Carta: unir a luta anticapacitista ao movimento estudantil

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Lúcio Franco

Movimento Correnteza – UFRB

Carlos* é uma pessoa esquizofrênica, mas, ao buscar seus direitos como poder realizar uma prova numa outra data sem a entrega de atestado e aumento de prazos na entrega de trabalhos, ouviu de um dos funcionários de sua universidade que isso só aconteceria caso tivesse conversa prévia com o professor. Lúcio aprendeu na prática que, mesmo quanto o docente dá uma segunda chamada para um teste, ele poderia ouvir zombarias sobre sua necessidade. Pois ele após relatar a crise sensorial que teve, a professora falou em direção a outro aluno: “É Janderson, você ficou gripado e fez a prova, enquanto gente com problemas menores estava ausente”.

Tais acontecimentos relatados acima estão longe de ser meras experiências pessoais. Diversas pessoas com deficiência (PCDs) relatam ter que pedir por determinado direito para que este seja atendido, seja por acesso à um intérprete de libras, o funcionamento do elevador, ficar sozinho numa sala de aula para realização de uma prova, entre outros. Ou seja, é necessário estarmos atentos, sermos verdadeiros coletivos de um homem só, mas nem sempre sequer sabemos quando possuímos um direito. Por isso é necessário que o movimento estudantil lute para que a nossa chegada a universidade seja sem dificuldades, e não tenhamos que desistir de acessá-la ou até mesmo sejamos expulsos por não cumprir uma carga horária. 

Apesar de Bolsonaro ter posto intérpretes de libras em suas lives, tentando passar a impressão de que era finalmente uma gestão pelas pessoas com deficiência, seu governo retrocedeu as políticas públicas desses cidadãos. A exemplo da criação da Política Nacional de Educação Especial, que incentiva a criação de classes e escolas exclusivas para pessoas com deficiência, causando segregação, fazendo com que as pessoas sem deficiência não entendam ou saibam das nossas demandas, por simplesmente não nos perceber no seu dia-a-dia.

Para sermos de fato anticapacitistas no movimento estudantil universitário, é necessário unirmos a luta anticapacitista ao movimento dos secundaristas. Pois, segundo dados de 2021 da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 70% das pessoas com deficiência no Brasil, não concluíram o ensino fundamental, sendo que apenas 5% chegam a terminar o ensino superior. Apesar do aumento da participação desses alunos nos últimos dez anos, em 144,8% (plataforma Quero Bolsa – 2019). Para garantir a assistência, precisamos de um maior orçamento público na educação, para garantir bolsas, restaurante universitário, arquitetura e estrutura dos prédios, pensando que esses estudantes com deficiência são em sua maioria de baixa renda. Por isso, a necessidade de pressionarmos todos os governos no capitalismo, por mais progressistas que eles tentem ser, e construir um sistema onde não divida corpos entre capazes e incapazes.

Exemplo de arquitetura não-inclusiva (Foto: O Globo / Reprodução)