Há décadas a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) tem a prática de reduzir a pressão na rede de distribuição de água durante a noite na periferia.
Tiago Lourenço* | São Paulo
BRASIL – Com a desculpa de evitar vazamentos não detectados e, desta forma, evitar o desperdício, nos últimos dois anos houve um aumento no tempo da queda de pressão, passando a ser das 21h até as 5h.
A empresa pública afirma que não existe política de racionamento, entretanto, na prática, acontece a interrupção no fornecimento de água para várias famílias, principalmente nas regiões mais distantes e altas, ou seja, nas periferias e favelas. Além disso, muitas casas não possuem caixa d’água, impedindo o armazenamento para utilizar durante a noite.
Os mais afetados com essa prática são, como sempre, o povo pobre e trabalhador, como mostra o depoimento de Yuri Gabriel, morador da periferia da zona oeste de São Paulo: “Resido na favela da PDG, acordo às 6h da manhã, vou pro trabalho e saio às 17h da tarde. Às vezes eu consigo passar em casa pra tomar banho e às vezes não consigo. Aí quando chego da escola, à noite, não consigo tomar uma ducha, usar o banheiro ou até mesmo tomar água. Não consigo usar porque não tenho caixa d’água e a Sabesp desliga a água. Eles dizem que não tem racionamento de água, que não faz isso e tal, mas acaba fazendo. Tipo assim, a gente trabalha o dia inteiro, o mês inteiro e as contas chegam, até mesmo adiantadas. Se a gente atrasar, paga um “grau” a mais. E, assim, afeta nois, né? A gente paga o negócio e quem tem a vida corrida ‘malemá’ consegue usar. E não é só eu, né? afeta muitos outros moradores que não têm caixa d’água. É difícil… é complicado”.
Dessa forma, ao chegar em casa à noite depois de passar horas correndo atrás do pão de cada dia, muitos trabalhadores e trabalhadoras nem ao menos podem tomar o merecido banho para relaxar.
Privatização da Sabesp está nos planos dos capitalistas
Esse sucateamento do serviço tem como objetivo justificar a privatização da Sabesp. Isto é, vender a empresa para algum capitalista que vai transformá-la numa máquina de gerar lucro ao invés de atender as necessidades da população.
A privatização de empresas públicas significa sempre a piora do serviço, o aumento do seu custo e as demissões em massa. Essas são medidas que levam ao aumento das taxas de lucro da burguesia que, por ser regra de ouro do capitalismo, é o objetivo dessa classe parasitária.
Com relação à diminuição da pressão na rede de distribuição de água, Marcelo Viola, militante do MLC, explica que “não precisaria se renovar a rede. Conforme vai ficando mais velha, a rede apresenta vazamentos. Quando você faz uma rede de água, você prevê quanto tempo ela dura: 10, 20, 30 anos. A partir dessa projeção você tem que fazer as substituições preventivas”.
Os acionistas defendem que ao invés de fazer a manutenção adequada a solução é privar o povo pobre, o que deixa claro que não é apenas uma questão de desperdício, mas sim um projeto de enriquecimento de uns poucos às custas da piora da vida da maioria.
Ainda segundo Yuri: “Estamos vendo que ultimamente o Tarcísio quer privatizar a água, entregar na mão dos empresários, das grandes empresas. Capitalismo é isso: quanto mais dinheiro pra eles, melhor. Quanto menos pessoas estiverem lá em cima com eles, melhor, vai render mais pra eles”.
Para superar essa crise, a conta sempre cai nas costas do povo, por isso o atual governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas já deixou escancarado seu projeto de privatizar a água, mostrando que está aí para resolver a crise para os mais ricos enquanto os mais pobres são privados dos seus direitos.
Assim, esse é um movimento premeditado para saciar a ganância dos 1% do andar de cima, o que representa a piora das condições de vida do povo e implica no aumento da riqueza do burguês. mostrando muito bem a contradição entre os interesses da burguesia e da classe trabalhadora.
O povo vai lutar pela água
A água é fundamental para a manutenção da vida e é um recurso natural, jamais deve ser tratado como mercadoria e o povo sabe que direitos fundamentais não devem ser mercantilizados, como mostra a pesquisa do PoderData, realizado em setembro de 2021, que apontou que 53% dos brasileiros ouvidos em 27 estados do país são contra a toda e qualquer privatização.
O fascismo é o mecanismo que a burguesia lança mão quando o capitalismo está em crise e quando a classe trabalhadora não aguenta mais a miséria e a exploração e começa a se radicalizar. E isso eles devem temer mesmo.
Vemos essa radicalização se expressar, por exemplo, no crescimento exponencial das fileiras da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), após as eleições de 2022. O povo não vai mais admitir a miséria e a exploração, não vai mais admitir a perda de direitos.
O povo vai para a luta contra o fascismo e pela construção de uma nova sociedade onde as necessidades mais fundamentais sejam direito de fato e não letras mortas num papel. Como diria Marx e Engels: “que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista. Os proletários nada têm a perder, a não ser seus grilhões. Têm um mundo a ganhar”.
*Militante da UP
Muita raiva desse governo maldito auqi em SP… A gente trabalha o dia inteiro e chega em casa e tem só um pouquinho de água na torneira… O chuveiro nem liga direito e nem aquece pq a pressão da água tá mínima as 22h aqui na periferia da zona norte próximo ao jaçanã… Processar esses FDP pra eles vir aqui colocar uma caixa d água em casa pra resolver meu problema.
Absurdo que um desgoverno como desse miliciano seja tolerado em SP.
Infelizmente a população o elegeu como seu representante. As consequências deste ato são e serão sentidas por muitos anos apenas pela população pobre, preta, periférica, as minorias e os injustiçados. Saber escolher seu representante é o primeiro passo para uma mudança de paradigma e menos sofrimento. Agora o que nos resta é lutar e dizer Não à privatização!
Quando cheguei em vila dos remédios em 2015 já era assim, sem água das 21h até 5am. Está publicamente expresso. Essa regra ká era assim antes da milícia. Só vai mudar se enfiar o pé na porta com greve. Detalhe, eu sou uma fdp burguesa sem grana pois desde 2008 a pobre classe média entrou em estado de fudência.
É realmente um grande desrespeito, uma revolta enorme, só quem passa por isso entende a situação, no meu caso infelizmente não posso colocar caixa de água em casa porque os mais antigos acreditam que a terra fundada não aguenta colocar mais peso em nenhuma das casas, mas é muito desgastante chegar em casa as 22h da noite e não ter água para poder tomar um banho, muitas das vezes passar a noite se segurando para não usar o banheiro por não ter água, e o ter que escovar os dentes com água gelada das garrafas da geladeira, até pra cozinhar ter que fazer a água render pra conseguir fazer o que precisa, tem vezes que a raiva consome a nível de apenas conseguir deixar as lágrimas rolarem, infelizmente o pobre da periferia são as “raças” excluídas e tá tudo bem pra eles pois quem são afetados de todas as formas possíveis somos nós, e eles não arcam com nada desse desgate, aliás, ainda ganham pela água paga todo mês. E isso não é coisa de hoje, é problema acarretado de anos.