O Movimento de Mulheres Olga Benário denuncia o descaso da USP em implementar políticas públicas de combate à violência contra as mulheres. Considerada a “melhor universidade da América Latina”, a instituição sofre com a falta de serviços e equipamentos para proteger a vida das estudantes e sua permanência estudantil.
Movimento de Mulheres Olga Benário – Núcleo USP (São Paulo)
MULHERES| Durante o mês de agosto e setembro de 2023, militantes do Movimento de Mulheres Olga Benário do núcleo da USP contataram os serviços USP Mulheres e a Diretoria de mulheres, relações étnico-raciais e diversidades da PRIP (Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento) para poder saber quais são as atividades desses serviços e seus planos futuros para garantir a vida das mulheres estudantes.
Foram realizadas ligações para o USP Mulheres em diferentes horários e dias da semana – na sexta-feira às 18h, segunda às 18h30 e quarta-feira às 17h – sendo que nenhuma foi atendida. A falta do atendimento pode ter sido pelo fechamento permanente deste serviço no final do ano de 2022.
Também ligamos para a PRIP às 13h30 em uma sexta-feira, na qual fomos atendidas, porém foi solicitado que enviássemos um e-mail formalizando o pedido de saber melhor a atuação da PRIP para as mulheres estudantes. A resposta, após três semanas, afirma que a Diretoria ainda está estruturando um grupo de trabalho e que em breve teria mais informações:
“Boa tarde! Agradecemos seu contato e a pedido do diretor de Mulheres, Relações Étnico-Raciais e Diversidades da PRIP, comunicamos que em breve teremos mais informações disponíveis à comunidade no site da PRIP. Aproveitamos a oportunidade para compartilhar que um Grupo de Trabalho está sendo estruturado para propor e planejar ações de médio e longo prazo sobre as questões de gênero e das mulheres. O grupo atuará também no enfrentamento à violência de gênero e em perspectiva interseccional”.
Uma solicitação foi enviada ao site da Ouvidoria, mas as respostas eram inconclusivas.
USP tem diversos casos registrados de violência sexual
Pode-se notar que não foram poucas as tentativas de obter respostas e que o diálogo foi dificultado e as respostas vazias. Sendo o Brasil o país que ocupa o 5º lugar entre os que mais matam mulheres no mundo, o combate à violência contra a mulher deve ser urgente em todos os espaços públicos.
Em 2014, a CPI dos Trotes chegou a mais de 100 casos de violência sexual registrados na USP. E entre 2013 e 2018, 130 casos foram contabilizados pelo Jornal do Campus.
Esses dados mostram que a USP é uma universidade que historicamente foi palco para diversos tipos de violência de gênero contra as estudantes, mas sempre se manteve omissa ou distante dos casos.
Isso se reflete na falta de medidas tomadas pela instituição. Mesmo quando tem esses serviços, estes passam por diversos tipos de enfraquecimento sem um corpo técnico especializado, localização física e canais institucionais claros de comunicação.
Uma questão de permanência estudantil
Para o Movimento de Mulheres Olga Benário e as estudantes da USP, esse cenário apresenta um descaso da instituição com a vida das estudantes ao não apresentar meios equipados que possam acolher, encaminhar e acompanhar a vítima, o que reflete diretamente na permanência estudantil.
É, portanto, nesse contexto que se faz necessária a mobilização para pressionar as diversas instâncias administrativas e combater os problemas crônicos de naturalização da violência de gênero na universidade.