Atos em Recife e São Paulo reunem centenas de pessoas para homenagear o heroísmo revolucionário de Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, Manoel Aleixo, Amaro Luiz de Carvalho e Amaro Félix Pereira, militantes do PCR assassinados pela ditadura militar fascista.
Lucas Marcelino (SP)
Rafael Freire (PE)
PARTIDO – No dia 04 de setembro de 1973, Manoel Lisboa de Moura, principal dirigente do Partido Comunista Revolucionário (PCR), foi assassinato nos porões da ditadura militar após 19 dias das mais bárbaras torturas. Assim, este ano de 2023 marca a celebração dos 50 anos de imortalidade dos heróis do PCR, estendendo as homenagens a Emmanuel Bezerra dos Santos, Manoel Aleixo da Silva (também mortos em 1973), Amaro Luiz de Carvalho (morto em 1971) e Amaro Félix Pereira (desaparecido entre 1971 e 1972). Dois atos regionais foram organizados, reunindo militantes a apoiadores em momentos de muita emoção e combatividade.
Recife
Em Recife (PE), o ato aconteceu no último dia 04, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), contando com a parceria institucional da Cátedra Dom Helder Câmara. Cerca de 500 pessoas, vindas dos bairros periféricos da cidade, participaram, além de representações dos nove estados do Nordeste e o Amazonas. A saudação de abertura ficou com o professor anfitrião Manoel Moraes, em nome da Unicap. Antes, todo o plenário entoou junto A Internacional, o hino mundial da classe trabalhadora.
Além dos cinco dirigentes do PCR, foram homenageados mais três militantes mortos em 1973: Ranúsia Alves Rodrigues, militante do PCBR, representada por sua sobrinha Rose Michelle; Luiz José da Cunha, o comandante Crioulo, da ALN, representado por sua ex-companheira Amparo Araújo; e Soledad Barrett Viedma, militante internacionalista, então na VPR, presente por meio de sua filha Ñasaindy Barrett.
Zé Nivaldo, escritor e publicitário que esteve preso nas dependências do IV Exército, em Recife, nos mesmos dias em que Manoel estava sendo torturado, relembrou aqueles momentos de terror, mas, ao final, afirmou: “Manoel, este ser humano extraordinário, serve de inspiração para cada um que está aqui. Se ele estivesse vivo, estaria orgulhoso dos filhos que ele não teve, que são vocês, que fazem o PCR, que vive e luta”.
O ato, que teve um caráter político-cultural, foi animado pelas apresentações de Gracinha do Samba, cantando “Opinião” e o “Canto das Três Raças”; MC Demo, com um rap para Manoel Lisboa; Clóvis Maia, declamando “Tu e eles”; Geraldo Maia, interpretando “A bandeira do meu partido”; e a atriz paraibana Zezita Matos, recitando poemas escritos por Emmanuel Bezerra.
São Paulo
Já em São Paulo (SP), o ato aconteceu no dia 06, na Casa de Portugal. O evento foi aberto com a apresentação de A Internacional pelo grupo Encontros e Cantorias, que, ao longo do evento, ainda executou outras canções, como “Pesadelo” e “Hino da Greve”. Mais de 1 mil pessoas lotaram o local, vindos de todos os estados das regiões Sudeste e do Sul do país, além do Pará, Distrito Federal e Goiás.
Claudio José Langroiva Pereira, anfitrião da Casa de Portugal, afirmou: “A casa tem uma alegria muito grande em dar um resgate desta história. Estes 50 anos serem celebrados aqui é muito emocionante para a Casa. Lembramos que, no ano que vem, em 25 de abril, será a comemoração dos 50 anos da Revolução Cravos. Este momento é o resgate da liberdade e democracia que tanto esperávamos depois destes quatro anos de luto no Brasil”.
Maria Vitória Benevides e José Luis Del Roio, representando a Comissão Arns, saudaram a presença massiva da juventude no plenário. Maria afirmou: “Que beleza essa juventude reunida para lembrar os nossos heróis que enfrentaram a ditadura militar em nosso país. Estou emocionadíssima. Construir o socialismo é o melhor caminho para honrarmos as memórias destes nossos heróis revolucionários”, ressaltou.
Del Roio relembrou as ligações entre a ALN e o PCR na resistência à ditadura e complementou: “Vocês estão provando que o comunismo é a primavera da humanidade. Este velho militante comunista fica emocionado”.
Ainda estiveram presentes entidades de defesa dos direitos humanos, como a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, o Instituto Vladimir Herzog, além da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo e o Consulado de Cuba em São Paulo.
O ator Felipe Galisteo relembrou a história de Manoel Aleixo com uma emocionante performace do poema “Ventania”, de autoria de Júlia Andrade Ew.
Amelinha Teles, Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos, falou sobre a descoberta e o traslado dos restos mortais de Manoel Lisboa e Emmanuel Bezerra numa vala clandestina no Cemitério Campo Grande, na Zona Sul de São Paulo. “O enterro do Emmanuel foi uma coisa linda. Eu sinto emoção só de estar contando a vocês. O município inteiro (Caiçara do Norte, RN) estava lá esperando por ele. Na cidade inteira estava escrito ‘Emmanuel Vive’. Já no velório do Manoel, na Câmara de São Paulo, houve uma grande discussão para que ele fosse velado com a bandeira do PCR, que foi o motivo pelo qual ele deu a vida”, relatou.
A luta do PCR pela derrubada da ditadura e pela revolução
Em ambos os atos, um cortejo com trabalhadores, trabalhadoras e jovens carregou bandeiras do PCR e outros movimentos, reforçando o caráter revolucionário da classe trabalhadora, a origem do PCR entre o povo trabalhador e a necessidade de os comunistas estarem sempre ligados às massas.
Também nesses dois momentos coube ao camarada Edival Nunes Cajá, em nome do Comitê Central do PCR, proferir a fala principal em memória dos heróis do Partido.
Além de apresentar o contexto histórico da ditadura militar, o estágio da luta de classes que se desenvolvia no Brasil e a luta do PCR pela derrubada da ditadura e pela revolução socialista, Cajá fez um emocionante relato sobre a história dos homenageados e de momentos que viveu ao lado de Manoel Lisboa, relembrando a firmeza e coerência dos dirigentes do PCR de agir conforme aquilo que defendiam.
Assim foi durante todos os dias sob tortura aos quais os cinco foram submetidos e não entregaram nenhuma informação, cumprindo a norma de que o dever de todo revolucionário é vencer as torturas.
“Foram três operações da ditadura contra o PCR. A primeira, com a prisão de Amaro Luiz de Carvalho. A segunda, chamada ‘Guararapes’, em 1973, e a terceira, chamada ‘Arraial’, em 1978/79, quando eu fui preso. Em todas, o objetivo era claro: desbaratar e destruir a organização do PCR. Não conseguiram na primeira, na segunda, nem na terceira”, afirmou Cajá, que é ex-preso político e um dos líderes do movimento nacional por memória, verdade e justiça de transição.
Essa determinação incomparável, registrada, inclusive, nos documentos da repressão, garantiu que fosse possível cumprir o último desejo de Manoel. “No fim de seu calvário, ele foi colocado frente à companheira Maria do Carmo Tomáz e pediu: ‘Sei que minha hora chegou. Fiz o que pude. A vocês, peço apenas que continuem o trabalho do Partido’”, relatou Cajá.
A luta continua
Diversos movimentos e organizações políticas fizeram saudações nos dois eventos, enfatizando o compromisso de continuarem a luta pela punição dos que cometeram crimes em nome da ditadura militar, bem como de apontar a revolução socialista como único caminho possível para o povo trabalhador brasileiro.
Katerine Oliveira, falando em nome da União da Juventude Rebelião (UJR), afirmou: “Manoel Lisboa e Emmanuel Bezerra, assim como os militantes da UJR, entraram na luta muito jovens. Foram assassinados com 29 e 26 anos. Quantos de nós não nos identificamos com eles e tantos outros jovens que deram suas vidas na luta contra a ditadura quando fazemos nossas lutas nos centros acadêmicos e grêmios?!”.
Leonardo Péricles, presidente nacional da Unidade Popular (UP), disse: “Esse legado da luta desses camaradas faz parte profunda da construção da UP no nosso país. O legado marxista-leninista desses camaradas faz parte do DNA da UP”.
Matheus Araújo, da Coordenação Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), fez uma grande agitação ao afirmar que “ver este auditório lotado, 50 anos depois do ano que mais matou presos políticos no Brasil, que mais torturou em nosso país, é a prova de que a ditadura militar não conseguiu cumprir com o seu objetivo, porque o povo brasileiro segue se organizando e avançando as lutas em todos os espaços possíveis”.
Não só o Partido continua vivo, mas, 50 anos após a morte dos seus principais líderes, a palavra de ordem presente na boca da militância é “O PCR vive, luta e avança!”. Isso ficou provado por estes grandiosos e emocionantes atos, dignos da determinação e da coragem dos cinco heróis do Partido Comunista Revolucionário que entregaram suas vidas pela democracia e pelo socialismo no Brasil.