A medida visa incentivar a participação de dois grupos que historicamente tem dificuldade de estar na cena das batalhas e RAP.
DJay | Belém*
CULTURA – O espaço que os homens têm na cena do hip hop é bem diferente do que as mulheres têm, principalmente nas batalhas de rima, dificilmente vemos mulheres, pessoas LGBTIA+ batalhando. O que se vê, com ampla frequência, são rimas que são machistas, homofóbicas e que afastam essas pessoas desse ambiente, afinal qual o incentivo para que estejam? Como estar em um local em que se fala mal de quem você é?
Para combater a falta de espaços inclusivos e incentivar a participação, a organização da Batalha do CAN desenvolveu um sistema de cotas que priorize, dê protagonismo e crie um ambiente saudável para todas, todes e todos. Assim surgiu a proposta onde 4 vagas nas edições serão de prioridade para mulheres e pessoas LGBTIA+, eliminando a barreira que é o sorteio que ocorre antes do início de cada batalha.
As cotas servem para que se priorize essas pessoas. Quando há prioridade se mostra que deve existir a inclusão, que temos um papel para fazer, que não é só uma batalha. Hoje na cena ainda temos pouca representatividade.
O único exemplo de MC travesti em Belém é a Yara MC (mulher preta trans/travesti de Marituba e que está no estadual) mas não a vemos incluída em outras batalhas. Sua participação na Trans Batalha foi muito elogiada, ela rimou e conquistou seu espaço.
Com o sistema de cotas é possível garantir também as pessoas que vêm de muito longe para rimar, como de Barcarena, Castanhal, Santa Bárbara, entre outros municípios. O deslocamento para essas pessoas é o primeiro desafio, vir demanda tempo e dinheiro, então se a pessoa vem, se inscreve e não é sorteada, gera um efeito desanimador, por isso confirmar antes já é um incentivo para que estejam presentes.
Recentemente houve a edição da Batalha João e Maria, na Batalha da São Cristóvão, uma edição de duplas e a prioridade eram duplas mulheres. Somente quando não tivessem mulheres suficientes poderiam ser duplas com homens ou somente homens. Lua, que rimou pela primeira vez nessa batalha, disse que se sentiu à vontade para rimar nesse espaço: “Esse é um exemplo de que estamos sendo priorizadas, que querem que a gente esteja, porque isso a gente não vê na maioria dos espaços, então a gente vê esse ponto, queremos incluir as minorias, acolher e confirmar as pessoas para rimar”.
*DJ da Batalha do CAN e militante da Unidade Popular