Diogo Leme | São Caetano do Sul
CARTA – De certo a dúvida do porquê se deve construir um novo amanhã para si e para todo o resto da sociedade já passou na cabeça de muitos militantes e revolucionários. Alguns desses raciocínios podem ser: “Afinal, para que construir uma sociedade que talvez eu nem veja?” ou “não vai ser eu agindo que algo vai mudar” ou ainda “para que eu vou me mover para a mudar a realidade de pessoas que não se moveriam para mudar a minha?”.
A resposta para esses tipos de questões não é moral, nem muito menos exata. Realmente, não há como dizer que a entrada de um indivíduo nas fileiras de um partido revolucionário como a Unidade Popular seja o que vá levar à construção imediata da revolução. Contudo, não é desse modo que os marxistas devem interpretar a realidade, pois a análise do homem projetada é incapaz de avaliar precisamente a situação geral da sociedade.
Uma atitude individual armazena uma gigantesca possibilidade coletiva a qual nós somos ensinados a esquecer ou até mesmo a ativamente discordar dessa coletividade intrínseca do ser humano.
Uma organização revolucionária não depende de uma ordem dada por uma pessoa ou de uma atitude tomada por alguém, mas da mobilização coletiva de milhares de militantes que constroem essa mobilização com ordens centralizadas e tomadas de atitude individuais.
Ou seja, dentro da individualidade de cada um(a) se abriga a sua própria contraparte: a coletividade geral e vice-versa. “Toda coisa é, ao mesmo tempo, ela própria e a sua contrária” nos elucida o filósofo Georges Politzer em seu livro Fundamentos da Filosofia.
Quando uma mulher decide se organizar no Movimento de Mulheres Olga Benário, por exemplo, ela não somente está se juntando a um movimento revolucionário, mas está criando a imagem para as outras mulheres de qual é a solução ideal para acabar com a opressão patriarcal: a queda do sistema capitalista.
É aí que mora o grande trunfo de se existir enquanto um ser social – todo indivíduo não opera somente a própria vida, mas a vida de todos, pois as nossas ações possuem um eco coletivo transcendente a nós enquanto indivíduos. A ação individual da mulher que decide se organizar num movimento feminista se torna coletiva assim que ela a realiza.
O exemplo acima tira de vista questões individuais pequenas de modo crucial, pois não lutamos para construir um Brasil socialista porque queremos ver o socialismo e tirar dele experiências individuais proveitosas. Na verdade, lutamos para acabar com a desigualdade, com a fome, com o machismo, com o racismo, com lgbtqia+fobia e ademais. E acabar com essas mazelas significa superar o capitalismo, que por sua vez significa atingir o socialismo.
Ou seja, o que nos cabe é a construção de uma revolução porque a opressão da propriedade privada dos meios de produção fere a humanidade fatalmente. Lutar, mesmo que seja optativo, é uma necessidade humana e não somente uma vontade individual.
Para além disso, não há nada que assegure a vitória da luta classe trabalhadora senão ela própria. Isso quer dizer que não há onde escorar o nosso futuro a não ser nas nossas próprias ações no presente, pois a construção ininterrupta da história é a única certeza, contudo o caráter positivo dessa história nunca será garantido.
O que resta aos revolucionários vivos é construir a revolução e garantir ao máximo a consolidação de bases firmes que finquem a ideologia do marxismo-leninismo como guia da ação prática.
O que nos resta é um mundo em crise com o sistema econômico-político que nele opera, o capitalismo. Não havendo nada e nem ninguém que garanta previamente uma superação desse sistema, o único modo de assim o fazer é com a classe trabalhadora arregaçando as mangas e construindo o socialismo hoje. Sem medo de que ele repila o amor, que por sua vez deve ser o grande combustível para se lutar.
Portanto, a luta revolucionária não é uma obrigatoriedade individual, mas uma necessidade coletiva que garante ao próximo, pelo menos, o direito de continuar essa mesma luta ou garante até mesmo uma realidade completamente diferente, livre das opressões capitalistas.
Afinal, desejar o bem próprio é desejar também o bem do outro, pois “ao escolher a mim, estou escolhendo o homem”. Assim disse o filósofo Jean-Paul Sartre em O existencialismo é um humanismo.