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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Onda de calor escancara problema das escolas de lata em São Paulo

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Escolas “provisórias” de lata são abandonadas por sucessivos governos e prejudicam o aprendizado devido às ondas de calor e falta de isolamento acústico

Lucas Carvente* | São Paulo


EDUCAÇÃO – São Paulo passou em novembro por uma onda de calor, onde as temperaturas ficaram 5°C acima da média do mês e bateram a maior temperatura já registrada no município, chegando aos 38°C.  Esse problema escancarou outro há muito não resolvido no Estado de São Paulo, as escolas de lata (montadas com containers de zinco), que deveriam ser “provisórias”.

Na rede municipal da capital, a prática se iniciou na gestão Pitta (1997-2000) e começaram a ser substituídas apenas na Gestão de Marta Suplicy (2001-2004), em conjunto com a construção dos CEUs (Centros Educacionais Unificados), em 2007 foi desmontada a última escola de lata durante a gestão de Gilberto Kassab.

Na rede estadual, por sua vez, a construção se iniciou na gestão de Mário Covas em 1998, essas escolas foram denominadas “escolas padrão Nakamura”, para dar um aspecto de mais legitimidade, escondendo a “lata”. O modelo Nakamura era constituído de chapas de zinco, tendo um aspecto menos provisório que os contêineres de suas antecessoras, porém o problema de desconforto térmico e falta de isolamento acústico em salas lotadas com crianças e adolescentes gritando permanecia.

Segundo estudos da USP Ribeirão Preto, a temperatura abaixo dos telhados de zinco, em uma das cidades mais quentes do estado, chegava a 60ºC. Em 2003, o atual vice-presidente e à época governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, prometeu que até 2007 todas as escolas de lata seriam substituídas, promessa não cumprida.

Segundo dados de 2019, havia 65 escolas de lata no estado, onde estudavam 65 mil alunos, sendo 32 na capital e 17 dessas na Zona Sul. Na periferia do extremo sul o problema se evidencia, pois a maioria dessas escolas se encontra à beira da represa Billings, causando o desconforto térmico não apenas no calor como também no frio.

Foi no distrito de Parelheiros que a EE Prof.ª Renata Menezes dos Santos (antiga Barragem II), escola mais distante da capital sofreu um incêndio em 2014, transferindo os alunos para a EE Joaquim Álvarez Cruz, a unidade paralisou seus serviços em 2020.

Também na Zona Sul escolas como a E.E Jardim Moraes Prado I, EE Prof.ª Claudirene Aparecida José da Silva (antiga Jardim Moraes Prado II) e a EE Otoniel Assis de Holanda, foram “maquiadas”, recebendo pintura e alvenaria na área externa, com o interior do prédio se mantendo de chapas de zinco.

Umas das últimas escolas a passarem pelo processo de “maquiagem” foram as 3 localizadas no Jardim Gaivotas (Distrito do Grajaú), as escolas EE Prof. Antônio Cândido de Mello e Souza (antiga Loteamento das Gaivotas I), EE Loteamento das Gaivotas II e EE Prof. Benedito Célio de Siqueira (antiga Gaivotas III), que passaram em 2022 pelo mesmo processo de alvenaria no exterior, pintura e instalação de cobertura e refletores nas quadras com o interior de lata mantido.

O jornal A Verdade entrevistou 2 ex-alunas da EE Prof. Benedito Célio, Amanda Vanessa e Eduarda Silva e uma professora que preferiu não se identificar (usaremos o nome Maria), sobre a situação.

JAV – Como é a situação de temperatura na escola? Isso atrapalha a aprendizagem?

Eduarda – Infelizmente era atordoante, principalmente na época do calor tinham dias em que não havia água nas torneiras para enchermos as garrafinhas d’água, e aproximadamente 30 alunos numa sala pequena, levando em consideração que a maioria dos ventiladores não funcionam, e em períodos extremamente frio os alunos levavam mantas para se aquecerem, um amontoado de latas que fornecia educação, um teto de lata para se chamar de escola.

Amanda – Olha, estudar no Gaivotas era sempre muito desconfortável. No calor, de tarde era muito calor, e no frio era muito frio, às vezes o clima na escola era mais extremo do que na rua ou em outro ambiente. Por sorte, eu nunca tive problemas no frio em quesito de roupa, no calor, as meninas sempre sofreram mais. Os meninos iam de bermuda, mas, a gente não poderia nem considerar um cropped, as meninas, mesmo muito novas, sempre lidam com uma sexualização precoce e principalmente na escola que não lida com isso de uma maneira correta nunca.

Prof.ª Maria – Foi muito difícil, calor excessivo, sem ventiladores ou apenas um funcionando, alunos e professores suando, sem contar a falta de bebedouros refrigerados.

Com certeza esse tipo de escola atrapalha a aprendizagem, pois os alunos têm dificuldade de concentração devido ao calor, os professores esgotados e muitas vezes passando mal. No caso do Benedito houve uma “reforma”, onde colocaram um suporte para ar-condicionado e até hoje nada, apenas falta de ventiladores, até na sala dos professores.

*Professor da rede estadual na zona sul da capital paulista e coordenador estadual do MLC

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