O crescimento do uso de inteligência artificial sobe o lucro das empresas sem aumentar os salários ou diminuir a carga horária dos trabalhadores.
Núcleo da UP do Butantã | São Paulo
OPINIÃO – O crescimento do uso de inteligência artificial, como o ChatGPT, no dia a dia do trabalho torna menor o tempo necessário para atender uma mesma demanda, fazendo a produção crescer. Isso poderia significar aumento de salários ou diminuição da carga horária do trabalhador, mas no capitalismo não é o que ocorre.
ChatGPT é uma inteligência artificial de modelagem de linguagens criado por cientistas da OpenAI – empresa em que a Microsoft investiu 1 bilhão de dólares – e capaz de se passar por ser humano em uma conversa por texto. Quando foi aberto ao público levou apenas 2 meses para chegar a 100 milhões de usuários ativos.
Trabalhadores do Quênia foram contratados para treinar o modelo de linguagem do ChatGPT e rotular conteúdo impróprio. Alguns declararam terem tido o psicológico afetado devido à exposição diária a esses conteúdos. Os trabalhadores quenianos fizeram um serviço essencial para possibilitar uma boa experiência com o assistente virtual recebendo míseros salários de US$1,32 até US$2 por hora.
Precarização em centrais de atendimento
Um dos setores que corre risco de ser afetado por esse tipo de tecnologia é o de centrais de atendimento, já precarizado conforme mostra a entrevista feita com o Marcos Vinícius, ex-atendente da Cultura Inglesa, que foi atingido por uma demissão em massa.
Marcos, como era sua rotina de trabalho? Qual horário de entrada e saída? Quanto tempo para pausas, almoço, banheiro?
Marcos Vinicius: “Entrava às 14h40 e saia às 21h durante os dias úteis e trabalhando em sábados alternados das 9h40 às 15h, dividiam as pausas em uma de 10 minutos, uma segunda de 20 minutos e uma terceira de 10 minutos. Havia a chamada pausa particular, mas que se recomendava que fizéssemos esta pausa para ir ao banheiro ou para atender alguma ligação importante”.
Existia alguma automação na empresa? Ou alguma em implementação?
Marcos Vinicius: “No início do ano uma pessoa foi contratada temporariamente para criar uma automação que faz disparos de mensagens de WhatsApp a alunos e responsáveis. Posteriormente, implementaram o ChatGPT para recomendação de 2 respostas-padrão a depender das mensagens escritas que o aluno ou responsável enviava.”
Como aconteceu a demissão em massa?
Marcos Vinicius: “No começo de maio, mais de 200 pessoas em várias centrais de atendimento da Cultura Inglesa foram demitidas, na qual eu também fui afetado. A central do Rio de Janeiro foi fechada e na de São Paulo houve um esvaziamento absurdo.”
Novas tecnologias podem beneficiar trabalhadores
A escrita foi criada 5300 anos antes da consolidação do capitalismo e Galileu Galilei desenvolveu os primeiros telescópios 200 anos antes. A União Soviética, sob o socialismo, foi responsável pelo primeiro satélite lançado no espaço, o Sputnik. A tecnologia nasce da capacidade humana de ser curioso e criativo e não por conta de um modo de produção.
No capitalismo, essas inovações têm como propósito o lucro. Por mais que algumas delas resolvam problemas da humanidade, só são disponibilizadas se tiverem a capacidade de aumentar a fortuna dos capitalistas. Segundo a TIC Domicílios, em 2022, mais de 36 milhões de pessoas no Brasil não tiveram acesso à internet – tecnologia criada há mais de 30 anos.
Para que essas tecnologias sejam usadas para o benefício dos trabalhadores, é preciso utilizar a única arma que temos: a organização.
Para que trabalhadores como o Marcos Vinícius tenham dignidade, redução de carga horária, tempo justo para fazer uma refeição, ajustes salariais acima da inflação e garantia de emprego, precisamos dos trabalhadores em sindicatos combativos e organizações revolucionárias.
Com muita luta dos trabalhadores, em 1932 houve redução da carga horária para 44 h semanais. Mas hoje, mais de 90 anos depois, mesmo com todo avanço tecnológico não houve redução do tempo de vida dos brasileiros dedicado ao trabalho.
Precisamos unir nossas forças para criar um amplo e forte movimento de massas em defesa dos trabalhadores e contra a exploração dos patrões.
A riqueza produzida pelo trabalho é roubada
Jorge Paulo Lemann, dono da AMBEV (Skol, Brahma, Budweiser, etc), nunca participou da produção ou sequer serviu uma cerveja na vida e mesmo assim tem uma fortuna de R$80 bilhões.
Segundo IBGE, no Brasil 90% dos trabalhadores ganham menos de R$3.500, mesmo com esse salário um trabalhador levaria, sem gastar um tostão, mais de 1,7 milhão de anos para juntar uma fortuna igual à do Lemann.
Mais de 70 milhões de pessoas brasileiras passam por insegurança alimentar e não é por falta de alimentos produzidos. 280 mil pessoas estão em situação de rua no nosso país e não é por falta de casas vazias. Isso acontece porque os capitalistas privam, ou melhor, roubam tudo o que os trabalhadores produzem.
Esse roubo ou exploração do trabalho só é possível por conta da propriedade privada dos meios de produção. Para torná-los públicos, a serviço dos trabalhadores, é preciso instaurar o socialismo, onde toda classe trabalhadora terá poder político sobre o Estado e assim construir uma sociedade sem desemprego, sem miséria, sem fome e com a tecnologia a serviço da classe trabalhadora.