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sexta-feira, 3 de maio de 2024

Opinião: A importância da periferia em seu processo revolucionário

O papel da periferia como alicerce e extensão da classe trabalhadora no processo revolucionário de edificação da sociedade socialista no Brasil.

Gabriel Oliveira | Suzano


OPINIÃO – É bom iniciarmos tendo em vista que o que hoje temos como periferia foi Quilombo dos Palmares no passado. Símbolo de luta, resistência e conquista pela liberdade. Se hoje nossos corpos não são mais escravizados, sobretudo o povo preto, isso se deve as nossas heroínas e heróis que derramaram seu sangue e deram suas vidas por uma sociedade onde não houvesse a exploração de um ser-humano por outro, a exemplo disso foi Dandara e Zumbi dos Palmares, Luiza Mahim, Gabriel Prosser, dentre outres.

A maior parte dos países ao redor do mundo vive em um sistema exploratório, também conhecido como capitalismo. Milhões de trabalhadoras e trabalhadores produzem e são responsáveis pelo desenvolvimento material que dispõe ao seu redor, e todo o resultado desse processo, ou seja, o lucro, fica retido nas mãos de uma minoria, a burguesia, também conhecida como patrão.

E vale ressaltar aqui que me refiro a grande burguesia (detentora dos grandes meios de produção), e não a pequena burguesia (classe que está sempre a explorar alguém e ter que trabalhar). Tendo em vista as crises cíclicas existentes nesse sistema, que ocorrem periodicamente entre ano após ano, a pequena-burguesia está mais próxima de se tornar proletária, que é toda a pessoa que vive apenas da força de seu trabalho.

O desenvolvimento econômico, quase em sua totalidade, para dizer o mínimo, está assentado sob o suor de quem trabalha, que em sua maioria se localiza fora dos centros urbanos, a chamada periferia.

A Realidade da Periferia no Brasil

Segundo o censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem 11403 favelas, onde vivem cerca de 16 milhões de pessoas, em um total de 6,6 milhões de domicílios. Isso representa, apenas nas favelas, 8% da população brasileira que atualmente possui pouco mais de 200 milhões de pessoas.

Por mais que a favela seja prioridade na pauta do dia a periferia não se resume só a ela. O significado da palavra periferia é: “região, numa cidade, afastada do centro urbano”. Logo podemos perceber, isso no dia a dia, que a maioria da população brasileira vive em periferia frequentando os centros urbanos, na maior parte de sua vida, apenas para trabalhar e servir ao capital privado.

Sabemos também da diferença vivida entre moradores dos centros urbanos e periféricos. Nas periferias, a média de vida é bem menor que as de regiões centrais. Como exemplo, podemos citar a cidade de Tiradentes (extremo leste de São Paulo), onde a média da idade com que as pessoas morrem é de 59,4 anos. Enquanto no Jardins (bairro nobre da região central da capital paulista), a média foi de 80 anos, de acordo com o Mapa da Desigualdade 2022, divulgado pela Rede Nossa São Paulo e o Instituto Cidades Sustentáveis. Ainda tendo Tiradentes como exemplo, no ano de 2019, apenas 0,2% dos trabalhadores possuíam emprego formal.

A Realidade da Periferia

Inicialmente foi traçado um paralelo entre periferias e Quilombos. Quilombos, também conhecidos como Mocambos, foram comunidades, livres, formadas no Brasil durante o período colonial por africanos escravizados e/ou seus descendentes. Os escravizados que conseguiam fugir de seus senhores e sinhás, se união e organizavam-se em comunidades no que ficou conhecido como Quilombos. A vivência nessas regiões colocou fim na exploração que antes viviam sob o sistema colonial. Todas as pessoas presentes nos Quilombos trabalhavam e repartiam o pão, não existia fome, e assim podia se viver dignamente.

Com ajuda de Isabely Santos, estudante de Licenciatura em Ciências Humanas na universidade FASESP, militante do movimento de Mulheres Olga Benario e da Unidade Popular (UP), foi possível nos aprofundar um pouco mais no que os Quilombos significaram e significam para nós. Vamos nos ater apenas no maior Quilombo que já existiu, o Palmares.

A sociedade formada nesse Mocambo, recriou a cultura, religião, desenvolveu a organização militar e estabeleceu práticas econômicas para sua sobrevivência. Além da pesca e caça, a base econômica dessa comunidade era agrícola. Cultivavam feijão, batata, banana, mandioca, milho, cana-de-açúcar e diversos legumes. Os palmaristas também contavam com uma significativa economia extrativa. Segundo Flávio Gomes em seu livro Palmares, a partir da extração do óleo da palmeira pindoba, conseguiam iluminação.

Hoje, o povo periférico vive, ou sobrevive, sendo constantemente massacrado, mesmo assim seguem um fortalecendo o outro. Quando vemos um irmão ou uma irmã em situação precária, logo corremos para ajudar, com comida, moradia, roupas etc.

A exemplo disso, temos Ellen Oliveira, moradora da periferia de Jundiapeba, região de Mogi das Cruzes (SP). “Aqui já aconteceu despejos de pessoas que tinham seu barraco em área ‘proibida’, essas pessoas não tinham para onde ir, iriam dormir na rua com seus filhos. Ajudamos com alimentação e acolhemos as crianças em nossas casas. Cada morador ajudava como podia, a gente não ia ficar sem fazer nada naquela situação”.

O sistema capitalista segue relegando o nosso povo a miséria, nos colocando em situações cada vez mais precárias, como a falta de acesso a alimentação, educação, saúde e moradia. Quanto mais puder limitar o acesso da classe trabalhadora de sua consciência de classe, melhor é, pois, assim, cria condições de expandir cada vez mais seus lucros.

Esse sistema já foi superado ao longo da história, a partir da formação da classe trabalhadora. O maior exemplo que temos é o da gloriosa Revolução Russa de Outubro de 1917, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Essa revolução foi a tomada do poder pelas mãos da classe trabalhadora, contra a classe burguesa, a mesma burguesia que retirou os barracos das pessoas em Jundiapeba; essa que matou Kathlen Romeu, mãe que esperava seu primeiro filho e foi morta pela polícia racista no Lins, zona norte do Rio de Janeiro; essa que matou Ágatha Félix, uma menina de 8 anos que foi assassinada pela polícia racista no Complexo do Alemão, zona Norte do Rio de Janeiro; essa que matou João Pedro, menino de 14 anos que brincava dentro de casa e foi assassinado pelas polícias Civil e Federal no Complexo do Salgueiro, Baixada Fluminense, também no Rio de Janeiro. Em 1917, quase 60% da população russa, entre 09 e 49 anos, era analfabeta, no ano de 1938 já 89,1% da população russa estava alfabetizada!

De modo bem simples, o Socialismo é a distribuição de todas as riquezas para as pessoas que as produziram – a classe trabalhadora – unida para dirigir o Estado. Dessa forma, a fome e a miséria passam a ser superadas nesse sistema. Mas essa união já não existe na periferia? A resposta é sim. Mas ela ainda acontece de forma muito espontânea, ou seja, feita de livre vontade.

É necessário organizarmos e direcionarmos essa união. Assim teremos a oportunidade de tomar aquilo que é nosso por direito. A casa, a comida, o estudo, a saúde, a dignidade, a vida. Pois nada disso é mercadoria, e no sistema capitalista tudo isso é apenas produto que precisa ser convertido em lucro. Se esses produtos, ou seja, nossas vidas, não estão gerando “lucro”, irão nos matar.

Para concluirmos, é necessário que o povo perceba a que classe ele pertence. Hoje temos grandes movimentos revolucionários que trabalham incansavelmente para ajudar na conscientização e organização do nosso povo, aquele da quebrada. A exemplo disso podemos citar: Movimento de Lutas nos Bairros Vilas e Favelas (MLB), Movimento de Mulheres Olga Benario, a União da Juventude Rebelião (UJR), o Movimento Luta de Classes (MLC) e o próprio recém partido legalizado, Unidade Popular Pelo Socialismo (UP).

É dever de todes militante construir, repito, construir, na conscientização e organização da periferia, mas sempre tendo em vista que o protagonismo deve ser dele próprio, do povo. O povo deve participar da política, tornar-se agente ativo nas questões de Estado.

Um político sentado no gabinete aprovando e deliberando projetos sociais é uma contradição por si só, pois na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 diz no segundo artigo que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Mais adiante, no quinto artigo, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

Sabemos bem que nada disso acontece na prática. A constituição só funciona para os ricos, ou seja, ela é de caráter burguês. E chamo aqui as palavras do rapper Eduardo Taddeo: “a constituição brasileira é um livro de piadas”.

“Onde a tristeza do abuso é pra maioria. E o prazer de gozar sobra pra 1%”. E mais adiante:” Foi tiro do blindado que acertou Marcos Vinícius. Caído ali, sem árbitro de vídeo. E vocês quer sustentar o hype, comparar o melhor flow. Viram três favela vive e não viu o quanto ela chorou” — da música Favela Vive 3, de ADL, Choice, Djonga, Menor do Chapa e Negra Li.

Nós, trabalhadores, devemos construir uma constituição que verdadeiramente atenda aos nossos interesses, uma que seja de caráter popular, e para isso, devemos nos organizar. O resultado de quem luta é a vitória. Até a vitória, sempre!

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