O que Engels fez pela luta de libertação dos explorados é indissociável das realizações de Karl Marx e isso merece a nossa eterna gratidão. Seus feitos estão indelevelmente registrados na história do desenvolvimento revolucionário rumo à nova era, estão gravados com linhas flamejantes nos anais das ciências.
Tradução: Andrei Rodrigues (RJ)
Clara Zetkin* | Fundadora do Partido Comunista da Alemanha e líder do movimento internacional das mulheres
TEORIA MARXISTA – Os proletários de todos os países, unidos em um único objetivo, choram em memória de um dos melhores e maiores homens de todos os tempos. Em 05 de agosto às 22:30h, morreu, em Londres, a segunda das grandes mentes que a combativa classe trabalhadora homenageia hoje como um dos seus maiores pesquisadores e líderes, como o fundador do Socialismo Científico. Friedrich Engels, o invicto e preparado militante pela libertação do proletariado, foi alcançado aos 75 anos de idade pela invencível morte. Ele não se foi como um homem cansado, mas como um fazendeiro dono de uma colheita frutífera. Ainda que Engels tenha falecido em decorrência de sua idade, ele não era de fato tão velho, com seu intelecto fresco, sua força de vontade, seu ânimo apaixonado e seu alegre vigor, ele foi um dos homens mais jovens que já lutou conosco. Desde a morte de Marx (14 de março de 1883) que o proletariado não registrava uma perda tão dolorosa.
O que Engels fez pela luta de libertação dos explorados é indissociável das realizações de Karl Marx e isso merece a nossa eterna gratidão. Seus feitos estão indelevelmente registrados na história do desenvolvimento revolucionário rumo à nova era, estão gravados com linhas flamejantes nos anais das ciências.
Como teórico, Engels construiu junto a Marx as inabaláveis e sólidas bases científicas para a luta de libertação dos despossuídos. Junto a ele, forjou para os trabalhadores conscientes, o mais afiado, necessário e infalível instrumento intelectual para abater os inimigos. E quando seu amigo se foi sem ter completado o trabalho de sua vida, recaiu sob Engels, como seu herdeiro intelectual e executor do testamento, a incomparavelmente grande e difícil tarefa de finalizar a obra inacabada de Marx. Ele fez isso como nenhum outro seria capaz de fazer.
A inseparável dupla Marx-Engels, foram os primeiros a reconhecer, claramente, a força e o dever histórico do proletariado. Eles não sentiam o sofrimento da classe trabalhadora com o coração quente dos filantropos, mas enxergavam, como profundos pesquisadores e ousados pensadores, na luta do proletariado, o principal motor do desenvolvimento histórico moderno. Demonstraram a força motriz histórica da luta de classes. Atacaram profundamente as crenças delirantes no senso de justiça dos exploradores. Ensinaram aos despossuídos que eles só podem esperar conquistar sua libertação única e exclusivamente através da luta consciente de classe contra classe. A libertação da classe trabalhadora é trabalho da própria classe trabalhadora.
“Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos”, clamava Engels já em 1848 ao mundo do trabalho no eterno Manifesto Comunista. E cada vez mais, mostrou ao proletariado que a conquista do poder político e estatal era o único caminho que levaria a uma sociedade futura ensolarada.
De etapa em etapa, Engels acompanhou a marcha de conquistas da classe trabalhadora consciente, sempre animando, nutrindo, aconselhando e ajudando com palavras e atos; Sem nunca perder a visão geral da situação, a avaliação fria das circunstâncias. Foi incomparável como tático e estrategista, assim como teórico.
O tanto que a classe trabalhadora, em especial a alemã, lhe agradece e o que perderam com sua morte é imensurável. É certo que ele mesmo nos ensinou que o movimento socialista cresce a partir das circunstâncias e não permanece de pé ou derrotado por causa de pessoas. Mas, a sua personalidade se sobressaia tanto, seu trabalho era tão amplo e profundo, que seu desaparecimento deixa um enorme vazio que ninguém será capaz de preencher.
As mulheres proletárias guardam por ele, porém, memórias especialmente gratas. Ele não só forjou as bases científicas para a luta de libertação dos explorados, mas também para a batalha de emancipação das mulheres.
A luta do gênero feminino pela plena igualdade foi atacada pelo filistinismo, sobretudo com referência à suposta incompatibilidade da plena humanidade da mulher com a natureza da família e os deveres para com ela. E a família patriarcal, baseada na escravidão das mulheres era considerada pelo filistinismo como a família em si, como a única norma moral, econômica e social possível para a coexistência dos sexos por toda a eternidade. Assim como haviam mostrado os utopistas – sobretudo Fourier – Marx e Engels mostraram, no Manifesto Comunista, com brilhante nitidez, que o capitalismo “rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias”. Foi reservado a Engels, entretanto, a tarefa de destruir para sempre a crença cega do burguês na existência eterna da família patriarcal. Acompanhando o trabalho de Morgan e Bachofen, que ele expandiu, aprofundou e organizou como os blocos de uma estrutura maravilhosamente lógica e clara, Engels provou científica e incontestavelmente que a família, como qualquer outra estrutura social, cresce e modifica-se sob a força motriz da economia e das relações de propriedade, e que suas formas passam por constante aparecimento e desaparecimento. Seu magistral estudo A origem da família, da propriedade privada e do Estado é de importância fundamental para a luta de libertação geral do gênero feminino.
Com Engels, morreu um erudito universal, uma personalidade enérgica, ampla e harmonicamente desenvolvida, que nos remete aos tempos do Renascimento e da Grande Revolução Francesa. Uma personalidade de indizível magia do ser, um amante da vida no sentido mais nobre e abrangente da palavra. Inspirado pelo sentimento mais caloroso e abnegado, mas sem sentimentalismo fraco. Poderoso e autoconfiante, mas sem presunção. Corajoso e ousado, mas sem ostentação. Cavalheiresco e, ao mesmo tempo, natural, simples, moral e amável não por convenção, mas por verdadeira bondade de coração.
Certamente, levamos ao seu túmulo uma sincera e profunda tristeza pelo que perdemos com sua partida. Da mesma forma, porém, exaltamos com orgulho e alegria o rico e precioso patrimônio que ele nos deixou. Não há agradecimento mais elogioso, nem despedida mais apropriada para Engels do que o grito: Avante na luta! Avante à vitória!
*Escrito em agosto de 1895