Estado do Rio de Janeiro sofre com a falta de água e energia elétrica após privatizações

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Nos últimos dias, diversas cidades em todo o estado do Rio de Janeiro sofreram com a falta de serviços básicos com água e energia elétrica. Essa situação é fruto de uma política neoliberal de desmonte dos serviços públicos estatais e de privatizações em massa de empresas públicas.

Rômulo Rodrigues, Renan Correia e Higor Carneiro | Petrópolis e São Gonçalo


Nos últimos dias, diversas cidades em todo o estado do Rio de Janeiro sofreram com a falta de serviços básicos com água e energia elétrica. Essa situação é fruto de uma política neoliberal de desmonte dos serviços públicos estatais e de privatizações em massa de empresas públicas, sendo vendidas, principalmente, para grupos estrangeiros, como a Enel, principal fornecedora de energia do estado.

O descaso dessa companhia privada e estrangeira fez com que diversas famílias tivessem que jogar fora alimentos do mês inteiro por falta de refrigeração. Também foram relatados danos a aparelhos eletrônicos domésticos como geladeiras, ventiladores e lâmpadas. Milhares de pessoas foram obrigadas a se deslocar para casa de parentes e buscar fontes de energia em shoppings e terminais rodoviários.

Essa situação aconteceu, principalmente, em duas localidades do estado: a Região Serrana e a região de São Gonçalo e Niterói. Durante as temporadas de chuva, em especial, cidades dessas regiões sofrem com as consequências da falta de planejamento urbano, de políticas habitacionais e com a precariedade de serviços básicos. Desta vez, ficou claro que as empresas privadas de fornecimento de água e energia elétrica estão ainda menos preparadas para eventualidades.

 

Niterói e São Gonçalo

Os municípios de Niterói e São Gonçalo ficaram sem luz após uma forte tempestade de chuva, rajadas de vento e descargas atmosféricas. A fornecedora de energia elétrica Enel, que atende a região, declarou na segunda-feira, às 18:00, que o serviço havia sido normalizado, mas apesar disso ainda ocorriam diversas denúncias sobre falta de energia de moradores na noite do dia.

A Enel associa a falha em seu serviço e a demora em seu restabelecimento apenas devido ao temporal que acometeu a região, porém dados compartilhados pelo próprio portal da empresa mostram uma outra realidade. No terceiro trimestre de 2023, a empresa declara ter tido um lucro líquido de 137 milhões de reais apenas com os 66 municípios que atende no Rio de Janeiro, mas a população que é condicionada a ser sua cliente não vê esses ganhos exorbitantes serem revertidos em qualidade do serviço, como por exemplo o enterramento da fiação elétrica, poda regular de árvores e aumento no efetivo de pessoal para manutenção, o que já evitaria grande parte da calamidade pública.

Os poderes públicos da região estão pressionando a Enel. A Prefeitura de Niterói ajuizou uma ação contra a empresa para priorizar os reparos e a câmara de vereadores de São Gonçalo está em tratativas para abertura da CPI da Enel, porém, até então, nada indica que a empresa será devidamente penalizada, mesmo após ter causado danos significativos a milhares de famílias.

Em São Gonçalo, moradores realizam manifestação denunciando os péssimos serviços prestados pela Enel. Foto: Reprodução

Região Serrana

Durante a madrugada de 18 de novembro, fortes chuvas e ventanias atingiram cidades da região, causando interdições em vias, queda de árvores e postes, destelhando casas, prejudicando a operação de ônibus e principalmente deixando a maior parte das cidades sem energia elétrica e abastecimento de água. 

A Enel, empresa privada responsável pelo abastecimento de energia elétrica e conhecida pelo péssimo atendimento, informou que 84% de seus clientes foram afetados. Enquanto a Águas do Imperador, responsável pelo abastecimento de água na cidade de Petrópolis (cidade mais afetada) informa que o serviço somente retornaria gradativamente entre os dias 20 e 21/11. 

Por conta dessa situação, que se estendeu até segunda-feira (20), a população foi às ruas para manifestar contra o péssimo serviço dessas empresas, fechando as principais vias e rodovias das cidades. A BR-040 foi fechada em ambos os sentidos por manifestantes em diversos pontos como os quilômetros 43 (Areal) , 81 e 79 (Petrópolis). Enquanto em Petrópolis, diversas vias importantes que cortam a cidade foram fechadas por manifestantes dos bairros da Posse, Pedro do Rio, Itaipava, Duchas, Floresta, Araras, Alto da Serra, Rua Noêmia e diversas ruas do centro da cidade.

Na cidade de Areal, bairros como Vila Adelaide e Cedro, também estavam sem abastecimento de energia elétrica até segunda-feira (20), e moradores interditaram a BR-040 no quilômetro 43. A Polícia Rodoviária Federal foi ao local para liberar a passagem de carros e houve relatos de tiros para o alto com o intuito de ameaçar e intimidar manifestantes. Na cidade de São José do Vale do Rio Preto, no bairro Parada Morelli, moradores realizaram protestos já no domingo (19) a noite pela falta de energia e com a falta de solução do problema, novas manifestações voltaram a ocorrer no local no dia seguinte.

Privatizações promovem desmonte do Brasil

O péssimo serviço prestado por empresas como a Enel revelam a forma com que o neoliberalismo ataca nosso povo. Na cidade de São Gonçalo também temos o exemplo da Águas do Rio, concessionária privada de água e esgoto, que comprou partes da Cedae com propostas falaciosas de melhoria no serviço ofertado e diminuição do valor pago pelo. No entanto, a realidade é um abastecimento mais escasso e contas mais altas. Outro exemplo, é a na cidade do Rio a companhia de luz Light, que deixou os moradores da comunidade da Rocinha sem luz por 48 horas.

As diversas manifestações que aconteceram no estado demonstram não só a insatisfação da população, também traz à tona a grande contradição que são os serviços essenciais para a nossa vida em sociedade sendo controlados por empresas privadas. Este método neoliberal determina as suas ações e investimentos a partir da lucratividade, assim controlando quem tem acesso a água, energia entre outros serviços.