nos atendimentos psicossociais dos dependentes de álcool e drogas, conhecidos como CAPS AD, foi de 11%.

As violações de direitos como forma de tratamento

A violação de direitos humanos é uma prática cotidiana dentro das comunidades terapêuticas. Segundo o Relatório da Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas, estão presentes nessas instituições o isolamento e restrição do convívio social, visitas restritas, confisco de documentos e dinheiros, privação de liberdades, trabalhos análogos a escravidão, etc.

Com o aval de recursos públicos, essas entidades geram formas de exclusão, sofrimentos e maus tratos para sujeitos em sofrimento psíquico ou em uso de substância abusiva. O isolamento (da cidade, dos familiares e durante a internação), a abstinência e a religião são consideradas as principais formas de “tratamento” nas comunidades terapêuticas, mesmo sem evidências científicas e governamentais que comprovem sua eficácia.

O lucro através do sofrimento

Apesar das irregularidades e violações de direitos, Bolsonaro estabeleceu as comunidades terapêuticas como uma política pública para o tratamento em saúde mental.

Assim, é preciso questionar para quem serve as comunidades terapêuticas e qual o propósito desses serviços, uma vez que, além dos donos lucrarem com recursos públicos, ainda exigem o pagamento de mensalidades das famílias dos internos.

A realidade é que as comunidades terapêuticas incentivam abuso físico e psicológico, trabalho escravo e contenção física e química, fundamentando o plano “terapêutico” exclusivamente à religião. Os novos manicômios servem para responder facilmente e de forma incorreta à um problema extremamente complexo, além de auxiliar nos desmonte das RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) e no que estas significam: a integração social, respeito à diversidade e o cuidado em liberdade de pessoas que fazem uso de drogas e que estão em sofrimento psíquico.

Além disso, a lógica manicomial é fortalecida e está diretamente relacionada com o capitalismo, conforme o psiquiátrica Franco Basaglia, “o hospício é construído para controlar e reprimir os trabalhadores que perderam a capacidade de responder aos interesses capitalista de produção”.

A estrutura do manicômio tem em sua raiz a exploração sobre a classe trabalhadora, jogando-a em condições de vida precárias e degradas pela fome, violência do Estado, falta de moradia, emprego entre outras. Assim, defender a luta antimanicomial também é defender a luta contra o capitalismo.

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes