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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Skatistas se organizam contra marginalização do esporte em São Caetano do Sul

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Skatistas de São Caetano do Sul organizam-se em atos político-culturais em prol da resistência da cultura do skate na cidade, a qual vem sendo desmantelada e esquecida pela prefeitura do município.

Fernanda Naomi e Diogo Leme | São Caetano do Sul


JUVENTUDE – A cidade de São Caetano do Sul, que já foi conhecida por ter a maior pista de skate da América Latina, hoje despreza o esporte. Desde o fechamento da pista José Carlos Tortorello Júnior os skatistas e frequentadores vêm sendo oprimidos por uma política de destrato, apagamento e negligência, e foram abandonados em uma “nova” pista sem manutenção e perigosa.

A pista que foi fechada se localizava no Bairro Cerâmica, morada da elite da cidade, que se sentiu incomodada com os transeuntes “favelados” cada vez mais perto dela. As inúmeras reclamações dessa elite, de fundo racista e preconceituoso, foram atendidas pela prefeitura e a pista foi transformada em estacionamento da GCM.

No fim do ano passado, o espaço reservado para o esporte se encontrava tão degradado que os skatistas deixaram a pista para andar no Clube Tamoyo, um antigo clube abandonado. Nesse novo lugar construíram obstáculos de entulho e revitalizaram as paredes com grafites e pixos.

Uma Best Trick – competição de skate – foi organizada pelos skatistas locais no Tamoyo em janeiro, tendo como premiação roupas e peças de skate doadas. No fim do evento os skatistas foram enquadrados pela ROMU e pela GCM, que expulsaram todos do clube.

Entre praticantes de skate temos pessoas de todas as idades (Foto: Matheus Sousa).

Infelizmente, o lugar foi demolido para a construção de um parque milionário que se projeta a ser apenas mais um ponto de lazer para a elite da cidade, sem nenhum plano de inclusão de esportes populares. O espaço foi financiado em 10 milhões de reais doados pelo antigo governador de SP, Rodrigo Garcia.

Presenciando esse cenário de descaso os skatistas de São Caetano e região não puderam ficar quietos. Sob o mote “quem tá na rua sabe”, levantaram o 1º Movimento pelo Esporte e pela Cultura, que aconteceu em 16 de abril, composto por uma passeata nas principais avenidas e uma Best Trick ao lado da Câmara Municipal.

O evento foi considerado um sucesso, reuniu skatistas de toda a cidade e mostrou para o povo que o skate vive em SCS.

Jabari, um dos skatistas da cena de São Caetano, relatou ao jornal A Verdade: “Quem olha de fora fala que São Caetano é a cidade perfeita para morar, que tem saúde, educação. Mas esportes mais marginalizados pela sociedade como o skate são tratados sem a conivência da comunidade skatista da cidade, você olha e já percebe que não é feito por um skatista. ‘Tá’ ali somente para mostrar para as outras cidades.”

Continua, ao perguntarmos sobre a pista Mário Manoel Davi, conhecida como a “Pista do centro”. “Em São Caetano o skate é tratado assim, se uma pracinha estiver com a grama ruim, em cerca de uma semana eles (a prefeitura) resolvem. Agora a pista está cheia de buracos, quebrada, com corrimões soltando. E eles fazem o quê? Pintam por cima só para disfarçar que fizeram algo.”

Skatistas organizam a luta e competições para reafirmar a necessidade da prefeitura de São Caetano do Sul voltar a investir no esporte (Foto: Matheus Sousa).

Se torna claro que a cultura do skate, assim como qualquer outra cultura popular, é marginalizada e jogada às traças devido ao seu poder de troca de experiências entre um povo jovem que vive em um mesmo cenário local. Segundo o DataFolha, esse esporte é praticado majoritariamente “pela classe C”, um jeito pomposo de dizer que no Brasil aqueles que andam de skate compõe, em grande maioria, a classe trabalhadora.

Sendo parte da cultura da classe trabalhadora, as mulheres, naturalmente, compõem a comunidade skatista e participam ativamente das reivindicações feitas por ela. Porém, muitas vezes o modo como se tratam as skatistas dentro e fora das pistas é machista e nem um pouco inclusivo.

Entrevista

O jornal A Verdade entrevistou a skatista Sophia que também constrói o projeto “Segunda das Minas”, criado por Luciana Tozo Vieira.

A Verdade – O que é o projeto Segunda das Minas?

Sophia – É um projeto social que basicamente abre espaço. Um espaço de segurança, conforto e liberdade para as mulheres e ‘pro’ pessoal da comunidade LGBTQIA+ dentro da cultura do skate. Com isso, conseguiram com que toda segunda, das 19:00 às 22:00, a pista do centro feche somente para o uso exclusivo do Segunda das Minas. E lá tem tudo para andar de skate, além de sorteios e doações. É tudo feito com muito amor.

Como você enxerga a presença feminina na cultura do skate?

Super importante e necessária. Estamos em 2023 e você ainda vai ouvir às vezes um comentariozinho dizendo “Ah, mas é esporte de menino!” Sabe, já deu. Afinal, é muito lindo ver as ‘mina’ conseguindo andar de skate e se sentir representada. Isso precisava acontecer mais, com mais mobilização. Espero, por fim, que o respeito entre os skatistas seja imposto. Porque não faz sentido entre os ‘parceiro’ ter respeito, mas quando se trata de mina, não. Tem que respeitar.

Continuar a mobilização

É possível observar, portanto, que os problemas sociais que afligem a classe trabalhadora se refletem na comunidade do skate de São Caetano do Sul. Contudo, perante essas mazelas, como já foi mostrado, os skatistas não baixaram a cabeça e reivindicam condições melhores dentro e fora da comunidade!

Para isso, mobilizam-se para os próximos encontros para todos andarem juntos de skate e definirem quais serão os rumos da luta por melhores condições para os skatistas em São Caetano do Sul.

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