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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Emmanuel Bezerra dos Santos, exemplo de jovem revolucionário

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Emmanuel compreendeu profundamente que a miséria de seu povo, as injustiças e a ditadura fascista brasileira que as garantiam só podiam ser exterminadas com a existência de uma vanguarda revolucionária que orientasse, organizasse e conscientizasse o povo para a revolução.

Luiz Alves e Redação


HERÓIS DO POVO – Na praia de Caiçara, Município de São Bento do Norte (RN), nasceu, dia 17 de junho de 1947, Emmanuel Bezerra dos Santos, filho do pescador Luís Elias dos Santos e de Joana Elias Bezerra. Já morando em Natal, foi líder estudantil no Colégio Atheneu e na Fundação José Augusto, onde cursou Sociologia. Foi também presidente da Casa do Estudante, onde moravam os estudantes pobres do interior que iam à capital potiguar dar continuidade aos estudos. Teve presença marcante não apenas pela militância política. Atuou na vanguarda dos movimentos culturais natalenses como poeta, crítico literário e organizador de grupos e associações.

Primeira prisão

Já como militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR), Emmanuel organizou a bancada potiguar ao histórico Congresso da UNE de 1968, em Ibiúna (SP). Lá foi preso e teve seus direitos estudantis e políticos cassados com base no famigerado Decreto nº 477 da ditadura militar, que proibia aos estudantes o exercício de atividades políticas nas escolas e universidades. A prisão de seis meses não enfraqueceu o jovem líder, que manteve elevados o ânimo e a certeza na mudança da sociedade.

Ao sair da prisão, que cumpriu na Base Naval de Natal, assumiu, cada vez mais, tarefas de direção dentro do PCR, dirigiu o Comitê Universitário, passou a atuar na clandestinidade em Pernambuco e Alagoas e, em pouco tempo, integrou o Comitê Central, dada a sua dedicação, honestidade, firmeza ideológica e aprofundamento dos conhecimentos teóricos.

Unir os movimentos anti-imperialistas

No início de agosto de 1973, o PCR enviou-o para Argentina e Chile, com a missão de contatar revolucionários brasileiros e organizações de esquerda latino-americanas, com o fim de construir um processo de unificação do movimento anti-imperialista no continente.

Foi preso na fronteira, em meados de agosto, pela Operação Condor, articulação entre as polícias políticas sul-americanas, sob orientação do Departamento de Estado dos EUA. Entregue ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, então comandante do DOI-Codi do 2° Exército em São Paulo, o jovem foi assassinado sob as mais bestiais torturas, sem ter informado sequer a cidade na qual residia à época, Maceió, capital de Alagoas, onde era o principal dirigente do PCR. Foi coerente, até o fim, com o lema defendido pelo PCR de que “delação é traição”. Morreu como herói do povo para manter vivo o Partido.

Farsa, cinismo e covardia

Como costumavam fazer, os órgãos da repressão montaram uma farsa. Divulgaram nota publicada pela imprensa burguesa, dizendo que ele morrera num tiroteio com a polícia no momento em que se encontraria com Manoel Lisboa de Moura em São Paulo. Tudo mentira. Emmanuel se encontraria com Manoel Lisboa em Recife, no dia 15 de setembro, quando estaria chegando da Argentina. Porém, Manoel fora preso no dia 16 de agosto, tendo sido também barbaramente torturado e assassinado nos porões da repressão. A mentira, como de praxe, era confirmada pelo falso laudo elaborado pelo médico-legista Harry Shibata. A transferência do cadáver de Manoel Lisboa para São Paulo fez parte da montagem da farsa.

Quando saiu a notícia plantada pela polícia política acerca do “tiroteio”, no dia 04 de setembro, os corpos de ambos já estavam sepultados na vala comum do Cemitério Dom Bosco, em Perus, periferia de São Paulo. Isto é certo, tanto que dona Iracilda Lisboa, mãe de Manoel, foi a São Paulo no mesmo dia em que foi divulgada a notícia. Lá, a polícia política mostrou-lhe duas covas em outro cemitério, dizendo já ter ocorrido o sepultamento. Só restou-lhe colocar duas coroas de flores, mesmo desconfiando não se tratar da sepultura do seu filho e do companheiro e amigo, Emmanuel, fato que veio a ser comprovado posteriormente com a descoberta da vala comum em Perus.

No dia 27 de julho de 2021, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região reconheceu como imprescritível o crime de falsidade ideológica cometido por agentes da ditadura militar. A decisão ocorreu no julgamento da denúncia contra o médico Harry Shibata, apresentada pelo Ministério Público Federal, que o acusa de falsificar laudos necroscópicos afim de esconder os casos de tortura e execução de Manoel Lisboa e Emmanuel Bezerra.

“Devemos considerar esta decisão judicial como um marco na nossa luta pelo direito do povo brasileiro à memória, à verdade, à justiça e à reparação”, afirma Edival Nunes Cajá, ex-preso político e presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa. “A nota que o Exército redigiu e mandou para as redações dos jornais e TVs, publicada no dia 05 de setembro de 1973, com a notícia das mortes de Manoel Lisboa e Emmanuel Bezerra em tiroteio no largo de Vila Moema, foi uma criminosa fraude, foi uma das maiores e mais cínicas mentiras já cometidas pelas Forças Armadas no decorrer de todos os fatídicos 21 anos em que estiveram no comando da ditadura militar fascista no Brasil”, completa.

O povo recuperou seu herói

Os restos mortais de Emmanuel foram identificados na vala comum clandestina, junto com os de outros militantes “desaparecidos” durante o regime militar. Trasladado em 19XX para o Rio Grande do Norte, recebeu merecidas homenagens: vigília cívica no auditório da Casa do Estudante1 e sepultamento em grande cerimônia na sua terra natal, Caiçara, já como município emancipado.

Na ocasião, o jornalista Dermi Azevedo, que militou ao lado de Emmanuel, afirmou que “é este um momento de reencontro do Rio Grande do Norte com sua História. História de muitas gerações de revolucionários, desde a Comuna de Natal, de 1935, até a saga dos trabalhadores rurais por terra para sobreviver”.

“Seus restos mortais nos trazem vida. Seus ossos suplantaram mais de 20 anos de mentira. Eles pensaram que lhe tinham exterminado, no entanto, a força de sua ideologia e de tantos outros que se foram exterminou a ditadura”, declarou Josivan Ribeiro do Monte, membro da comunidade local.

A melhor homenagem

O editorial do jornal A Luta, órgão do Comitê Central do PCR, publicado depois da morte dos seus três dirigentes (Manoel Lisboa, Manoel Aleixo e Emmanuel Bezerra), trazia: “A melhor homenagem que poderemos lhes prestar é continuar o trabalho pelo qual deram suas vidas: desenvolver, até a vitória, o trabalho revolucionário que conduzirá o Brasil a ser livre da exploração estrangeira, à democracia, ao socialismo e, finalmente, ao mais belo sonho dos homens, o comunismo”.

Emmanuel compreendera profundamente que a miséria de seu povo, as injustiças e a ditadura fascista brasileira que as garantiam só podiam ser exterminadas com a existência de uma vanguarda revolucionária que orientasse, organizasse, conscientizasse o povo para a revolução. Por isso, dedicou o melhor de sua via à causa da derrubada da ditadura militar e da Revolução Proletária.

Nota:

  1. No 1º de abril de 2019, o governo do RN marcou os 55 anos do golpe militar de 1964 com uma solenidade na histórica Casa do Estudante, que então passou a levar o nome de Emmanuel Bezerra dos Santos e a abrigar a Secretaria Estadual da Mulher, Juventude, Igualdade Racial e Direitos Humanos.

Às gerações futuras

 

Eu vos contemplo

Da face oculta das coisas.

Meus desejos são inconclusos,

Minhas noites sem remorsos.

 

Eu vos contemplo,

Pelas grades insensíveis.

Meu sonho,

É uma grande rosa.

Minha poesia,

Luta.

 

Eu vos contemplo

Da virtual extremidade.

Minha vida (pela vossa).

Meu amor,

Vos liberta.

 

Eu vos contemplo

Da própria contingência.

Mas minha força

É imbatível

Porque estais

À espera.

 

Eu vos contemplo

Pelo fogo da batalha.

Meus soldados

Não se rendem.

O grande dia

Chegará.

 

Eu vos contemplo

Gerações futuras,

Herdeiros da paz e do trabalho.

As grades esmaecem

Ante meu contemplar.

Emmanuel Bezerra dos Santos

Base Naval de Natal, 1968

 

Matéria publicada na edição nº 277 do Jornal A Verdade.

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