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domingo, 28 de abril de 2024

“A história está cheia de sucessos e derrotas temporárias”

Por muito tempo, a Albânia, pequeno país da região dos Bálcãs, no mar Adriático, foi inspiração de partidos e organizações marxista-leninistas que lutavam pela revolução em seus países e admiravam as conquistas e as transformações realizadas pelo Partido Comunista da Albânia (PKSH) liderado pelo camarada Enver Hoxha. Para ajudar na compreensão sobre as causas do fim do socialismo e a volta do capitalismo no país, entrevistamos Qemal Cicolarri, presidente do atual Partido Comunista da Albânia (PKSH), integrante da Conferência de Partidos e Organizações Marxista-Leninistas (CIPOML).

Thales Caramante | Mogi das Cruzes (SP)


A Verdade Há muita incompreensão sobre a queda do socialismo na Albânia no Brasil. Na opinião do PKSH quais foram os fatores essenciais para esse retrocesso? 

Qemal Cicollari- Antes das respostas, gostaria de me apresentar brevemente aos camaradas e leitores brasileiros do jornal A Verdade. Sou presidente do Partido Comunista da Albânia (PKSH). Nosso partido é fielmente guiado pela doutrina revolucionária e científica do marxismo-leninismo e pelos ensinamentos de Marx, Engels, Lênin e Stálin. O PKSH nasceu em 1 de setembro de 1991, fundado pelos camaradas conhecidos como Os Voluntários de Enver, liderados pelo camarada Hysni Milloshi.

É natural que exista inúmeros mal-entendidos sobre essa questão. Acredito que esse fato não tem a ver apenas com a falta de informações confiáveis entre os camaradas brasileiros, mas está ligado também à cruzada anticomunista da burguesia imperialista e dos revisionistas contra o o socialismo, suas realizações e ao camarada Enver Hoxha. 

O socialismo na Albânia foi derrubado, após a morte de Enver Hoxha, a partir de um processo de degeneração tendo como ponto de partida a traição revisionista da liderança liberal-revisionista do antigo Partido do Trabalho da Albânia (PTA), liderada pelo revisionista e traidor Ramiz Alia. 

Para entender melhor as causas da derrubada do socialismo na Albânia, é necessário analisar a história da derrubada do socialismo no mundo todo. A amarga e triste experiência histórica da queda do socialismo no mundo nos mostra, muito claramente, que a burguesia imperialista usou duas maneiras para tentar sobrepor o socialismo.

O primeiro modo se caracterizou pela agressão armada aberta contra os países socialistas, como a intervenção dos quatorze países imperialistas contra Lênin, logo após a Grande Revolução Socialista de Outubro; também incluímos aqui a agressão nazista hitlerista e seus satélites contra a União Soviética. Em outros momentos também tivemos a invasão armada do imperialismo estadunidense e britânico contra a República Popular Democrática da Coreia, Vietnã etc.

O segundo modo foi o caminho “pacífico” da contrarrevolução burguesa e revisionista a partir do próprio partido. Esse método atingiu o centro dos países socialistas, sendo orquestrada principalmente pela União Soviética com Nikita Khrushchev à frente. A experiência histórica nos mostrou, muito claramente, que o segundo método, atuando por dentro e “pacificamente”, através da via da contrarrevolução, foi capaz de derrubar o socialismo.

Na Albânia podemos enumerar as seguintes causas: 

— O aumento expressivo da pressão do imperialismo e do revisionismo contra a Albânia socialista após a morte do camarada Enver Hoxha. Essa condição fez com que a liderança do antigo Partido do Trabalho da Albânia (PTA), com o revisionista Ramiz Alia à frente, capitulasse perante essa pressão imperialista o que levou ao nascimento e propagação do anticomunismo na Albânia.

— A desagregação da consciência revolucionária que existia levou ao antigo PTA, com o revisionista Ramiz Alia à frente, a degenerar e renunciar a doutrina revolucionária e científica do marxismo-leninismo. O antigo PTA fez o mesmo com os ensinamentos do camarada Enver Hoxha. Ramiz Alia aproveitou as difíceis circunstâncias em que a Albânia se encontrava após a morte do camarada Enver Hoxha. Sob o pretexto de “facilitar” e “evitar” a vida do povo, Ramiz Alia e seu grupo de liberais empreenderam uma série de políticas liberais e revisionistas, apresentando suas medidas como “um desenvolvimento político do marxismo diante das novas condições”, como políticas “leais ao caminho de Enver”.

Na realidade, Ramiz Alia promoveu o espírito do liberalismo dentro do partido, do Estado e em toda a vida social sob o pretexto de reformas necessárias para a “ampliação da democratização da vida do país”, segundo o modelo da Perestroika e da Glasnost de Mikhail Gorbatchov. Como resultado dessas reformas liberais “democráticas, se deu o início ao processo de degeneração revisionista do partido, do Estado socialista, das relações de produção socialistas, de toda a vida política, econômica, ideológica e social da Albânia, da mesma forma que acontecera com a antiga União Soviética após a morte do camarada Stálin, quando o infame revisionista Nikita Khrushchev e sua quadrilha revisionista echegaram ao poder.

Ramiz Alia ainda expandiu o espírito pequeno-burguês, liberal e burocrático nos comitês e nos organismos dirigentes do PTA. Buscou introduzir e manobrar os elementos liberais e oportunistas em postos dirigentes do partido e do Estado e gradualmente depurou os quadros que estavam se opondo à sua política. Assim, o Comitê Central do antigo PTA degenerou desde suas fundações para tendências oportunistas e revisionistas. Dessa forma, passo a passo, todo o partido, em um período de cinco anos menor degenerou e aderiu a linha revisionista. Essa é a principal razão pela qual o antigo PTA não resistiu e se opôs abertamente à traição aberta de Ramiz Alia. Dessa forma catastrófica, a derrubada do socialismo e a restauração da “democracia”, isto é, do capitalismo, se tornou uma realidade na Albânia nos anos 1990.

Essa é a razão pela qual o antigo PTA de Ramiz Alia não levantou uma palha para proteger o Monumento de Enver Hoxha derrubado violentamente pelas forças anticomunistas e contrarrevolucionárias; essa é a razão pela qual o antigo PTA de Ramiz Alia não se opôs a transformação do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) em Partido Socialista (PS), com um programa social-democrata dominado pela burguesia; essa é a razão pela qual nenhuma organização comunista da base do PTA de Ramiz Alia veio construir o novo Partido Comunista da Albânia (PKSH) construído após esta traição aberta.

A degeneração revisionista do antigo PTA, do Estado socialista e da ditadura do proletariado na Albânia, foi iniciada após a morte do camarada Enver Hoxha em 1985, e coroada no final dos anos 1990 com a proclamação oficial do “pluralismo político” e da “economia de mercado” por Ramiz Alia.

Dessa forma, a derrubada do socialismo na Albânia não ocorreu por acaso e espontaneamente, como um raio. O socialismo na Albânia não foi derrubado pela via da agressão armada imperialista aberta, a derrubada do socialismo na Albânia foi um projeto político contrarrevolucionário “pacífico” a partir de seus órgãos dirigentes, pelo antigo PTA com Ramiz Alia à frente. A derrubada do socialismo na Albânia, na antiga União Soviética, na China e nos demais países socialistas foi uma tragédia para o movimento comunista e operário internacional, mas não é uma fatalidade. Do ponto de vista do desenvolvimento histórico da sociedade, houve uma regressão social, houve uma reviravolta de uma ordem econômico-social superior, o socialismo, para uma ordem econômico-social inferior, o capitalismo.

Esses retrocessos no desenvolvimento da sociedade também ocorreram nas ordens econômico-sociais pré-socialistas. A história do desenvolvimento social humano nos mostra que, apesar de os bárbaros ocasionalmente destruírem civilizações inteiras, apesar dos retrocessos, a sociedade seguiu adiante e alcançou um estágio superior. A restauração da aristocracia feudal de Bourbon na França não foi capaz de paralisar o desenvolvimento histórico e, finalmente, a nova ordem capitalista finalmente venceu a velha ordem feudal; dessa forma, o retrocesso histórico que atingiu os antigos países socialistas é temporário, afinal a nova ordem comunista finalmente conquistará a velha ordem capitalista. Essa é uma lei objetiva do desenvolvimento da sociedade. O desenvolvimento econômico-social não pode ser interrompido. Nós, comunistas liderados pela ciência marxista-leninista, pelo materialismo histórico e dialético, não podemos deixar de aceitar e entender, não podemos fechar os olhos para as viradas históricas temporárias e parciais do desenvolvimento da sociedade que ocorrem na realidade concreta, não, jamais cairemos no pessimismo, devemos compreender a essência dialética do processo de desenvolvimento, entre o progresso e o retrocesso. 

O camarada Enver Hoxha sempre afirmou que “A luta contra o imperialismo, pelo triunfo da causa proletária, mostra que o processo revolucionário mundial não se desenvolve e não pode se desenvolver em um caminho singular, sempre na ofensiva. A história está cheia de zigue-zagues, altos e baixos, ofensivas e defensivas, sucessos e derrotas temporárias. Essa é uma lei objetiva do desenvolvimento social”.

Somos guiados pela palavra de ordem do pai do socialismo científico, Karl Marx, que diz que “se formos derrotados, não temos escolha senão começar tudo de novo”.

O Partido Comunista da Albânia (PKSH), guiado pela ciência marxista-leninista, lutou e continuará lutando para derrubar a velha ordem capitalista opressora e exploradora com uma nova revolução proletária e para restaurar uma nova ordem socialista e comunista na Albânia, sem opressão e exploração do homem pelo homem, como na época do grande camarada Enver Hoxha.

Entrevista publicada na edição nº 277 do Jornal A Verdade.

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