A gestão tucana de Orlando Morando, prefeito que exerce seu segundo mandato como chefe do executivo da cidade de São Bernardo do Campo, tem um histórico de desmonte e ataque à cultura na cidade.
Roseli Simão e Pietro Morgado | Associação de Moradores do Bairro 3 Marias
SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP) – Em 2012 o bairro Três Marias no Cooperativa conquistou um Centro Educacional Unificado, também conhecido como CEU, que deveria ser um ambiente dedicado à práticas esportivas, recreativas, culturais e educacionais.
Contudo, o centro mal pôde cumprir seu papel. Apenas 3 anos após sua construção, em 2015, o Teatro do local sofreu uma pane elétrica, causada por falta de manutenção, e resultou em um incêndio que o destruiu e impossibilitou a sua utilização.
De lá para cá, os movimentos e famílias de toda a região (3 Marias, bairro Cooperativa, Alves Dias, Nazaré, Vila Ferreira, entre outros) seguem em luta pela reconstrução e reativação do espaço que era o único local de arte, vitória e lazer da região.
O grande problema é que, desde então, os governos da cidade, que não se preocupam com a população periférica e com a cultura da comunidade, se negaram a ouvir a população, o que fez com que até hoje o espaço continuasse sem o menor sinal de reconstrução e estivesse abandonado. Pior! No último mês, depois de 8 anos, o Prefeito Orlando Morando anunciou em um decreto que o teatro seria demolido. E rapidamente o colocou em prática.
A desculpa do prefeito fascista é que a demolição servirá para abrir novas salas de aula. Mas a verdade é que o CÉU tem hoje salas inativadas e que a creche, já existente na região foi fechada, e as mães precisam se descolar com suas crianças até outro bairro para garantir o direito de estudar e se desenvolverem. Ou seja, a demolição do Teatro se apropria da luta histórica da cidade pelo direito a creche e abertura de novas salas de aula para justificar o caráter antipovo dessa gestão.
Com a demolição do Teatro os moradores do Três Marias e região do Cooperativa estarão carentes de atividades culturais, visto que também não há outras ações ou incentivos deste tipo sendo desenvolvidas na região e em outros bairros da periferia da cidade, como é o caso do Jardim Silvina que também tem um teatro com risco de ser demolido.
A cultura e a arte cumprem um papel importantíssimo na educação e devem ser fomentadas, pois são essenciais na formação pessoal, moral e intelectual de toda a população e principalmente dos jovens.
Histórico de ataque à cultura
Existem muitos talentos que são desperdiçados justamente por falta de oportunidade e espaço para se desenvolver. E a Prefeitura ainda ataca os espaços culturais da cidade. Exemplos disso são a destruição do CLAC(Centro Livre de Artes Cênicas), o desmonte do CAV(Centro de Audiovisual) e a constante perseguição aos movimentos artísticos periféricos como é o caso da Batalha da Matrix, que desde que retornou às atividades em 2022 vem sofrendo ataques da prefeitura em forma de multas abusivas aos organizadores do evento.
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Hellen, 40 anos, que têm quatro filhos e é moradora do Três Marias há 10 anos, conta: “É uma revolta, porque as crianças já não têm acesso a nada, e a única oportunidade que eles tinham, que era o teatro, eles estão demolindo. Falam que vão ampliar a escola, mas as crianças vão ficar esse tempo todo na escola fazendo o que? Aprendendo o que? O dia inteiro só em sala de aula, escrevendo, não vão ter acesso a cultura, enquanto os filhos dos ricos, que é pra quem esse prefeito governa, tem tudo do bom e do melhor. Inclusive, eles estão demolindo o teatro, falando que vão ampliar as salas de aula, porém tiraram até as creches das mães que precisam trabalhar. O meu sobrinho, que é filho de uma mãe solo que precisa trabalhar, foi realocado da creche do CEU, para uma sala de um clube de futebol sem estrutura nenhuma para receber as crianças. O ônibus não pega as crianças na porta, deixa elas na esquina, quando está chovendo é uma judiação. Então, além de demolir o teatro ele não tem planos de voltar a creche para o CEU”.
Em uma visita recente ao bairro, para justificar seu ato ao povo, Morando disse que não havia demanda para um teatro na região. O que o prefeito não considera é que nas proximidades moram cerca de 60 mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos.
A verdade é que essa gestão racista e burguesa se utiliza da necessidade de ampliação de vagas nas escolas para esconder seu ataque à arte e à cultura.
Mesmo com todas as ações dessa prefeitura, em conivência com sua base na Câmara de Vereadores, que agem contra o povo, a população segue se mobilizando para demonstrar sua discordância com a demolição do teatro.
A Associação de Moradores do Três Marias, junto com um Comitê de Resistência da Cidade composto por diversos movimentos sociais e coletivos artísticos de São Bernardo do Campo, vem se organizando e dialogando com a população com a intenção de denunciar e resistir a mais esse ataque contra o povo trabalhador, e em especial, a juventude periférica. Além de vários atos e ações já realizadas nos últimos dias, está em mobilização um Ato Artístico para o dia 19 de Fevereiro para mostrar ao prefeito que a periferia quer sim educação e quer também o direito a cultura, exigindo um espaço artístico na região.
Como bem disse a Dona Cristiane, moradora do bairro, enquanto assistia à demolição do teatro com o coração partido e muita revolta, ela disse: “Essa ditadura dos ricos e de seus representantes só mudará quando o povo organizado derrubar esse sistema opressor da classe trabalhadora”.