Durante a Ditadura Militar Fascista na Argentina era comum o governo sequestrar filhos de militantes democratas, progressistas ou revolucionários e encaminharem as crianças a outras famílias, ligadas ao regime. Esta era uma das principais formas de perseguição e tortura dos militares argentinos.
Redação
INTERNACIONAL – Em entrevista coletiva no último dia 29 de julho, as “Avós da Praça de Maio” anunciaram que haviam encontrado o neto de nº 133. As “Avós da Praça de Maio” são um movimento político de mulheres da Argentina que tiveram seus filhos e netos desaparecidos pela Ditadura Militar argentina (1976-1983).
Durante a Ditadura Militar Fascista naquele país era comum o governo sequestrar filhos de militantes democratas, progressistas ou revolucionários e encaminharem as crianças a outras famílias, ligadas ao regime. Esta era uma das principais formas de perseguição e tortura dos militares argentinos. Estima-se que pelo menos 500 crianças ou bebês foram sequestrados durante os anos de ditadura.
O “neto nº 133”, que não teve seu nome revelado, é filho de Julio Santucho e Cristina Navajas, que militaram contra a Ditadura e foram presos e torturados. Cristina havia sido presa ainda grávida e seu filho sequestrado logo após o nascimento e entregue a um casal formado por um agente de segurança e uma enfermeira.
Cristina Navajas até hoje se encontra desaparecida. Já o pai do “neto nº 133” declarou na coletiva de imprensa que “Por mais difícil que seja, o melhor que pude fazer foi contar a verdade aos meninos: que a mãe deles não está aqui por causa dos militares. Esta é uma derrota para a ditadura que queria tirar os nossos filhos, mas os estamos recuperando”
A pessoa identificada agora é neto de Nélida Santucho, uma das fundadoras da organização “Avós da Praça de Maio” e que faleceu em 2012, sem nunca ter podido conhecê-lo. Ele também tem dois irmãos que já conheceu, graças ao trabalho da Avós.
Na coletiva, um dos irmãos do “neto 133″ lembrou de Nélida Santucho. “Foi um exemplo para mim, uma referência, como todas as avós que foram tratadas como loucas, atacadas pelo regime, algumas sem ter certeza do nascimento de seus netos. Ela nunca desistiu de lutar”, disse.
O reencontro desta família mostra a força e a determinação das mulheres que constroem a luta pela reparação aos crimes da ditadura na Argentina. São décadas de lutas em que além de procurar por seus filhos e netos desaparecidos, as mobilizações também garantiram a prisão e condenação de uma série de agentes da repressão ditatorial.
Esta é mais uma vitória da luta por memória, verdade e justiça na Argentina. Assim como no Brasil, os argentinos sofreram com uma ditadura brutal que deixou milhares de mortos, desaparecidos, torturados e exilados. Muitas pessoas continuam na luta nos dois países para que os responsáveis por todos esses crimes sejam condenados e presos por seus crimes contra a humanidade.
Matéria publicada na edição nº 276 do Jornal A Verdade.