Realização da ocupação de mulheres em Florianópolis completou 1 ano. Mesmo após despejo, Movimento Olga Benario continua a luta em defesa dos direitos das mulheres.
Áurea Alves, Celina Limeira e Gabi Bala | Florianópolis
A ocupação do Movimento de Mulheres Olga Benario, no Centro de Florianópolis, completou 1 ano no último dia 28 de março. Esta foi a décima ocupação realizada pelo Movimento no Brasil, a Casa de Referência Antonieta de Barros, que ofereceu uma rede de acolhimento, assistência e formação para mulheres vítimas de violência num estado em que os números de feminicídio batem recorde, dobrando ano após ano.
O imóvel que antes se encontrava sem vida, ignorado pelo poder público, devendo milhares de reais de IPTU, passava a cumprir uma função social de extrema importância naquele cenário. Santa Catarina é o sexto estado com mais casos de estupro e o nono estado com mais feminicídios do país – só em Janeiro de 2022, havia registrado um aumento de 300% em relação ao mesmo mês do ano anterior
O nome dado a Casa homenageia uma cidadã catarinense: a ilustre Antonieta de Barros, primeira mulher negra a ser eleita para o parlamento no Brasil. Se formou professora, e trabalhava com a alfabetização de adultos no estado.
Como deputada, Antonieta levantava a bandeira em defesa de uma educação libertadora para todos, e foi responsável por criar o feriado do dia 15 de outubro, Dia do Professor. Ela foi pioneira, uma das figuras mais importantes, na luta das mulheres e da população negra no nosso país, ocupando espaços inclusive dentro da política, e levando consigo pautas em defesa dos direitos daqueles mais oprimidos.
Após apenas 3 meses de ocupação, a justiça burguesa, aliada da iniciativa privada e da especulação imobiliária da nossa cidade, decidiu pela reintegração de posse. Nesse período, pudemos atender diversas mulheres, realizar inúmeras atividades formativas em colaboração com outros movimentos, receber o apoio de vereadoras parceiras e da comunidade, e fazer eventos culturais.
Atentando contra a vida das mulheres, o judiciário correu com o processo, pulou etapas do julgamento e saiu com uma decisão completamente arbitrária. A ação, que ocorreu no dia 9 de junho do ano passado, não teve sequer aviso prévio. Não houve diálogo, a negociação que estava marcada para a semana seguinte foi ignorada, e nenhuma proposta de política pública foi sequer mencionada frente às nossas exigências, mesmo com nossa denúncia incessante sobre a situação da violência contra as mulheres em Santa Catarina.
Depois que a Casa de Referência Antonieta de Barros foi despejada, o imóvel permaneceu abandonado, sem cumprir nenhuma outra função social durante 6 meses até que, no dia 10 de janeiro, a casa foi demolida. No lugar, um novo prédio comercial será construído.
Esse processo mostra o descaso do Estado com a vida e os direitos das mulheres, e deixa claro qual a real prioridade: atender aos desejos da classe dominante. Santa Catarina se mostra, mais uma vez, um lugar hostil para as trabalhadoras, que são oprimidas, exploradas e mortas diariamente, e atacadas quando se colocam na luta pela emancipação.
Mesmo assim, o movimento não abaixou a cabeça. Nossas lutas continuam, não vamos nos calar frente às injustiças. Assim, as mobilizações continuaram, e no começo do ano, as mulheres estiveram organizando o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, uma data historicamente importante que possui origens na luta das mulheres comunistas pela revolução.
Após inúmeras reuniões e debates que aconteceram, partidos e pessoas independentes, decidiu-se que a data homenagearia Antonieta de Barros. O Movimento de Mulheres Olga Benario esteve presente nas rodas de conversa que antecederam o 8 de março trazendo não só nossa linha política de emancipação das mulheres, como também relembrando o nosso trabalho com a Casa de Referência que havíamos realizado, e denunciando a justiça burguesa de Santa Catarina.
Câmara de Vereadores de Florianópolis ataca legado de Antonieta de Barros
No entanto, fomos novamente surpreendidas pela política catarinense, com a notícia de que a Medalha Antonieta de Barros foi entregue para a deputada antifeminista e que luta pela educação privada, Ana Campagnolo. Além disso, não é de se espantar que a inimiga das mulheres seja do mesmo partido que o ex-presidente fascista Bolsonaro, o Partido Liberal.
Esta medalha foi entregue para uma deputada que usa de seu cargo para discriminar e incitar o preconceito contra pessoas negras, a comunidade LGBTIA+, mulheres, sobretudo com professores. Assim demonstra em seus atos, através da ação judicial em 2018, movida pelo Ministério Público de Santa Catarina contra a Campagnolo, devido incitar pessoas a realizarem filmagens de professores em sala de aula, para a mesma expor em suas redes sociais.
A honraria da medalha concedida pela Câmara de Vereadores de Florianópolis, representou não só desrespeito com a memória de Antonieta de Barros, mas também demonstra que se faz mais que necessário a organização do povo para combater as forças fascistas que ainda atuam nesses cargos parlamentares.
Neste cenário, a população foi às ruas no 8 de março em defesa dos nossos direitos, contra o racismo, pela vida das mulheres, e em defesa da memória de Antonieta! Exigimos respeito! Assim, foi construído um grande ato que tomou conta das ruas da capital.
As mulheres resistem, e o Movimento de Mulheres Olga Benario se fortalece cada vez mais, sempre na luta, pois só a luta pode mudar nossa situação e nos levar à verdadeira emancipação. Rumo à revolução que irá pôr fim ao sistema capitalista e instaurar o socialismo.