Em meio ao processo eleitoral na Turquia, a esquerda e os democratas se preparam para tentar tirar o presidente reacionário Recep Erdogan e seu partido do poder. Confira abaixo alguns trechos da entrevista do jornal turco Evrensel com a vice-presidente do Partido do Trabalho da Turquia, Selma Gurkan.
Redação
INTERNACIONAL – Milhões de turcos irão às urnas, no próximo dia 14 de maio, para eleger o novo presidente e 600 deputados da assembleia nacional. O povo turco vive há 20 anos sob o governo liderado pelo atual presidente Recep Tayyip Erdogan, que foi primeiro-ministro entre 2003 e 2014, e desde então preside o país.
O partido reacionário de Erdogan, vem ano após ano se aproveitando de uma legislação eleitoral antidemocrática e a posição estratégica da Turquia como membro da OTAN. Esta situação garantiu que ele pudesse governar de forma autoritária, perseguindo militantes sociais, opositores e a minorias étnicas, como os curdos.
O jornal turco Evrensel, parceiro do Jornal A Verdade, fez uma entrevista com Selma Gurkan, vice-presidente do Partido do Trabalho da Turquia (EMEP) e candidata pelo distrito de Ancara ao parlamento. O EMEP participa de uma coligação dos partidos de esquerda contra o governo reacionário de Erdogan, a Aliança Trabalho e Liberdade. Reproduzimos aqui alguns trechos da entrevista. A entrevista completa (em turco) pode ser encontrada neste link.
Poder popular é o que deve decidir os rumos da Turquia, defende o EMEP
O principal ponto que o EMEP e a Aliança Trabalho e Liberdade vem defendendo nestas eleições é a necessidade de ampliar o controle do povo sobre as decisões do país. Hoje, a Turquia é governada por um parlamento de 600 pessoas eleito por uma legislação extremamente antidemocrática, com uma cláusula de barreira de 10% para um partido eleger um deputado.
De acordo com Selma Gurkan, “o povo deve estar representado no parlamento. Mas 600 políticos profissionais não devem tomar a decisão final. Como os recursos públicos serão usados, como o orçamento será planejado, quais necessidades do povo serão gastas devem ser decididas pelo poder popular organizado.”
Ainda segundo Gurkan, há a necessidade de se defender uma política externa independente na Turquia, que é membro da OTAN (aliança imperialista liderada pelos EUA). “Defendemos uma política externa independente das potências imperialistas, contrária à sua hegemonia na região e baseada na fraternidade e solidariedade dos povos. Defendemos o fim da existência de organizações imperialistas como a OTAN. Temos uma política onde os povos da região decidirão seu próprio futuro e respeitarão a soberania do país.”
Enfrentamento ao fundamentalismo e a perseguição étnica
Outra situação que a Turquia passa é a repressão contra a etnia curda e as políticas fundamentalistas de Recep Erdogan. O país, de maioria muçulmana, tem adotado políticas de estado para reprimir minorias religiosas e Erdogan tem apoiado grupos fundamentalistas dentro e fora do país.
Segundo Gurkan, o EMEP na Turquia defende “uma democracia baseada na solução do problema curdo com base na igualdade de direitos. Um verdadeiro secularismo que acabará com o domínio das seitas religiosas, abolirá o domínio de uma crença sobre a outra e revelará uma verdadeira liberdade de crença, incluindo o direito de não acreditar.”
A militante turca também denuncia as medidas que o governo de Erdogan vem cometendo para subjugar a oposição. Ministros do governo não renunciaram para ser candidatos e vem usando recursos públicos para fazer campanha, o que é ilegal. O próprio Erdogan está usando a estrutura da presidência e cerimônias oficiais para fazer campanha, o que também é proibido no país, assim como no Brasil.
Luta contra legislação eleitoral antidemocrática
Gurkan aponta o esforço que está sendo realizado pela oposição para conseguir garantir a lisura do processo eleitoral. “O HDP (Partido Democrático dos Povos, organização curda que sempre participou das eleições) não pôde participar nas eleições devido ao risco de ser fechado. Devido a legislação, a Esquerda Verde não pode colocar fiscais de urnas. No entanto, haverá cerca de 200.000 urnas e cada urna terá a atribuição de observadores e procuradores. Estamos trabalhando para garantir a segurança das urnas em coordenação com plataformas independentes de cidadãos como Oy ve Ötesi e Turkey Volunteers. O Partido do Trabalha e nossa aliança também estão na Plataforma de Segurança Eleitoral. Visamos a segurança de todas as urnas.”
A Turquia se aproxima de um processo eleitoral histórico. Apesar da legislação extremamente antidemocrática e das tentativas do governo reacionário de Erdogan em limitar a oposição, a esquerda no país se organiza para derrotar a extrema-direita.
Após o terremoto no início do ano, os povos da Turquia vem se revoltando cada vez mais contra o domínio fundamentalista e de direita do governo Erdogan. Está cada vez mais difícil para ele manter o controle do país.