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sábado, 27 de abril de 2024

Quem paga a conta do aumento das passagens no entorno do DF?

Coma perspectiva de um novo aumento das tarifas (o terceiro em um ano) os trabalhadores do entorno do DF vão pagar 44% a mais no transporte público 

Sara Lins | Águas Lindas de Goiás (GO)


BRASIL – O entorno do Distrito Federal, é uma microrregião composta por 20 municípios dos estados de Goiás e Minas Gerais que compõem a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE – DF). Sua população é composta por mais de 1.3 milhão de habitantes que, em grande parte, tem que se deslocar diariamente para o DF para trabalhar, estudar, acessar serviços etc.

A necessidade de acessar a capital de nosso país, torna-se uma luta diária para aqueles que dependem do transporte público em função dos altos preços e a má qualidade do serviço. São comuns as cenas de passageiros ao lado de ônibus com defeito às margens das estradas que dão acesso à Brasília, na esperança de conseguir chegar aos seus destinos em menos tempo, em trajetos que chegam a durar 3 horas em horários de pico. 

A má qualidade dos serviços se alia à constante ameaça de aumento nas tarifas: em 2023 foram dois reajustes. Em Águas Lindas de Goiás, uma das cidades com as maiores tarifas, a passagem que custava R$ 7,80 passou para R$ 10,00 depois do aumento de 12% em março e de 15% em agosto de 2023. Em nota, a Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário Interestadual de Passageiros (Anatrip) revelou um acordo entre as entidades envolvidas para que haja mais um reajuste na tarifa, de 12% em fevereiro de 2024, totalizando 44% de aumento em menos de um ano.

Irresponsabilidade do governo

Em 8 de julho de 2021 o governo do Distrito Federal (GDF) assumiu a gestão do transporte semiurbano de 11 cidades do Entorno do DF, passando a gerenciar as cerca de 400 linhas que transportam cerca de 175 mil passageiros todos os dias. O convênio que seria vigente durante 15 anos não chegou a ser executado nem por dois anos: o governador Ibaneis Rocha (MDB) desistiu do convênio depois da tentativa de reajuste de 26% em dezembro de 2022 ser barrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido do governo de Goiás, por falta de debate prévio e falta de demonstração da necessidade de tal reajuste. 

Em julho deste ano os trabalhadores da empresa Taguatur em Águas Lindas de Goiás, uma das principais operadoras na região do entorno, fizeram greve reivindicando melhores condições de trabalho e denunciando que estão há três anos sem receber aumento nos salários. As empresas alegam estarem operando “no vermelho”, sem condições de acompanhar o aumento nos custos de manutenção e combustível, e que a situação se agravou depois que o GDF deixou a gestão.

Consequências para o trabalhador

Durante o período de transição da gestão foi implantado o sistema de bilhetagem eletrônica nas linhas, visando melhorar o controle financeiro das empresas e reduzir a circulação de dinheiro nos veículos e aumentar a segurança. No entanto, em vez de facilitar a vida dos usuários fazendo a integração tarifária que já ocorre nas linhas do DF, o dinheiro segue circulando quase na mesma quantidade que antes, e para utilizar o sistema eletrônico cada trabalhador precisa de um cartão separado para cada empresa de transporte, além do cartão para circulação nas linhas do DF.

O valor das passagens do entorno tem impacto econômico em diversas áreas, e afeta diretamente a oferta de emprego à população: os trabalhadores deixam de ser contratados pois o valor do vale-transporte não compensa para os donos das empresas, que preferem dispensar os trabalhadores. Os estudantes de todas as idades também enfrentam dificuldade para acessar educação no DF, pois não há passe livre, os horários de muitas das linhas são restritas a poucas vezes ao dia, fazendo com que seja necessário pegar várias conduções para chegar ao seu destino.

Segundo a ANTT, O transporte semiurbano entre o Distrito Federal e o Entorno não é subsidiado pelo governo e os recursos para manutenção do serviço vêm integralmente das tarifas pagas pelos usuários. Caso esse aumento se concretize, os trabalhadores que precisam se deslocar para o 5 vezes por semana pagando passagem de ida e volta terão um gasto de cerca de R$ 537,00 por mês chegar até a área central de Brasília, o que equivale 40,7% de um salário mínimo (R$ 1.320). 

A classe trabalhadora segue sendo a maior vítima da exploração nas mais diversas áreas. Isso é resultado da privatização dos transportes, afinal, as empresas privadas tem como principal objetivo aumentar seus lucros a partir da exploração da classe trabalhadora. Devemos nos unir para lutar pela estatização e o controle popular sobre os transportes públicos; por um transporte de qualidade que nos forneça a dignidade de desfrutar dos nossos direitos, sem ter que pagar para sermos explorados.

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