Na Faculdade de Comunicação (FACOM) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) uma estudante do curso de Produção Cultural sofreu transfobia e racismo por parte da coordenadora do colegiado da instituição.
Isabella Tanajura* | Salvador
EDUCAÇÃO – Nesta terça-feira (12) uma estudante trans da Faculdade de Comunicação (FACOM) denunciou uma professora por transfobia e racismo durante aula do curso de Produção Cultural. A professora em questão é, além de discente do curso, coordenadora do colegiado da graduação em Comunicação da instituição.
A vítima, Liz Reis, estudante e cantora lírica, disse que o incidente começou quando a professora discordou dos apontamentos da estudante relacionados ao texto abordado na aula. A professora usou pronomes masculinos e disse que seus comentários eram “sem sentido”. Além disso, a docente chamou um servidor para retirar Reis da sala, alegando que a estudante estaria num surto psicótico.
Em resposta, estudantes de diversos cursos da UFBA realizaram um ato em repúdio ao ocorrido. O ato se concentrou em frente à FACOM e partiu em marcha com palavras de ordem e cartazes até a inauguração de parte do prédio do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos (IHAC), edifício que passou quatro anos sem avanços nas obras.
Transfobia e racismo não cabem na educação popular
O evento de inauguração do IHAC em que estavam presentes várias autoridades da universidade incluindo o reitor da UFBA, Paulo Miguez, cedeu o espaço de fala para os estudantes realizarem uma intervenção denunciando o ocorrido. “Não é só a questão do pronome, é isso também. Porque além dela ter errado meu pronome de propósito, ela matou a minha narrativa de uma estudante, que construo com tanta resistência” afirma Liz Reis durante sua fala ao microfone no evento. “Ela tentou quebrar a minha imagem de uma artista, ela tentou quebrar a minha narrativa e isso foi cruel. E eu quero uma resposta de quem está aqui e pode fazer alguma coisa” completa a estudante.
Durante o ato, outros estudantes trans da UFBA alertaram sobre as violências que sofrem dentro da universidade tanto em sala de aula com professores e colegas de turma que desrespeitam a maneira com as quais querem ser chamados quanto no próprio sistema da universidade. Karym Assemany, estudante de Ciências Sociais e militante do Movimento Correnteza, trouxe a questão da do desrespeito do nome social pelas instâncias da UFBA: “Uma coisa básica: a UFBA tem no seu processo seletivo, quando você passa no ENEM, [a opção de] colocar seu nome social. Seu nome social não é respeitado! Aquilo é um negócio para dizer que a lei está sendo posta em prática e ela não é. Fiz isso e demorou mais de seis meses para me darem resposta, mas o nome morto continua ali no e-mail. A gente só vai conseguir as mudanças com luta!”.
A massa que protestava sobre o caso de transfobia exigiu um posicionamento imediato do reitor Paulo Miguez que estava presente no evento. Miguez trouxe em sua fala que a universidade vai apurar o ocorrido e que o caso foi levado às instâncias competentes. O reitor também levantou que os estudantes deveriam ter mais ponderação em suas falas e posicionamento.
TRANSformar a UFBA em universidade popular
A universidade pública deve ser um lugar em que todos os estudantes, independente de todas as diferenças, possam construir ciência, debater e construir um ambiente livre de agressões. Essa não é uma tarefa fácil, seja enquanto estudantes, no movimento estudantil ou corpo docente, devemos lutar para de fato transformar esse espaço para tornar em uma instituição verdadeiramente popular.
*Estudante de Jornalismo na Faculdade de Comunicação (FACOM) da UFBA.