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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Enxurrada em Petrópolis completa um ano, sem respostas

Ana Auler, Christian Vincenzi e Marcos Vinícius dos Santos | Petrópolis (RJ)


BRASIL – No último dia 15 de fevereiro, completou-se um ano de uma das maiores tragédias socioambientais do Estado do Rio de Janeiro. Um forte temporal atingiu a parte central de Petrópolis, além de bairros adjacentes, deixando 241 mortos, milhares de desabrigados, além de traumas incalculáveis para a população trabalhadora da cidade.

Água e terra de deslizamentos invadiram casas, ruas e comunidades, áreas inteiras foram interditadas e soterradas pelos deslizamentos. A chuva levou tudo e todos no seu caminho, produzindo cenas que chocaram o país e o mundo, causando danos irreparáveis.

Recursos foram mobilizados para dar conta do auge da crise e garantir algum nível de assistência aos moradores afetados, incluindo abrigos temporários, roupas, brinquedos, colchões, itens de higiene, comida e água potável. A solidariedade e mobilização do povo foram fundamentais. Movimentos sociais e partidos de esquerda foram imprescindíveis nas denúncias, na mobilização e nas campanhas de solidariedade e de voluntários.

Descaso dos governos aumenta risco

Segundo dados do MapBiomas, 70 mil petropolitanos moram em áreas de risco e podem perder suas casas em uma nova catástrofe. Não há nenhuma política verdadeira de infraestrutura ou habitação que busque zerar esta estatística. Muitas comunidades contam com sirenes e pontos de apoio, que, na realidade, não resolvem o problema.

Embora investimentos tenham sido realizados, como a dragagem de rios e muitas obras de contenção, além da explosão de várias pedras em áreas de risco, a cidade continua despreparada para uma chuva do tipo, sem garantia de segurança para a maioria dos moradores.

Além do mais, o aluguel social é insuficiente, teve seu valor reduzido e é burocrático, enquanto os donos de imóveis aumentam os aluguéis ou se recusam a receber o aluguel social.

Desde a catástrofe de 2011, uma comissão especial da Alerj aprovou 42 recomendações, mas praticamente nenhuma foi atendida pelos sucessivos governos estaduais (Cabral, Pezão, Witzel e Cláudio Castro). Mais do que isso: uma verba federal de mais de R$ 400 milhões para prevenção de tragédias deveria ter sido investida em 2021 por Cláudio Castro em todo o Estado, mas apenas R$ 167,2 milhões foram executados.

No dia 13 de fevereiro de 2022, dois dias antes da tragédia, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) emitiu um alerta de “evento meteorológico muito intenso” na região de Petrópolis. Apesar de não ser possível saber a localização exata e o horário do evento, nenhuma medida emergencial foi tomada e o povo petropolitano pagou o preço máximo por esse descaso.

Em 2022, o Governo Bolsonaro cortou 45% dos recursos para combate a desastres. Além disso, havia uma verba de quase R$ 1 bilhão prevista para prevenção de catástrofes no Rio de Janeiro e para obras de manejo de águas pluviais, mas apenas R$ 53 milhões foram pagos pelo Ministério do Desenvolvimento Regional ao longo destes últimos anos.

Esta não foi a primeira e não será a última ‘tragédia’’, pois, há décadas, a chuva causa danos massivos nas periferias.

Petrópolis tem um alto volume de chuvas no ano inteiro, mas, assim como em diversos locais do país, os governos, pautados pela lógica capitalista, são incapazes de dar resposta às necessidades do povo trabalhador.

Essa situação é resultado da falta de investimentos nas áreas populares e periféricas das cidades. As chuvas são naturais e ocorrem todo ano; o que falta é uma política de planejamento urbano que previna enchentes e deslizamentos, que garanta moradia digna para cada família.

As campanhas de solidariedade são importantíssimas e vimos o seu efeito em garantir o mínimo para o povo afetado, mas são apenas paliativas e de forma alguma são capazes de resolver o problema estrutural que garanta que não haverá outras tragédias.

Não basta promover ações solidárias, mas sim organizar o povo das cidades e bairros atingidos, em especial as que habitam as zonas de risco, para conquistar políticas de planejamento que evitem mais mortes e destruição pelas chuvas que ocorrem todos os anos.

Litoral Paulista

No último mês de fevereiro, as cenas se repetiram no Litoral Paulista, com mais 65 pessoas inocentes mortas, 64 destas no Município de São Sebastião, onde o povo pobre vive nos morros, apartado da praia e das mansões, que permaneceram intactas diante da enxurrada histórica.

Matéria publicada na edição impressa nº 266 do jornal A Verdade

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