Estudantes ocupam prédio da EACH-USP

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Diante de uma série de ataques à permanência estudantil em toda a USP, os estudantes da USP Leste (EACH), o campus mais afetado pelos problemas com o Auxílio Permanência (PAPFE), vêm se mobilizando desde o início do ano.

Isaac Gama* | São Paulo


JUVENTUDE – No dia 16/06, o reitor foi cobrado pessoalmente enquanto visitava o campus. O ato realizado nesse dia foi um diferencial para a massificação das movimentações dos estudantes justamente por ter elevado e radicalizado o tom das lutas.

As lutas da EACH confirmam a importância da existência de entidades estudantis combativas e comprometidas com a organização da massa dos estudantes. A própria radicalização do ato veio graças a firmeza e compromisso dos estudantes organizados em centros acadêmicos, ressaltando a importância fundamental do Centro Acadêmico da Obstetrícia (CAOBS), do DCE e demais forças políticas.

Diante do descaso da reitoria com as demandas populares a resposta foi dura: piquetes das portas e completa desmoralização da reitoria diante dos estudantes. O reitor foi praticamente arrastado de volta para o auditório após tentar organizar uma fuga.

O ato se desenrolou com a ocupação do auditório por parte dos estudantes, além de intensas cobranças pelo auxílio de 1000 reais, o retorno do auxílio de 250 reais especial da EACH e pela contratação de professores.

Estudantes da EACH-USP protestam durante visita do reitor (Foto: Divulgação/ Movimento Correnteza).

Na próxima semana, durante reunião para se discutir o piquete já aprovado em assembleia, a ocupação dos prédios se deu às pressas pois a direção do campus tentava trancar as salas para impedir a construção de barricadas. Os estudantes rapidamente se mobilizaram e ocuparam os dois prédios de aulas.

Tais movimentações nasceram da luta dos estudantes, sobretudo do centro acadêmico de Obstetrícia – o curso mais afetado pela falta de contratação de professores – e foram amplamente apoiadas pelo DCE Livre da USP e pelas forças políticas presentes nos atos e na ocupação, dentre elas o Movimento Correnteza e a Unidade Popular pelo Socialismo.

As demandas dos estudantes pela contratação de professores e pelo acesso imediato dos estudantes com renda comprobatória ao auxílio-permanência repercutiram por diversos outros espaços estudantis e até em mídias tradicionais, pressionando mais ainda a reitoria reacionária da USP a não só ouvir, mas atender as reivindicações dos estudantes!

A ocupação da EACH serve de exemplo de luta à toda a massa de estudantes do Brasil. A radicalização da luta demonstrou que a única forma de negociação com a classe dominante burguesa é se estiverem pressionados e assustados diante da organização revolucionária da classe oprimida.

A prática revolucionária é a melhor forma de consolidação da teoria revolucionária na consciência da massa, fazendo avançar a luta também nas mentes e corações do nosso povo. A luta organizada mostra-se a única forma possível de avanço da qualidade de vida do povo!

Após longos 7 dias de ocupação do campus a pressão da massa de estudantes conseguiu dobrar a reitoria para o envio de 15 representantes de diversos cursos da EACH para uma reunião na qual o reitor da USP tinha assumido o compromisso de estar presente.

Lá, os estudantes se deparam com a fuga do reitor que mandou a vice-reitora, com saúde debilitada em decorrência de uma gripe ou resfriado, para negociar as demandas com os estudantes.

Quem luta, conquista

A reunião durou 4 horas e terminou com uma vitória do movimento estudantil garantindo a contratação antecipada de 15 docentes, uma reunião com a PRIP (Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento) para que se debata a reformulação do auxílio-permanência da USP com a presença ativa dos estudantes da EACH, além da garantia da reitoria que nenhum estudante presente na ocupação fosse perseguido.

Vale ressaltar que a organização da ocupação foi exemplar. Os ocupantes se organizaram em comissões e dividiram as tarefas como a da limpeza que era responsável por manter o prédio em perfeito estado.

Ao retornar, os representantes anunciaram em assembleia os resultados da reunião com a reitoria. Ocorreu uma ampla comoção e o exemplo de luta aqueceu os corações dos estudantes que chegaram a chorar de alegria devido ao sentimento de dever cumprido e por saber que agora poderiam se formar.

Um estudante da Gerontologia disse em prantos de alegria: “eu, no começo, achei que estávamos indo por um caminho muito radical, mas percebi que este é o único caminho que conseguimos conquistar, todo mundo junto!”.

É inegável que o trabalho de base feito na EACH foi imprescindível para que fosse possível que se elevasse a consciência dos estudantes para as movimentações realizadas. Desde o início do ano um amplo trabalho de agitação e propaganda foi feito na faculdade tanto por forças políticas quanto por estudantes independentes. Ocorreram colagens de lambes, faixas, krafts e brigadas do jornal A Verdade fomentando que se debatesse política neste espaço.

Vale ressaltar que a cada trabalho de agitação e propaganda executado, aumentava a pressão e repressão da diretoria sobre os estudantes, com ameaças e intimidações.

O papel do movimento de massas foi decisivo neste processo, as incansáveis passagens de sala, atos de colagem de lambes para decoração do campus, plenárias e brigadas do jornal promovidas pela militância do Movimento Correnteza tiveram grande impacto neste processo.

A luta combativa e revolucionária deve ser o método de luta das massas, pois as palavras convencem, mas o exemplo arrasta!

*Estudante da USP e militante do Movimento Correnteza