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sábado, 27 de abril de 2024

Che e a Humanidade Futura

Che Guevara foi profundo em suas ações, na teoria e na prática e em sua conduta íntegra. Legou aos revolucionários e povos do mundo inteiro um exemplo vivo de um homem novo. Sua história e seus escritos devem ser estudados com profundidade por todos aqueles que hoje desejam derrotar o apodrecido capitalismo imperialista.

Alex Feitosa (RN) e Renato Amaral (MG)


HERÓIS DO POVO – “Se quisermos expressar como aspiramos que sejam nossos combatentes revolucionários, nossos militantes, nossos homens, devemos dizer sem vacilação de nenhuma classe: Que sejam como o Che!” (Fidel Castro)

Ernesto Guevara de La Serna, o Che, viveu sua vida da maneira como pensava: conseguir acabar com a distância entre o que se fala e o que se faz. Em seu texto “O socialismo e o homem em Cuba”, desmascara a propaganda burguesa de que o indivíduo é anulado no processo de construção da sociedade socialista. Para Che, é o papel ativo do indivíduo – desde a preparação da tomada do poder até o desenvolvimento da nova sociedade – e como, de maneira dialética, este se realiza através da ação coletiva e social.

Che defendia que “em todos os países onde a opressão chega a níveis insustentáveis, deve-se erguer a bandeira da rebelião”. Foi desta maneira que levou à vitória da Revolução Cubana, e o indivíduo, na medida que expressa as necessidades das massas, cumpriu um papel determinante.

Nesta vanguarda, as ações que exigiam maiores riscos e responsabilidades eram determinantes para que um(a) dirigente assumisse espaços de comando na guerrilha. O incentivo não era outro senão o cumprimento do dever. Tal conduta expressa qualidades morais que também caracterizam o homem e a mulher novos. O desafio que se impõe é transformar o heroísmo, a abnegação, o sacrifício, em algo cotidiano, pertencente a uma conduta absorvida pelas massas.

Che e o Ministério das Indústrias 

Foi por conta disso que Ernesto Guevara assumiu o cargo de ministro das Indústrias do governo revolucionário. Durante todo o período em que esteve nesta tarefa, realizou destacadas ações. Visitou os países socialistas da Europa para pedir apoio a Cuba, elaborou teoricamente, dentro do marxismo, formas de desenvolver a economia do país. Mas também “pegava no pesado” e contribuiu diretamente com os recordes na produção do corte da cana.

Em seu primeiro dia como operador de máquinas colhedoras, Che alcançou, em nove horas de trabalho, 6.800 arrobas de cana. No segundo dia, durante seis horas e 51 minutos, colheu 5.900 arrobas. Numa linha ascendente, em seu 14º dia de trabalho, alcançou o recorde de 22 mil arrobas em 12 horas. Assim, Che provava que o trabalho voluntário fazia a diferença na produção de cana na ilha, e que até o ministro deveria arregaçar as mangas e ir para o trabalho voluntário.

Combater duramente o passado é ainda mais importante no período de transição. Justamente porque, nesse período, ainda há relações mercantis, a lei do valor ainda atua em todas as esferas da sociedade, base material do individualismo e do egoísmo. Enquanto essa base material existir, será fonte de reprodução da ideologia burguesa.

A educação ideológica 

Por isso, o objetivo é fazer desaparecer os vícios da antiga sociedade.  A educação atinge o indivíduo de forma direta e indireta e este se submete a um processo consciente de autoeducação. Em sua definição, o homem e a mulher novos estão em construção, são seres inacabados que a experiência concreta da Revolução desenvolve sob os princípios revolucionários.

Nesse sentido, Che levanta uma questão importante. Considerando as experiências de outros países que viveram experiências de luta revolucionária, chega à conclusão que o incentivo material é insuficiente e que a educação política e ideológica deve ser a arma principal para combater a ideologia burguesa. Segundo ele, a base econômica (a produção de mercadorias) sabota a consciência. Dar nova dimensão ao trabalho para que este deixe de ser um estorvo e se transforme em meio de libertação e realização do ser humano. Transformar o trabalho em trincheira de luta pela construção do bem comum da sociedade.

O internacionalismo proletário

Outro elemento na formação dessa moral nova é o internacionalismo proletário. A luta pela independência dos povos, contra a exploração colonial e anti-imperialista, para que cheguem ao fim a guerra e a opressão de uma nação sobre outra, é parte fundamental da luta pelo socialismo. O desenvolvimento de uma prática política internacionalista, para além de seu alcance exterior, fortalece a consciência da vanguarda e das massas. 

Com o objetivo de promover a revolução no mundo, Che escreveu “Mensagem à Tricontinental”, em que convocava os revolucionários do mundo a construir “um, dois, três, muitos Vietnãs”. Esta proclamação chamava à luta anticolonial, anti-imperialista e socialista os povos da África, Ásia e América Latina.

Che foi, então, ao Congo organizar uma guerrilha que vingaria o assassinato do líder revolucionário Patrice Lumumba. Lá estabeleceu relações com o governo revolucionário da Argélia e com os revolucionários do Vietnã. Também manteve contatos com o movimento negro dos EUA, enviando uma carta lida por Malcolm X em um comício, incentivando os movimentos revolucionários na América Latina. Por essas defesas, Che não poderia cuidar apenas de um país, mas sim ser o revolucionário que poderia alastrar a revolução para outros países.

A guerrilha na Bolívia, por exemplo, teve como objetivo desenvolver a ação revolucionária em toda a América Latina. Pelas montanhas bolivianas, Che poderia realizar contatos e incentivar guerrilhas no norte da Argentina, no Peru e no Brasil. A intenção era levantar os povos da América por uma revolução socialista. Assim, para provar suas verdades, Che deveria estar presente nessa luta, não dirigindo-a a partir do exterior, e sim como um dirigente no campo de batalha. E assim o fez.

Tal reflexão possui uma grande importância para os revolucionários e revolucionárias que hoje desenvolvem suas lutas sob o capitalismo. O esforço persistente, o trabalho cotidiano, a entrega sincera no cumprimento das diversas tarefas que a Revolução exige no Brasil, na América Latina e no mundo são qualidades que forjam o que esperamos da humanidade futura.

Quando o sacrifício é consciente, ele deixa de ser um fardo para ser a satisfação de darmos nossa contribuição à libertação da classe trabalhadora da opressão e da exploração do capitalismo imperialista.

A propaganda burguesa pela manutenção da dominação ideológica é feita para apresentar a possibilidade de acumulação de riqueza a qualquer um. A ilusão de uma possível libertação individual por meio do enriquecimento, mesmo que à custa da exploração e do sofrimento de outras pessoas, vai prendendo as pessoas nas cadeias invisíveis do capitalismo. Para isso, todos os meios de comunicação nas mãos da burguesia, o sistema educacional, a produção artística e cultural voltadas para o culto do “indivíduo” servem ao propósito de garantir a alienação das massas.

O papel do Partido

Outro elemento defendido por Che para uma real transformação das pessoas é o papel do Partido, da vanguarda. Ele é o elemento determinante na formação dos quadros revolucionários. Seus militantes e dirigentes devem, a partir do exemplo diário, da dedicação, do sacrifício consciente, mobilizar as massas na construção do socialismo. Sua atuação enquanto governo (ditadura do proletariado) se faz sentir não apenas sobre a classe derrotada pela Revolução, mas também sobre a classe trabalhadora. Por isso, a justa expressão dos interesses imediatos e futuros do proletariado é o que garante a sintonia entre a vanguarda e as massas.

Entretanto, chama atenção que esse processo não acontece sem equívocos e, quando isso acontece, é perceptível a diminuição da participação política, um certo desinteresse nas diretrizes (equivocadas) do governo revolucionário. Essa vigilância, capacidade de autocrítica, combate à burocratização permeiam todo o pensamento e a prática de Che Guevara. 

A transformação da sociedade, tanto em sua base material, econômica, quanto em sua superestrutura, ou seja, ao nível das ideias, da moral, da produção artística, etc., só se dará com uma ação consciente de uma vanguarda que aplique a teoria revolucionária do marxismo-leninismo de forma criadora e combativa. Neste sentido, Che conclui que, na experiência cubana, há dois pilares da construção do socialismo: o desenvolvimento da técnica e do homem e da mulher novos.

Che Guevara foi profundo em suas ações, na teoria e na prática e em sua conduta íntegra. Legou aos revolucionários e povos do mundo inteiro um exemplo vivo de um homem novo. Sua história e seus escritos devem ser estudados com profundidade por todos aqueles que hoje desejam derrotar o apodrecido capitalismo imperialista.

Fontes:

“O Socialismo e o Homem em Cuba” e “Mensagem à Tricontinental” – Che Guevara

“Che, Una Nueva Batalla” – Geronimo Alvarez Batista

“Che Chevara e a luta revolucionária na Bolívia” – Luiz Bernardo Pericás 

Publicado na edição nº 280 do Jornal A Verdade.

 

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