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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

A preparação da União Soviética para enfrentar o nazifascismo

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Leonardo Péricles | Presidente da UP


Tendo à frente um dos partidos comunistas mais organizados da história, a classe operária russa realizou, em 1917, a gloriosa Revolução Socialista. Pela primeira vez no mundo¹, a classe operária conquistava o poder, derrotava a resistência da burguesia e dos latifundiários e iniciava a construção de uma república socialista.

Desde esse extraordinário triunfo, os bolcheviques foram obrigados a enfrentar vários momentos difíceis e várias guerras provocadas pelos países imperialistas. É importante lembrarmos que a própria Revolução foi vitoriosa em meio à 1ª Guerra Mundial. Nesse período, o povo, cansado e massacrado por uma guerra que atendia somente aos interesses do czar e da burguesia, fez a Revolução Democrática, em fevereiro de 1917 (no antigo calendário russo), e depois, em outubro, levantou-se por “Paz, terra e pão”, conquistando o poder por meio de uma insurreição armada dirigida pelo Partido Bolchevique. No início de 1918, a República dos Sovietes da Rússia² assinou um tratado de paz em separado com a Alemanha e saiu da guerra imperialista.

Por meio de uma grande e mentirosa propaganda anticomunista, exércitos financiados por latifundiários e demais setores da antiga classe dominante receberam o apoio de tropas e armamentos de 14 países (França, Grã-Bretanha, Japão, Alemanha, Itália, EUA, Tchecoslováquia, Sérvia, China, Finlândia, Grécia, Polônia, Romênia e Turquia) e invadiram a Rússia Soviética. Os chamados Guardas Brancos eram chefiados principalmente por ex-oficiais czaristas, como o almirante Koltchak³ e o general Denikin4. Mas a Revolução seguiu sua marcha e, em 1921, o Partido Bolchevique, a classe operária e o povo venceram a guerra civil. Com a vitória, o poder soviético saiu fortalecido e iniciou-se, de fato, a construção do socialismo com uma nova política, a NEP5, com a garantia de investimentos suficientes para alavancar a indústria.

Após a nova derrota, a burguesia internacional adotou outras táticas para tentar minar a revolução: uma enorme propaganda anticomunista, a infiltração no Estado e nas empresas socialistas e a cooptação de membros do Partido Bolchevique. Os Estados Unidos passaram a realizar uma verdadeira cruzada, financiando grupos reacionários ao redor do mundo e publicando milhares de jornais, revistas e folhetos com mentiras sobre as supostas “vítimas do comunismo bolchevique” (as fake news vêm de longe…). Membros dos Guardas Brancos e, em especial, oficiais do antigo exército czarista e da Okhrana (polícia czarista) foram para a Alemanha e se integraram ao recém-criado Partido Nazista, que começava a desenvolver seus planos naquele país.

A construção do socialismo

Nos dez primeiros anos da Revolução, a prioridade do Partido Bolchevique foi consolidar o processo revolucionário nas grandes cidades e acelerar o processo de industrialização do país. Destacamos aqui o importante exemplo soviético para alcançar a independência real: a construção de uma indústria desenvolvida, alavancada por poderosos investimentos em ciência e tecnologia.

O trabalho da industrialização foi imensamente vitorioso para a consolidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Lênin, principal líder da Revolução e chefe de Estado, depois de ter sofrido um criminoso atentado, em 1922, passou a ter diversos problemas de saúde e veio a falecer em 1924, causando uma enorme perda para o Partido e para a Nação. Posteriormente, após grande discussão em suas fileiras de militantes e em sua direção, o Partido Bolchevique decidiu que Josef Stálin assumiria o comando da Revolução.

A preparação contra o nazifascismo 

Desde o fim da guerra civil, o Partido Bolchevique sabia que o risco de uma futura guerra de intervenção visando a destruir o poder soviético seria uma questão de tempo. Neste sentido, é importante desmentir a caluniosa versão apresentada pela burguesia, e por certos historiadores e acadêmicos, de que Stálin teria sido pego de surpresa na invasão da URSS pelos nazistas, em 1941. Quem fala isso, ou o faz por má-fé ou por total desconhecimento do movimento comunista, principalmente no início do século 20.

Naquela época, o Movimento Comunista encontrava-se extremamente articulado pela 3ª Internacional e redigiu centenas de documentos de análises e alertas à classe trabalhadora mundial sobre o risco que representava o nazifascismo. Destacamos como principal deles o magistral informe de Georgi Dimitrov intitulado A unidade operária contra o fascismo, apresentado no 7º Congresso da Internacional, realizado em 2 de agosto de 1935, portanto, cinco anos antes do início da 2ª Guerra Mundial. Publicado como livro em todo o mundo, o informe da Internacional foi transformado na principal orientação dos partidos comunistas e do movimento popular para vencer o nazifascismo. 

Lembramos ainda que, desde 1922, os comunistas italianos enfrentavam o fascismo no seu país e que, na Alemanha, o Partido Nazista chegou ao poder em 1933 e o único partido que efetivamente o combatia era o Partido Comunista Alemão. Além disso, centenas de artigos e manifestações foram organizados em diversos países, denunciando os objetivos de Hitler de impor uma ditadura mundial do capitalismo alemão.

Na verdade, Stálin e o Partido Bolchevique se prepararam – e com muita antecedência – para enfrentar a guerra que a Alemanha nazista começava a desenvolver e mobilizaram os partidos comunistas e a classe trabalhadora em nível mundial.

No interior da URSS diversas medidas foram adotadas e uma série de iniciativas organizadas para deter uma provável invasão alemã. O Partido sabia que não poderia vencer o nazifascismo sem consolidar o Estado socialista e aprofundar os vínculos com o povo soviético. Finalizamos destacando três pontos determinantes para essa consolidação: 1) o papel da coletivização na agricultura, com o primeiro Plano Quinquenal6; 2) os julgamentos de sabotadores e espiões a serviço do imperialismo alemão; e 3) a depuração do Partido e do Estado soviético.

Esses eventos despertaram um ódio ainda maior da burguesia internacional, que temia que o exemplo soviético de um poder popular se espalhasse pelo mundo, ameaçando a continuidade do sistema capitalista.

No próximo artigo, procuraremos demonstrar a ligação destes fatos com os grandiosos avanços obtidos pela URSS e seu êxito sobre o nazifascismo na 2ª Guerra Mundial.

 

Notas:

  1. Aqui nos referimos à primeira Revolução Socialista que venceu em todo um país e conseguiu se consolidar. Sem deixar de fazer referência à grandiosa Comuna de Paris, que foi a primeira experiência da classe operária no poder, em 1871.
  2. República dos Sovietes da Rússia (RSR): Nome dado à república socialista formada após a Revolução de Outubro de 1917. Teve esse nome até 1922, quando foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
  3. Koltchak, Alexandr Vassiliévitch (1873-1920): Almirante da Marinha czarista, monárquico, um dos principais dirigentes da contrarrevolução na Rússia, em 1918-1919. Depois da Revolução Socialista de Outubro, com o apoio dos imperialistas dos EUA, da Inglaterra e da França, encabeçou uma ditadura militar burguesa e latifundiária nos Urais, na Sibéria e no Extremo Oriente. Os golpes do Exército Vermelho e o crescimento do movimento guerrilheiro revolucionário levaram à liquidação da ditadura de Koltchak, que foi feito prisioneiro e fuzilado.
  4. Denikin, Antón Ivánovitch (1872-1947): General czarista; durante a guerra civil (1918-1921), um dos chefes dos Guardas Brancos. Depois da morte do general Kornilov, foi comandante-chefe das forças armadas dos Guardas Brancos no sul da Rússia. Após a derrota do seu exército pelas tropas soviéticas (março de 1920), emigrou para o estrangeiro.
  5. Nova Política Econômica (NEP): Foi adotada pelo poder soviético por proposta de Lênin e permitiu a participação do capital privado sob controle do Estado em determinadas áreas da indústria, visando a garantir produtos que o cerco capitalista impedia que chegassem à Rússia. Esta política foi encerrada no final da década de 1920 e deu lugar aos planos quinquenais.
  6. Plano Quinquenal: Plano de industrialização e desenvolvimento do país que criava metas que o país deveria alcançar a cada cinco anos. O primeiro Plano Quinquenal substituiu a NEP a partir de 1928.

Obras consultadas:

A Grande Conspiração – A Guerra Secreta Contra a Rússia Soviética. Michael Sayers e Albert E. Kahn, 6ª Edição – Editora Brasiliense, São Paulo, 1959. 

Stálin – Um Novo Olhar. Ludo Martens. Editora Revan, Rio de Janeiro, 2003. 

Problemas Econômicos do Socialismo na URSS. Josef Stálin. Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 1990. 

História do Partido Comunista Bolchevique da URSS. Edições Manoel Lisboa, Recife, 1999.

A Unidade Operária Contra o Fascismo. G. Dimitrov. Edições Manoel Lisboa, Brasil, 2014.

Matéria publicada na edição nº 270 do Jornal A Verdade

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