Durante quase um mês, estudantes de todos os cursos da maior universidade pública do país constroem a maior greve da história da USP.
Cadu Machado, da Redação e Isis Mustafa, 1ª Vice-presidente da UNE
JUVENTUDE – Os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) decidiram, no dia 20 de setembro, paralisar as atividades e lutar pela contratação de mais docentes; pela obrigatoriedade de contratação quando docentes se aposentarem; por mais políticas de permanência estudantil e pela implementação do vestibular indígena.
Durante quase um mês, estudantes de todos os cursos da maior universidade pública do país constroem a maior greve da história da USP.
Institutos como a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA), que não paralisavam suas atividades desde os anos 1990, e da Escola Politécnica (Poli), por exemplo, realizaram grandes assembleias de base e aderiram, de forma histórica, à luta por melhores condições para os estudantes na USP.
Greve na Unicamp
O dia 03 de outubro foi importantíssimo na luta da classe trabalhadora em São Paulo. Neste dia 03, os sindicatos dos trabalhadores da Sabesp, do Metrô e da CPTM realizaram uma greve geral de 24h contra as privatizações propostas pelo governador fascista Tarcísio de Freitas.
Várias outras categorias aderiram à paralisação e, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os estudantes aprovaram paralisação das atividades contra as privatizações e por pautas estudantis que envolviam reformas estruturais, permanência, contratação de professores e aprovação da política de cotas para pessoas trans. Dos 24 institutos da universidade, 23 aprovaram a paralisação em assembleias lotadas e combativas, que debateram as privatizações, a conjuntura e os problemas enfrentados pelos estudantes.
No dia seguinte, estudantes, membros do DCE e dos Centros Acadêmicos e trabalhadores da universidade – que também estão em greve – se reuniram na sede do DCE e se organizaram para realizar uma série de atividades políticas, culturais e formativas durante o dia todo, organizando grupos de intervenção (piquetes) para encerrar as aulas em que os professores tentavam impedir o direito dos estudantes de aderir à paralisação.
Greves arrancam vitórias
A grande adesão dos estudantes às greves das universidades estaduais de São Paulo, com a paralisação inédita dos campi do interior do estado, obrigou as Reitorias e o governador a se dobrarem, estabelecendo mesas de negociações com os grevistas.
No dia 09 de outubro, os estudantes da USP conquistaram o compromisso da Reitoria em disponibilizar imediatamente 1.027 vagas docentes, além de várias conquistas específicas de cada instituto. Além disso, será instaurada a Comissão de Acesso Indígena, no sentido de viabilizar a criação de vestibular específico.
Outras duas pautas centrais da greve foram objeto de compromisso na mesa de negociação: o não fechamento de nenhum curso por falta de professores e a construção de um prédio para inaugurar a Creche da USP da Zona Leste.
Já na Unicamp, no terceiro dia de greve (05), os estudantes realizaram um ato em frente à Reitoria, entregaram o pedido de afastamento imediato e exoneração do professor fascista que tentou esfaquear um diretor do DCE (ver box), juntamente com uma carta de reivindicações. No dia seguinte, a Reitoria foi obrigada a solicitar as imagens do circuito interno de câmeras e emitiu nota anunciando o afastamento do professor e se comprometendo publicamente com a demissão do racista. Também foi estabelecida uma mesa de negociação com os estudantes.
Estas lutas, que ainda estão em curso, já nos dão algumas lições. Em primeiro lugar, fica evidente que a juventude e o nosso povo estão com muita disposição para lutar, cabendo, portanto, aos comunistas e aos movimentos organizarem esta revolta.
Segundo, mesmo com as greves ainda em andamento, sua legitimidade e eficácia como ferramenta de luta está mais do que comprovada. Em poucos dias, os estudantes conquistaram vitórias gigantescas, além de passarem por um processo de tomada de consciência de seu poder que, com certeza, mudou suas vidas para sempre, tal como previu Lênin em seu texto “Sobre as Greves”: “Durante cada greve, cresce e se desenvolve a consciência de que o governo é seu inimigo e de que a classe operária deve se preparar para lutar contra ele pelos direitos do povo”.
É fato que ainda há muito o que avançar, principalmente em relação à contratação de funcionários e às políticas de permanência. No entanto, as conquistas até aqui demonstram que os estudantes unidos são fortes e que a greve da USP e da Unicamp são vitoriosas!
Matéria publicada na edição nº281 do Jornal A Verdade.