A reitoria da universidade não pode alegar desconhecimento da repulsa que sua parceria com universidades israelenses causou na comunidade interna. Com a resistência de toda a comunidade universitária, servidores, docentes, pesquisadores, estudantes e os movimentos de luta pela libertação da Palestina, a Feira de Universidades Israelenses, conivente e perpetuadora de apartheid e genocídio, foi impedida de ser realizada na Unicamp.
Movimento Correnteza da Unicamp
CAMPINAS – Durante as últimas semanas a realização de uma feira de universidades israelenses na Unicamp causou comoção na comunidade interna e externa. No dia 17 de março, a Unicamp divulgou que sediaria a feira no dia 3 de abril, enviando um convite por e-mail para a comunidade discente. Uma estudante alertou a FEPAL (Federação Árabe-Palestina no Brasil), que escreveu uma carta para a reitoria reivindicando o cancelamento da feira e que a universidade se declarasse território livre de apartheid. A essa demanda, somou-se o Coletivo Anura, composto por pessoas asiáticas amarelas e marrons, que lançou um abaixo-assinado pelo cancelamento da feira.
A partir disso, a importância do cancelamento da feira de universidades israelenses ganhou visibilidade, de modo que forças políticas internas e externas à Unicamp uniram-se para planejar um bem-sucedido ato de boicote à feira. A mobilização foi construída por movimentos e entidades estudantis, a própria FEPAL, a Juventude Sanaúd, o Samidoun, o Caminho Palestino Revolucionário Alternativo, entre outras frentes, movimentos e coletivos que lutam pela libertação palestina.
A reitoria da universidade não pode alegar desconhecimento da repulsa que sua parceria com universidades israelenses causou na comunidade interna. As quatro entidades representativas, DCE (Diretório Central dos Estudantes), APG (Associação Central de Pós-Graduação), STU (Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp) e Adunicamp (Associação de Docentes da Unicamp), enviaram moções pedindo o cancelamento da feira.
A APG e STU pautaram em assembleias onde o corpo de estudantes de pós-graduação e funcionários técnico-administrativos concordaram com essa demanda. Representantes discentes e docentes apresentaram a questão em reunião do Conselho Universitário, no dia 28 de março, sendo que o reitor, Prof. Dr. Antonio José de Almeira Meirelles, mais conhecido como “Tom Zé”, respondeu de forma completamente descabida, citando convênios que a Unicamp tem com universidades israelenses e falando que deveríamos ver os dois lados da questão. Também mencionou que durante a ditadura militar, o Brasil reconheceu a independência de países africanos, o que nada tinha a ver com o assunto.
Sua fala serviu apenas para mostrar os próximos passos dos movimentos: lutar para acabar com os convênios institucionais com as universidades israelenses.
Para além das medidas institucionais, o Coletivo Anura junto com o Movimento Correnteza e a União da Juventude Comunista espalharam cartazes pela universidade exigindo o cancelamento da feira, o que chamou a atenção da imprensa campineira.
As motivações políticas do ato são muitas e fortes. Em primeiro lugar, é uma contradição que a Unicamp, uma universidade que tem um Observatório de Direitos Humanos, fomente relações de cooperação com um regime que declarada e institucionalmente oprime o povo palestino, fato que foi constatado inclusive pela ONU. Em segundo lugar, a universidade é um local de produção de conhecimento, e no caso de Israel, esse conhecimento tem sido utilizado em favor de um genocídio.
A carta da FEPAL nomeia o papel de cada universidade israelense no desenvolvimento de tecnologia utilizada para oprimir o povo palestino, como o Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS) e sua relação com a Universidade de Tel Aviv. Jamais, porém, poderemos confundir o repúdio ao regime de Israel com antissemitismo, uma vez que o ato se opõe não aos judeus, mas ao sionismo e suas políticas que levam ao genocídio. Nesse sentido, todos os povos, de forma igualitária, têm direito à autodeterminação e a gozar de sua liberdade.
Após duas semanas de apelo à reitoria pelo cancelamento da Feira da Universidades Israelenses devido às ligações diretas das universidades convidadas com o genocídio do povo palestino, a comunidade da Unicamp, em conjunto com movimentos da luta pela libertação da Palestina colocou seu peso na rua no dia 03 de abril para demonstrar mais uma vez sua vontade à reitoria: que a Unicamp seja território antifascista e força de apoio na luta por libertação do bravo povo palestino.
O ato saiu em marcha do PB (Prédio Básico) em direção à Comvest, onde o bloco se posicionou na frente do prédio cantando palavras de ordem e solicitando entrada na feira, que era aberta à comunidade universitária e estava montada em espaço público.
Pouco tempo depois, um homem que se dizia parte da organização do evento começou a empurrar es manifestantes, gravar seus rostos sem autorização e tentar forçar entrada no prédio, a situação escalou até ele empurrar uma jovem no chão com bastante agressividade. Nesse momento, o portão lateral da Comvest foi aberto e es manifestantes aproveitaram a oportunidade para tentar entrar na feira, que estava acontecendo em espaço público da universidade.
Nesse momento, a segurança do evento novamente tentou barrar a entrada da comunidade da Unicamp no espaço. As negociações para a entrada no evento, que era, reiteramos, aberto e realizado em espaço público, continuaram por mais algumas horas, durante as quais es manifestantes seguraram sua posição e mantiveram as falas em favor da libertação do povo palestino e suas palavras de ordem contra o genocídio e apartheid.
Com a justificativa de “proteção de patrimônio”, a reitoria de Tom Zé proibiu a entrada des manifestantes e trancou todas as portas da Comvest, tornando assim impossível também a entrada de espectadores e a saída de palestrantes.
Com a resistência de toda a comunidade universitária, servidores, docentes, pesquisadores, estudantes e os movimentos de luta pela libertação da Palestina, a Feira de Universidades Israelenses, conivente e perpetuadora de apartheid e genocídio, foi impedida de ser realizada na Unicamp. Às 16h32 do dia 03 de abril, a reitoria declarou o cancelamento da feira em nota oficial.
O sucesso do ato se deveu não apenas à realização de seu objetivo de boicote, como também à repercussão. Sionistas prontamente se dispuseram a distorcer nosso ato, espalhando que houve violência e classificando nossa ação como antissemita. A autodeterminação dos povos jamais deverá ser utilizada para justificar o massacre que Israel faz com o povo palestino.
Exigimos que a Unicamp acabe definitivamente com qualquer tipo de parceria com as universidades israelenses e se declare permanentemente território livre de apartheid! Palestina livre do rio ao mar!