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domingo, 22 de dezembro de 2024

Morre Idibal Pivetta, defensor dos perseguidos políticos na ditadura

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Morreu, nesta segunda (23), o autor, diretor de teatro e advogado brasileiro, Idibal Almeida Pivetta, aos 92 anos. Idibal envolvia todas as atividades em que atuava na militância política e foi um grande defensor dos direitos humanos e da luta contra os crimes da Ditadura Militar Fascista.

Tiago Lourenço | Redação SP 


BRASIL – Idibal Pivetta foi uma das grandes referências da luta contra a Ditadura Militar, tanto no campo da justiça quanto da cultura. Na advocacia teve importante papel durante a ditadura militar fascista, entre os anos de 1968-1980, sendo um dos maiores defensores de perseguidos políticos da nossa história. 

Em 1968, 920 estudantes foram presos após o 30º Congresso da UNE realizado de forma clandestina, Idibal defendeu grande parte. Foi advogado do presidente Lula e do dirigente do Partido Comunista Revolucionário, Edival Nunes Cajá, sequestrado pelos agentes da ditadura em 1978 e último preso político libertado depois de promulgada a Lei da Anistia, em 1979.

Pivetta também foi um dos maiores nomes do teatro brasileiro, sendo um dos fundadores do Teatro Popular União e Olho Vivo na década de 1970, se dedicando à dramaturgia popular e ao teatro de resistência, pioneiro na utilização dos processos de criação coletiva. Para fugir da censura adotou o nome de César Vieira, já que suas obras contestadoras eram consideradas tão subversivas quanto às suas intervenções pelos militantes perseguidos. 

O próprio Idibal foi preso seis vezes. A mais importante foi em maio de 1973, logo após um espetáculo de seu grupo teatral na Vila Catarina, em São Paulo, a mando do fascista Brilhante Ustra sob a acusação de conteúdo subversivo na apresentação artística.

“Fui levado preso e permaneci mais de 90 dias. Fiquei uns 40 dias no DOI-Codi, depois fiquei no Dops e no presídio do Hipódromo. Fui bastante torturado”, conta Pivetta em entrevista à revista da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo (Caasp).

O jornal A Verdade e os movimentos que o constroem se solidarizam pela perda desse importante lutador popular que em vida defendeu outros lutadores e teve importante papel na difusão e produção da cultura popular.

Edival Cajá enviou ao Jornal A Verdade um depoimento sobre a vida e a luta de Pivetta, que reproduzimos abaixo na íntegra.

“Quero comunicar aos leitores do Jornal Verdade, com tristeza, mas também com orgulho. que um grande brasileiro partiu no dia de hoje, dia 23 de outubro de 2023: Idibal Pivetta e/ou Cesar Vieira. Um jurista de excelente qualidade, e um ator, diretor e dramaturgo, escritor premiado no Brasil, em Cuba, na Casa de las Américas, na África e na Europa.

Um dos mais brilhantes advogados do Brasil, que conheceu também os cárceres da ditadura, teve seu escritório de advocacia arrombado pela polícia política, seu sócio preso, Paulo Gerab. Mesmo assim, tão logo saiu da cadeia, assumiu o seu ofício de defender os presos políticos do Brasil.

Esta sua dedicação é histórica, desde o Congresso de Ibiúna, em São Paulo, em 1968, quando ele defendeu quase todos os 900 delegados presos naquele Congresso. Em vários pontos deste país, no sul, no sudeste, no norte e nordeste, Idibal passou a defender os presos políticos sem nunca perguntar se as famílias poderiam pagar ou apresentar uma condição para defender um perseguido político. Exatamente por isso que a polícia política passou a persegui-lo, até prendê-lo. 

Sua peça de teatro no começo era censurada pelo conteúdo político e ideológico. Por isso ele fez um pseudônimo, como se fosse uma outra pessoa, e isso permitiu que seus textos, suas apresentações, fossem apresentadas sem aquela perseguição já clássica, quando se tratava do texto de Idibal.

Companheiro Idibal Pivetta, César Vieira, homem correto, humanista, um revolucionário, um orgulho para o nosso país que em um período de tanto obscurantismo, como foram aqueles 21 anos de ditadura militar fascista, deu um homem intrépido, corajoso, desassustado, disposto a defender a todos e a todas que o procurassem. 

Disposto a fazer um teatro na periferia de São Paulo. Fazer um teatro revolucionário com a produção dos textos, com a encenação, com um cenário absolutamente revolucionário, popular, que o povo compreendia o conteúdo das cenas, se integrava, interagia. Por isso foi tão premiado em diversos lugares do Brasil. 

Então, com tristeza, com sentimento de luto nacional e, ao mesmo tempo, com orgulho imenso da amizade deste companheiro, que já deu entrevista para o jornal A Verdade, que compareceu a diversos eventos, como a inauguração do memorial de São Paulo na antiga sede do DOPS no dia. No início de 2000, em janeiro, lá estivemos, lá ele cantava internacional homenageando Amaro Luiz de Carvalho, de quem também ele foi advogado em São Paulo, em 1969.

Um companheiro que esteve na hora do traslado de Manoel Lisboa, em 2002, no primeiro andar da prefeitura de São Paulo, no Salão Azul, na hora das homenagens a esse grande revolucionário, fundador do Partido Comunista Revolucionário, que foi sequestrado, torturado selvagemente sem entregar uma só informação aos seus carrascos. Ele apoiou o combate à mentira mais vil que eu já vi um Exército fazer, uma instituição fazer, o escondeu em São Paulo, com a fake news, com a fraude, como se ele tivesse morrido em São Paulo, em um tiroteio, quando ele foi assassinado na sede do DOI-CODI do 4º Exército, em Recife.

Então, 30 anos depois, nós, com o apoio dos familiares dos mortos e desaparecidos do nosso Brasil, especialmente da companheira Amelinha, da companheira Susana, do companheiro Ivan Seixas, do companheiro Dermi Azevedo, conseguimos, não só a sua identificação mas o seu deslocamento, com estas homenagens na prefeitura de São Paulo, no Centro Cultural Manoel Lisboa, na calçada da História, na Praça Padre Henrique, em Recife, e finalmente em Maceió, no seu berço, na sua universidade, onde foi rematriculado no Salão Nobre da Faculdade de Medicina, onde o reitor fez a chamada da matrícula aprovada no Conselho Universitário, com a presença do governador Ronaldo Lessa, da prefeita Kátia Born, do ministro de Direitos Humanos de então, o companheiro Nilmário Miranda, do companheiro Valmir Costa, companheiro de infância de Manoel Lisboa, companheiro nosso de combate.

Então fizemos, em todas estas ocasiões, sentimos a presença, a homenagem do companheiro Idibal Pivetta. Então, por isso, nós estamos neste instante fazendo esta homenagem. Todo o movimento por memória, verdade, justiça, reparação e democracia do nosso país neste momento. Ter este sentimento de apreço, de carinho, de imortalidade no companheiro Idibal Pivetta.

Você parte, companheiro Idibal Pivetta, nesse instante, nesse momento, mas ficará o seu exemplo de dignidade ao enfrentar a ditadura, um regime infame e vil. Ficará o seu exemplo de coragem e altivez, de lealdade, de humanismo e de revolucionário.”

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