Em 2023, na região amazônica estamos testemunhando uma seca histórica em decorrência da lógica capitalista de exploração.
Victor Bravo | São Paulo
BRASIL – Enquanto o mundo está testemunhando eventos climáticos extremos em todas as partes do Brasil, a região amazônica enfrenta uma tragédia sem precedentes: a seca que assola o Amazonas, Rondônia e Acre.
A combinação de calor, desmatamento, queimadas e o fenômeno El Niño criou uma situação explosiva, que está tendo impactos devastadores nas vidas das pessoas e na natureza. Esta não é apenas uma crise climática, mas também uma crise humanitária que expõe as desigualdades e injustiças do sistema capitalista.
A vida na Amazônia sempre foi regulada pelos ciclos naturais de subida e vazante dos rios, mas este ano os rios amazônicos correm o risco de atingir níveis historicamente baixos e, por isso, até 29 de setembro, 19 municípios do Amazonas já se encontravam em estado de emergência.
Segundo a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados e Contratados do Amazonas (Arsepam), a situação das embarcações que prestam serviços em 116 linhas dentro do estado é preocupante. Aproximadamente 90% dessas embarcações estão funcionando com restrições, o que significa que elas estão transportando apenas metade da capacidade de carga e atendendo a apenas 45% do número total de passageiros possível.
O Governo do AM decretou situação de emergência no Estado, afetando mais de 170 mil pessoas, cujo acesso a itens básicos como alimentos e água potável está restrito e as chocantes notícias sobre a trágica morte de pelo menos 125 botos no Lago Tefé, situado na região amazônica do Amazonas, ecoaram com urgência em todo o mundo.
As metrópoles circundantes como Rio Branco (AC), Porto Velho (RO), Manaus (AM) e Belém (PA), estão mergulhadas em uma profunda crise, consequência direta da nefasta fumaça decorrente das queimadas desenfreadas. Esta fumaça asfixia brutalmente seus habitantes, obscurece a visão dos horizontes e empresta um cenário quase apocalíptico às paisagens urbanas.
Em Rondônia, a Defesa Civil emitiu alertas para quatro municípios, apontando riscos à navegação noturna devido à escassez hídrica nos Rios Madeira e Jamari. No Acre, Rio Branco decretou estado de emergência devido à previsão de falta de chuvas regulares por mais dois meses com o nível do Rio Acre em queda.
Essa catástrofe climática, que afeta desproporcionalmente as populações mais vulneráveis, é sinônimo das chuvas extremas que atingiram o sul do Brasil. É um reflexo direto das mudanças climáticas e da exploração capitalista desenfreada.
Crise é generalizada
Os rios, que funcionam como “rodovias” da Amazônia, estão inavegáveis e afetam o transporte de alimentos, medicamentos e outras mercadorias para a maioria dos municípios. A pesca, fundamental para a cultura alimentar da região, está em colapso com rios e lagos secos, resultando em mortes em massa de peixes e botos, afetando toda a cadeia alimentar. A falta de água potável agrava ainda mais a crise.
Além disso, a dependência da geração termoelétrica na Amazônia torna a região vulnerável a apagões e racionamentos de energia devido à escassez de insumos.
É importante ressaltar que as populações ribeirinhas, indígenas, quilombolas e a classe trabalhadora da região são as primeiras a sofrerem as consequências desse desastre. Não podemos discutir a crise climática sem abordar a justiça social, pois os impactos recaem sobre aqueles que menos contribuíram para as emissões de gases do efeito estufa.
Essa seca na Amazônia se soma a uma série de eventos climáticos extremos em todo o Brasil, todos atribuíveis às mudanças climáticas. Os governos dos estados amazônicos não podem mais alegar surpresa, pois cientistas vinham alertando sobre esses riscos desde julho.
Seca e falta de água atingem outros estados
No dia 20 de setembro, crianças indígenas Kaiowá e Guarani das comunidades Bororó e Jaguapiru, em Dourados (MS), imploravam por água em um vídeo que ecoou nas redes sociais. A cruel situação ocorreu em meio a uma semana de calor implacável com alertas meteorológicos indicando temperaturas de até 45 graus que se estenderiam até o final daquele mês.
As comunidades indígenas do centro-oeste e sudeste enfrentam a recorrência da falta de água potável. Essa questão vital perdura há décadas, enquanto os territórios indígenas são sistematicamente destruídos pelo avanço predatório da pecuária, pela poluição, pelo desmatamento desenfreado ou pela contaminação dos rios e nascentes.
A atual situação do solo no Mato Grosso do Sul, marcado por erosões e danos irreversíveis, reflete a voracidade do agronegócio que não apenas rouba terras indígenas, mas também degrada irreparavelmente o bioma Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica.
Enquanto isso, a maior reserva de água doce subterrânea, o Aquífero Guarani também presente nas terras dos Kaiowá e Guarani, permanece negligenciada em meio à voragem capitalista que privatiza tudo e todos, deixando as comunidades indígenas em uma situação desesperadora.
Para acompanhar a situação e dar algum suporte às comunidades Bororó e Jaguapiru, no dia 26 de setembro, o Ministério dos Povos Indígenas tomou a iniciativa de estabelecer um gabinete de crise com o propósito de monitorar a série de violações dos direitos dos guarani-kaiowá que ocorrem na região. Esta medida foi oficialmente anunciada no Diário Oficial da União e tem como principal intuito supervisionar os constantes conflitos que vêm ocorrendo entre fazendeiros e as comunidades indígenas.
A necessidade de mudanças estruturais: o chamado à Revolução Socialista
A seca que assola impiedosamente a Amazônia não é apenas um resultado da crise climática global, ela é um grito desesperado da natureza contra o sistema capitalista que coloca o lucro acima de tudo, ignorando o meio ambiente e a justiça social. O desmatamento desenfreado e as queimadas, responsáveis por quase metade das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, são os sintomas visíveis dessa exploração implacável.
Neste momento crítico devemos reconhecer que as medidas paliativas, embora necessárias, não são suficientes para enfrentar a catástrofe que se desenrola diante de nossos olhos. A verdadeira solução não reside apenas em remediar os danos, mas em desmantelar as estruturas opressivas que perpetuam essa crise.
É urgente adotar o “desmatamento zero” como uma das principais medidas para mitigar os efeitos da crise climática. No entanto, devemos ir além. Devemos abraçar a revolução socialista como a única força capaz de desafiar e derrubar o sistema capitalista que subjuga a natureza e explora as massas trabalhadoras.
É fundamental investir de forma determinada na geração de energia solar distribuída e na agricultura de base ecológica e local. Essas medidas não apenas reduzirão nossa dependência de insumos vindos de longas distâncias e diminuirão o uso de combustíveis fósseis, mas também representarão um passo significativo em direção a uma sociedade mais justa e construída em um pilar de equidade.
Assim, é fundamental compreender que soluções superficiais não são mais suficientes. É chegada a hora de reconhecer que, para efetuar as mudanças estruturais cruciais para a preservação da Amazônia e do nosso planeta, escapando do abismo provocado pelo capitalismo, precisamos unir forças com os povos indígenas, comunidades ribeirinhas e campesinatos, em aliança com a classe trabalhadora, especialmente os trabalhadores industriais, em direção ao caminho da revolução socialista.
O desmatamento zero vai ser conseguido quando já não exista nenhum arvore em pé para derrubar. Então esse não deveria o objetivo.
Se tem que inverter o processo é isso só se consegue reflorestando.
Se há uma lei de proteção ambiental a exploração se dá de forma criminosa,
Sobretudo, pelas facçoes que atuam no tráfico
De drogas e de armas e extração do mogno, cedro e outras madeiras, além cômputo e outros minérios preciosos. Por que o Estado não combate o crime organizado que atua diretamente nessas frentes? Existe algum agente público envolvido (governadores,
Deputados, juízes, senadores, desembargadores, ministros, presidente da república) ? É muita negligência para culpar tão somente o capitalismo.