Mesa sobre permanência denuncia falta de bolsas e necessidade de cotas na USP

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Mesa temática “Permanência no contexto universitário” com participação do Movimento Correnteza debateu as condições dos auxílios, bolsas e cotas na USP.

Camila Regis Cavalcanti* | São Paulo


EDUCAÇÃO – Debater sobre permanência é um tema caro para a nossa juventude. Sentimos na pele diariamente o jugo do capitalismo, a disputa diária interna, a falta de dinheiro no final do mês e a falta, ou a insuficiência, de políticas afirmativas e assistência estudantil dentro das principais universidades do país.

Dentro da Universidade de São Paulo (USP) isso não é diferente. Para isso, precisamos criar espaços de discussão sobre o tema, tal como aconteceu na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) durante a Semana de Recepção aos Calouros 2023, momento em que os ingressantes da unidade tiveram a oportunidade de compreender a profundidade do debate e de tirar dúvidas sobre as bolsas e auxílios da universidade na mesa temática de “Permanência no contexto universitário” em cuja composição o Movimento Correnteza esteve presente.

Contando com a participação do Presidente da Comissão de Graduação do curso, o Centro Acadêmico de Educação Física e Esporte (CAEFE) e o Representante Discente da Congregação da EEFE, a atividade pautou, através dos convidados, o panorama atual das bolsas de permanência, mudanças atuais, situação das demais modalidades de bolsas da universidade e a questão das cotas dentro da USP.

Na segunda metade da mesa foi dada a oportunidade para que veteranos explicassem o funcionamento administrativo e operacional das diversas bolsas da universidade (como se inscrever, prazos, critérios, etc), com o momento para que os calouros tirassem as suas dúvidas e explicitassem suas atuais dificuldades, o qual foi de extrema importância para que se sentissem mais acolhidos e compreendessem melhor como e quando solicitar as mais diversas políticas de bolsas da USP.

Sendo uma universidade criada pela burguesia para a burguesia e até hoje profundamente elitista, somente nos últimos anos e após a criação da Lei de Cotas em 2012 foi que se pôde vislumbrar a entrada de mais estudantes da população pobre e periférica na USP. Porém, as cotas foram implementadas em 2017 na universidade e somente em 2022 foi atingido o patamar de 50% de vagas reservadas para as políticas afirmativas.

Além disso, não podemos deixar de falar sobre a questão orçamentária desta universidade: somente 3% é destinado para a assistência estudantil de um total médio de 7,5 bilhões de reais dados à USP anualmente.

Ainda assim, para o ano de 2023 foi conquistado o aumento das bolsas de auxílio moradia do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE) de R$ 500,00 para 800,00 reais através de uma luta ferrenha e conjunta do DCE Livre da USP “Alexandre Vanucchi Leme”, o qual o Movimento Correnteza compõe a atual gestão.

Porém, em um novo ataque aos estudantes pobres, trabalhadores e cotistas, a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) liberou, na primeira chamada, somente 1.200 das 15 mil bolsas do auxílio homologadas, colocando os demais estudantes que estão em maior situação de vulnerabilidade socioeconômica em escanteio através de uma “lista de espera” não prevista em edital.

Tal agressão é sentida pelos ingressantes que necessitam da bolsa para permanecer na universidade e que têm o risco do seu sonho de estudar na USP ser ceifado a cada dia em que não são contemplados com a bolsa; são estudantes cujas únicas fontes de renda muitas vezes são o próprio auxílio e um trabalho precarizado no qual não ser laureado com os 800 reais é um divisor de águas entre ficar ou sair da universidade.

Por fim, a realização da mesa sobre permanência é um passo para que os calouros ampliem a sua perspectiva do debate e saibam o real significado da palavra “permanência”, politizando espaços e realizando o chamado para que essas pessoas lutem por mais bolsas, orçamento, moradia estudantil de qualidade e que consigam efetivamente permanecer e se formar nas universidades de norte a sul do país.

Proporcionar momentos como esse para a explicação da dinâmica de bolsas, denúncias da sua falta, precarização e a possibilidade de tirar dúvidas aproxima os estudantes da luta e da compreensão política de que somente unidos e mobilizados conseguiremos conquistas efetivas para a educação do nosso país.

*Estudante de Educação Física na USP