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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Entrevista com Edinho Vieira: “Temos que unir o povo pobre para lutar pela reforma urbana”

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Dando seguimento à série de entrevistas com lideranças do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), o jornal A Verdade entrevista o companheiro Edinho Vieira, de Minas Gerais. Morador da ocupação Carolina Maria de Jesus, no centro de Belo Horizonte, Edinho é uma das lideranças mais jovens do MLB. Na entrevista, ele conta como conheceu o movimento e quais os desafios atuais da luta por moradia. 

Queops Damasceno | São Paulo (SP)


A Verdade: Edinho, você pode se apresentar para os nossos leitores?

Edinho: Eu me chamo Manoel Inácio Moreira Vieira, tenho 28 anos. Meus amigos e companheiros me chamam de Edinho. Nasci em 1994, na cidade de Araçuaí, localizada no Vale do Jequitinhonha, região nordeste de Minas Gerais. Durante toda minha infância e parte da adolescência, pude observar as pessoas da minha terra irem embora, em grande parte para as usinas de cana-de-açúcar, para a colheita de café ou para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida.

Comigo não foi diferente. Aos 15 anos, vendo minha maioridade se aproximar e faltando perspectivas de trabalho e subsistência, me mudei para Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. Moramos por dois anos de aluguel na casa de um tio meu e depois nos mudamos para a Vila Íris, também em Santa Luzia, onde moramos por mais dois anos. Ali era uma área de risco, ficava às margens do Córrego Bicas e do Rio das Velhas. Se chovia, alagava. Vivíamos em risco de desabamento iminente.

Nessa época, me formei no ensino médio e concluí o curso de Usinagem Mecânica no Senai, no qual aprendi tornearia, retífica, matemática aplicada e o principal: a disciplina que um trabalhador assalariado deve ter. Trabalhei também por quase três anos no setor de expedição em um frigorífico, onde tive meu primeiro contato com a indústria. 

E como você conheceu o MLB? 

Em dezembro de 2013, conheci a ocupação Esperança, na região da Izidora, em Belo Horizonte, através de uma prima que também estava indo morar lá. Daí tive o primeiro contato com o MLB, pois era um dos movimentos que atuava na comunidade contra os despejos. Participei de várias lutas, manifestações de rua, ocupação de órgãos públicos e fui tomando cada vez mais consciência e entendendo a necessidade de lutar, não só pela moradia, mas contra todas essas mazelas que vivemos. Foi então que ingressei no movimento.

Minha atividade principal era a comunicação, pelo meu interesse em fotografia e cinema. Participei de oficinas com outros jovens das comunidades da Izidora, realizadas pelo MLB. Tinha um grande desejo de realizar um filme sobre a nossa luta, a partir do olhar de quem estava de dentro, pois em todo lugar, seja nos jornais impressos, nas rádios ou na TV, o que eu via era a criminalização da nossa luta. Não éramos vagabundos, éramos trabalhadores, porém sem teto. 

Me formei bastante com essas oficinas, não só como profissional, mas enquanto ser humano. Isso faz parte de mim hoje. Fiz um curso livre de cinema com ajuda do movimento e passei a realizar oficinas com novos jovens. 

Quais lutas mais te marcaram no MLB? 

Já tenho quase uma década no movimento. Nesse tempo, tive a oportunidade de participar e organizar inúmeras lutas, mas sempre tem algumas que marcam mais, e a primeira a gente nunca esquece. No dia 23 de dezembro de 2014, eu estava voltando de uma luta, onde as comunidades da Izidora foram apoiar a comunidade Novo Paraíso contra a ameaça de despejo que estavam vivendo. Então recebi uma ligação de um companheiro. Ele me falou um endereço e um horário. Compareci e foi assim que participei do meu primeiro Natal Sem Fome. Conquistamos a vitória e daí em diante nunca mais faltei um Natal Sem Fome.

Outra luta que marcou muito foi a primeira ocupação em que participei. As imagens de uma ocupação sendo erguida em uma madrugada fria estão gravadas na minha memória. Quando a polícia chegou, logo que amanheceu, encontrou uma comunidade com mais de uma centena de barracos levantados, uma creche e uma cozinha coletiva com um café quentinho, que tinha acabado de sair. Foi quando percebi o quão alto era o nível de organização do MLB. Essa era a ocupação Paulo Freire, que completa 8 anos no próximo mês de maio. 

O que você acha do momento político que estamos vivendo?

Vivemos um momento de um profundo acirramento da luta de classes. O capitalismo vem mostrando sua face mais reacionária, o fascismo, em vários cantos do mundo. No Brasil, tivemos o golpe contra a presidenta Dilma, em 2016. Em seu lugar os golpistas colocaram em prática uma extensa agenda de retrocessos. As reformas trabalhista e da previdência e a PEC do teto de gastos são alguns exemplos que temos desse retrocesso.

Em 2018, a eleição do fascista Bolsonaro deu continuidade a esse projeto de retirada de direitos, causando uma grande piora nas condições de vida dos trabalhadores. A pandemia da Covid-19, virou uma verdadeira arma na mão de Bolsonaro, sem contar as várias tentativas de golpe militar para explorar ainda mais o povo.

Em todo esse período, houve resistência dos movimentos populares, que mobilizaram cada vez mais o povo. O MLB esteve presente em todo esse processo. Organizamos panelaços, mobilizações de rua e ações de denúncia contra a fome e a carestia. O movimento organizou também uma grande campanha de solidariedade para ajudar aqueles que mais sofreram com a fome na pandemia.

Todas essas lutas levaram a um grande desgaste do candidato da extrema direita, sendo derrotado nas urnas. Mesmo utilizando toda a máquina pública e diversos esquemas de corrupção, não conseguiu se reeleger.

Quais são os desafios que o MLB terá no próximo período?

Temos uma grande tarefa pela frente, mesmo com a derrota de Bolsonaro e a eleição de Lula. Não chegaremos a grandes avanços sem muita luta! Mesmo a volta do Minha Casa, Minha Vida não será o suficiente para combater o déficit habitacional em nosso país. Já são mais de 8 milhões de famílias sem teto, sendo expulsas cada vez mais dos centros urbanos para as periferias, e mais de 280 mil pessoas foram jogadas na rua por não terem mais condições de carregar a pesada cruz do aluguel.

São 33 milhões de brasileiros passando fome e mais da metade da população sofre de insegurança alimentar. Falta saneamento para metade da população e durante a pandemia não tinha água nem se quer para lavar as mãos nos bairros mais pobres. 

Temos a grande tarefa de unir o povo pobre para lutar pela reforma urbana e pelo socialismo. Durante a pandemia, o MLB organizou uma grande jornada de luta pela moradia, realizando quase 30 ocupações de norte a sul do país. Precisamos crescer ainda mais nossa mobilização e transformar essas dezenas de ocupações em centenas e, depois, em milhares. 

Precisamos avançar ainda mais na luta contra a fome, porque um país tão rico, que tem mais cabeça de gado do que pessoas, não pode ter gente em filas para pegar ossos e sobras em açougues e supermercados. Precisamos acabar de uma vez por todas com esse sistema, onde um pequeno grupo de pessoas que não trabalha, se apropria de toda a riqueza produzida pelos trabalhadores. Eu acredito numa sociedade justa, onde essas mazelas não mais existam. E aproveito o espaço dessa entrevista para fazer um chamado, um convite a se somarem na luta por essa sociedade, o socialismo.

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