Diante da falta de professores, estudantes da ECA começaram a se mobilizar para garantir e exigir da diretoria da faculdade a contratação de docentes.
Júlia Urioste e Luis Almeida | São Paulo
EDUCAÇÃO – Desde o início das aulas do segundo semestre na USP, estudantes de diversos cursos e unidades têm se organizado e mobilizado contra os cada vez mais covardes ataques contra a educação impetrados pela reitoria da universidade, que, cumprindo a agenda neoliberal e anti povo do governador Tarcísio Gomes de Freitas, busca expulsar estudantes pobres e cotistas da universidade.
Na Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP), diversos cursos da faculdade têm sofrido desde o início do ano com a falta de professores suficientes para ministrar as disciplinas. Alguns cursos, como a Música e as Artes Plásticas, chegam a sequer ter professores o suficiente para garantir as disciplinas obrigatórias da graduação. Sem poder cumprir mesmo as matérias obrigatórias, o corpo discente é forçado a ficar mais e mais anos na universidade, na esperança de algum dia conseguir se formar.
Diante de tal situação, estudantes do CAP, dos cursos de artes plásticas, uniram-se ao CALC, seu centro acadêmico, e começaram a se mobilizar para garantir e exigir da diretoria da ECA a contratação de docentes.
O Movimento Correnteza, que compõe a atual gestão de CALC, esteve à frente das lutas junto com cada estudante, participando das assembleias de curso, que desencadearam, e de pronto, em um importante calendário de luta a mobilização.
Graças a mobilização estudantil contínua, houve o adiantamento de nove docentes claros para a ECA, porém, esse número ainda é insuficiente para suprir a demanda dos onze cursos do Instituto, todos sucateados em maior ou menor nível.
Assim, no dia 30/08, estudantes de todos os cursos se organizaram e construíram um grande ato itinerário, que passou por toda a ECA e chegou a entrar nas dependências de dois cursos, convocando cada aluno em aula para se somar à luta.
O ato foi organizado para este dia pois, como combinado com a direção da ECA, haveria uma reunião aberta de estudantes com a direção, os chefes de departamento e o Centro Acadêmico, afim de debater soluções para a falta de professores.
O que aconteceu, no entanto, foi o recuo da diretoria da ECA, que cancelou a reunião e no lugar chamou apenas um encontro entre representantes da direção (o que não incluía a própria diretora da ECA) e alguns representantes discentes.
Diante de tal situação absurda, o corpo discente não arredou o pé nem se desmobilizou, mantendo a convocação do ato em caráter de denúncia, entendendo a importância da luta organizada e aguerrida para combater qualquer programa elitista e sucateador da educação pública.
Agenda neoliberal avança na USP
O ano de 2023 na USP, primeiro ano da gestão de Tarcísio no governo do estado, foi marcado desde antes do próprio ano letivo por uma série de medidas e ações fascistas, neoliberais e cruéis, com o objetivo claro de trazer de volta à universidade pública a natureza elitista que sempre teve, retrocedendo nos avanços importantíssimos alcançados com a implementação das cotas raciais e sociais e a luta por políticas de permanência estudantil.
Só neste ano, tivemos na universidade a mudança do programa de assistência estudantil (PAPFE) para um modelo mais excludente, que retira bolsas existentes e pouco faz para compensar com novos benefícios, além da falta de professores em diversas unidades da USP, como na ECA, na Faculdade de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (FoFiTO) e no curso de obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP).
E ainda o recrudescimento covarde e fascista da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento contra estudantes moradores do Conjunto Residencial da USP, despejando estudantes sem qualquer forma de direito à defesa, respeito às formas legais e sequer à dignidade humana.
Todos estes fatores deixam muito claro que há um projeto político bem definido e alavancado pela reitoria da universidade para fazer avançar um modelo neoliberal, elitista, racista e antipovo na universidade.
Com a entrada de Tarcísio, herdeiro político do fascista Bolsonaro, na gestão do governo estadual, a reitoria da USP sente-se cada vez mais à vontade para fazer valer sem vergonha alguma seu programa neoliberal, cada vez mais arbitrário e buscando cada vez mais excluir estudantes da universidades e desarticular a luta do movimento estudantil.