Denúncia revela que durante a gestão do ex-capitão Jair Bolsonaro, a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) espionou milhares de brasileiros como forma de perseguição política.
Andrei Rodrigues | Rio de Janeiro
BRASIL — Desde a posse do Governo Lula, diversos crimes cometidos por Bolsonaro e seus cúmplices foram revelados. É o caso, por exemplo, do genocídio sistemático do povo Yanomami, denunciado no jornal A Verdade nº265.
Mais recentemente, a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), Agência Brasileira de Inteligência – órgão responsável pelo fornecimento de dados estratégicos sobre a integridade do Estado, foi denunciada por espionar dezenas de milhares de brasileiros durante a gestão do fascista Bolsonaro.
Durante o governo de Bolsonaro, a ABIN estava subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional do general Augusto Heleno, um militar que liderou operações militares de destruição nos primeiros anos da sangrenta ocupação da ONU no Haiti em 2004¹.
Bolsonaro gastou R$5,7 milhões para espionar povo brasileiro
Em ofício ao diretor da Polícia Federal, o ministro da Justiça Flávio Dino denunciou que “a instituição teria contratado, em caráter sigiloso, um sistema secreto para monitorar, ilegalmente, os passos de proprietários de aparelhos de telefonia móvel. Com essa ferramenta tecnológica, a Abin consegue acessar o histórico de deslocamentos e receber alertas em tempo real.”
Em nota, a ABIN afirmou que a ferramenta em questão, o software “FirstMile” (vendido pelo preço de R$5,7 milhões por uma empresa israelense), foi de fato empregado durante o governo Bolsonaro mas que já não estava em uso. Se usado em sua capacidade máxima, o aplicativo é capaz de monitorar a localização e acessar históricos de deslocamento de 10 mil celulares a cada 12 meses.
Segundo alguns investigadores do caso, o sistema é capaz de até mesmo captar áudio com os aparelhos desligados e em modo avião. E isso tudo era possível com a simples digitação de um número telefônico.
Monitoramento de opositores políticos
Ao comentar sobre a questão, o ex-vice-presidente, general Hamilton Mourão, defendeu a espionagem justificando que “A Agência deve monitorar qualquer elemento nocivo ao Estado brasileiro”.
Declaração nada chocante vinda de um representante fiel de um governo fascista presidido por um admirador da ditadura responsável pela morte de mais de 700 mil brasileiros durante a pandemia de Covid-19 e que teve como principais inimigos negros, mulheres, indígenas, estudantes, pessoas da comunidade LGBTIA+ e os movimentos sociais.
No momento, a questão está sendo apurada pelo Senado em consonância com a Polícia Federal. Em sessão da Comissão de Segurança Pública, foi aprovado o convite do ex-diretor geral da ABIN, Alexandre Ramagem (PL) para responder a respeito da espionagem ilegal e inconstitucional feita pela agência.
Enquanto não chegam mais informações, é preciso além de aprofundar o debate a respeito da segurança digital e do uso liberal das redes, reivindicar nas ruas a punição imediata de Bolsonaro e seus cúmplices por esse e os diversos outros crimes cometidos contra o povo brasileiro.
Notas
1- Entre 2004 e 2017, a ONU criou a MINUSTAH, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, uma operação de intervenção militar que tinha como supostos objetivos a pacificação do território haitiano e a eliminação de grupos rebeldes e guerrilheiros na ilha. A MINUSTAH, comandada inicialmente pelo General Augusto Heleno, deixou um rastro de destruição, vítimas e violência no país. Além da execução de ativistas políticos e outros inocentes, a “missão de paz” foi responsável por atrocidades como o estupro de diversas haitianas e o surto de cólera descontrolado no país.